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quarta-feira, 4 de julho de 2018

CONTRA OS NEO-PAGÃOS



Traduzido do inglês por Marcelo D. Prati
Revisado por André O.A. Muniz

Extraído de “Grundisse” por Julius Evola

É talvez apropriado destacar os mal-entendidos no corrente momento em alguns círculos radicais, que creem residir a solução na direção do neo-paganismo. Tais mal-entendidos já são visíveis no uso dos termos “pagão” e “paganismo”. Eu mesmo, tendo usado tais expressões como slogans num livro que publiquei na Itália em 1928 e na Alemanha em 1932, tenho sentido sincero arrependimento.
Certamente a palavra para pagão ou bárbaro, aparece em alguns antigos escritos em latim, como Lívio sem nenhuma conotação especialmente negativa. Mas isso não altera o fato de que com a chegada da nova fé, a palavra paganus se tornou decididamente uma expressão depreciativa, tal como foi usada pelos primeiros apologetas cristãos. Ela deriva de pagus, significando um pequeno povoado ou vilarejo, assim, paganus se refere ao modo de pensar do camponês: sem cultura, primitivo e supersticioso. De modo a promover e glorificar a nova fé, os apologetas tinham o mau hábito de elevarem-se através do rebaixamento das demais crenças. Ocorria uma constante, consciente e sistemática, depreciação e deturpação de quase todas as tradições mais antigas, doutrinas e religiões, que eram agrupadas numa desdenhosa colcha de retalhos - chamada de paganismo ou tribalismo. Com esse fim, os apologetas obviamente fizeram um esforço premeditado para ressaltar tais aspectos das religiões e tradições pré-cristãs que estavam em falta de qualquer caráter normal ou primordial, mas que eram claramente formas que já haviam caído em degradação. Tal procedimento polêmico guia, particularmente, à caracterização de tudo que precedia ao Cristianismo, e que seria portanto não-Cristão, como necessariamente anti-Cristão.
Pode-se considerar então que esse “paganismo” é um conceito fundamentalmente tendencioso e artificial que pouco corresponde à realidade histórica da qual o mundo pré-cristão fazia parte, longe dos novos e decadentes elementos e aspectos que derivaram de restos degenerados de culturas mais antigas.
Uma vez que tenhamos esclarecido tal questão, chegamos hoje a uma constatação paradoxal: a de que esse paganismo imaginário, que nunca existiu, mas que foi inventado pelos apologetas cristãos, está agora servindo de ponto de partida para certos círculos que se denominam pagãos e corre o risco de pela primeira vez na história vir a se tornar uma realidade - nem mais nem menos que isso.
Quais são os principais traços do panorama pagão atual, como os próprios apologetas creem e os declaram ser? O primeiro de todos é o aprisionamento à Natureza. Todo aspecto transcendente é completamente desconhecido para a visão pagã da vida: ela permanece trancada numa mistura de Espírito e Natureza, numa unidade ambígua de Corpo e Alma. Não há nada para sua religião além de uma supersticiosa deificação de fenômenos naturais, ou de energias tribais promovidas ao status de deuses menores. Fora disso surge, primeiro de tudo, um tipo de particularismo atado ao sangue ou ao território. Em seguida vem a rejeição dos valores de personalidade e liberdade e uma condição de inocência que é meramente aquela do homem natural, ainda não desperto para qualquer chamado verdadeiramente supranatural. Além dessa inocência, não há qualquer carência de inibição, “pecado” e prazer de pecar. Em outros domínios não há nada além de superstição, ou uma puramente profana cultura de materialismo e fatalismo. É pensado que apenas a chegada da cristandade (ignorando certos precursores que são descartados como insignificantes) é que permitiu o avanço da liberdade do mundo supranatural, permitindo a entrada da graça e personalidade, em contraste com as crenças fatalistas e atadas à natureza atribuídas ao “paganismo”, trazendo com isso o ideal católico (em seu etimológico senso de universalidade) e um dualismo sadio, que fez tornou possível o subjugar da Natureza por uma lei superior e para o “Espírito” o triunfar sobre a lei da carne, sangue e falsos deuses.
Essas são as características principais da noção comum de paganismo, ou seja, de tudo aquilo que não implica numa visão de mundo especificamente cristã. Qualquer um que possua alguma familiaridade com história cultural e religiosa, mesmo que elementar, pode ver o quão incorreta e unilateral é tal atitude. Além disso, entre os primeiros pais da igreja, há frequentemente sinais de uma compreensão superior dos símbolos, doutrinas e religiões das culturas precedentes. Aqui daremos apenas uma amostra.
O que mais distinguiu o mundo pré-cristão, em todas as suas formas normais, não foi a divinização supersticiosa da natureza, mas uma compreensão simbólica dela, em virtude disso (como tenho frequentemente enfatizado) todo fenômeno e todo evento se mostra como a revelação sensível de um mundo suprassensível. A compreensão pagã do mundo e do homem era essencialmente marcada pelo sacro simbolismo.
Além disso, o modo de vida pagão absolutamente não era o de um inocente irracional, nem um abandono natural das paixões, mesmo que certas formas disso fossem obviamente degeneradas. Já se estava ciente de um dualismo sadio, que se reflete em sua religião universal ou concepções metafísicas. Aqui podemos mencionar a dualista religião-guerreira dos ancestrais arianos iranianos, já discutidos e familiares a todos; a antítese helenística entre as “duas naturezas”, entre o mundo e o submundo, ou a nórdica entre a raça dos Ases e os seres elementares; e por último, os indo-arianos e o contraste entre o samsara, o “fluxo das formas” e a mukti, “liberação” e “perfeição”.
Nisso, todos as grandes culturas pré-cristãs compartilharam o empenho por uma libertação supranatural, ou seja, por uma perfeição metafísica da personalidade e todas elas reconheciam Mistérios e iniciações. Já tenho destacado que os Mistérios frequentemente significam a reconquista de um estado primordial, a espiritualidade das raças solares, hiperbóreas, na fundação de uma tradição e de um conhecimento que foi escondido através de sigilo e exclusividade da contaminação de um meio já em decadência. Também já vimos que no Oriente, a qualidade de um ariano já era associada com um “segundo nascimento” alcançado através da iniciação. Quanto a inocência natural, bem como o culto pagão ao corpo, isso é um conto de fadas sem evidências mesmo entre os selvagens, apesar da falta de diferenciação interna já mencionada em conexão com as raças “próximas da natureza”, tais pessoas inibem e restringem suas vidas através de incontáveis tabus de uma maneira muitas vezes mais estrita do que a moralidade das assim chamadas “religiões positivas”. E quanto ao que parece uma visão superficial que corporifica tal “inocência”, a saber, o ideal clássico, de que não havia um culto ao corpo: isso não pertence a esse lado da dualidade corpo-espírito, mas a um outro lado. Como já afirmado, o ideal clássico é aquele onde o Espírito é tão dominante que sob certas condições espirituais favoráveis, ele molda o Corpo e a Alma à sua própria imagem e desse modo atinge uma perfeita harmonia entre o interior e o exterior.
Por último, existe uma aspiração para além do particularismo encontrado em todo lugar no mundo “pagão”, que foi graças aos agrupamentos imperiais na fase ascendente das raças derivadas dos nórdicos. Tais agrupamentos eram frequentemente reforçados e refinados metafisicamente e apareciam como consequências naturais da expansão do ancestral conceito de Sacro Estado; também pela forma através da qual a presença vitoriosa do “mundo superior” e o princípio paternal e olimpiano buscava manifestar a si mesmo no mundo mutável. Nesse respeito devemos recordar do antigo conceito iraniano de Império e de “Rei dos Reis”, com sua doutrina associada do hvarenu (a “glória celestial” com a qual os regentes arianos eram dotados) e a tradição indo-ariana do “Rei do Mundo” ou cakravarti, etc., até o reaparecimento de tais significantes nas premissas “olimpianas” da antiga ideia romana de Estado e Império. O Império Romano também tinha seus conteúdos sagrados, os quais foram sistematicamente mal compreendidos e subestimados não apenas pela cristandade, mas também pelos escritores da história “positiva”. Até mesmo o culto ao imperador possui um senso de unidade hierárquica ao topo de um panteão, que eram séries de cultos ancestrais e territoriais separados pertencentes aos povos não romanos, os quais eram abertamente respeitados desde que os mantivessem dentro dos limites da normalidade. Finalmente, referente à unidade “pagã” dos dois poderes, espiritual e temporal, isso está muito longe de significar que eles estavam fundidos como uma raça “solar” o compreenderia, isso expressa os direitos superiores que devem advir de uma autoridade espiritual no centro de qualquer estado normal; portanto, isso era algo bastante diferente da emancipação e “supremacia” de meramente um Estado secular. Se fôssemos fazer similares alterações no espírito de verdadeira objetividade, as possibilidades seriam esmagadoras.

MAIS MAL-ENTENDIDOS SOBRE A VISÃO DE MUNDO “PAGÔ

Tem-se dito que existe a possibilidade de transcender certos aspectos do Cristianismo. Mas algo deve estar bem claro: o termo latino transcendere significa literalmente abandonar algo conforme se sobe, não conforme se desce! Vale repetir que o ponto principal não é a rejeição do Cristianismo; a questão não é demonstrar a mesma incompreensão sobre o Cristianismo que ele próprio tem mostrado e amplamente continua a demonstrar, sobre o paganismo. Seria melhor considerar uma questão de preencher, de completar a cristandade por meio de uma mais elevada e mais ancestral herança, eliminando alguns de seus aspectos e enfatizando outros, aqueles mais importantes, nos quais essa fé não necessariamente contradiz os conceitos universais da espiritualidade pré-cristã.
Isso, infelizmente, não é o caminho tomado pelos círculos radicais que temos mencionado. Muitos desses neo-pagãos parecem ter caído numa armadilha deliberadamente armada por eles mesmos, frequentemente terminando em advogar e defender ideias que mais ou menos correspondem ao particularismo pagão inventado e atado à natureza, ausente de luz e transcendência, que foi a criação polêmica da má compreensão cristã do mundo pré-cristão, o qual é baseado, no máximo, num punhado de elementos esparsos daquele mundo em seu declínio e involução. E como se isso já não fosse bastante, as pessoas frequentemente recorrem a uma polêmica anticatólica, a qual independente de sua justificativa política, quase sempre traz à tona e adapta os antigos clichés de característica puramente moderna, racionalista e iluminista que têm sido usados pelo Liberalismo, Democracia e a Franco-Maçonaria. Esse também é o caso, a um grau, com H. S. Chamberlain e aparece novamente em certo movimento italiano tentando conectar o pensamento racial com a doutrina “idealista” da imanência.
Há uma tendência geral e inequívoca no neo-paganismo a criar um novo e supersticioso misticismo, ,baseado na glorificação da imanência, da Vida e da Natureza, o que está em nítido contraste com o ideal olimpiano e heroico das grandes culturas arianas da antiguidade pré-cristã. Isso indicaria muito mais uma guinada na direção de um lado materialista, maternal e telúrico, se não se exaurisse num nebuloso e diletante filosofar. Para dar um exemplo, poderíamos perguntar, o que exatamente significa essa “Natureza”, que para tais grupos é de tanto interesse? É de pouca utilidade destacar que certamente não é a Natureza que foi vivenciada e reconhecida pelo homem antigo, tradicional, mas uma construção racional do período enciclopedista francês. Foram os enciclopedistas que, com motivos definitivamente subversivos e revolucionários, inventaram o mito da Natureza como “boa”, sábia e salutar, em oposição da podridão de toda a “Cultura” humana. Assim podemos ver que o mito de natureza otimista de Rousseau e dos enciclopedistas marcha no mesmo nível que o “direito natural”, o universalismo, o liberalismo, humanitarismo e a negação de qualquer forma positiva e estruturada de soberania. Além disso, o mito em questão não possui absolutamente nenhuma base na história natural. Todo cientista honesto sabe que não há espaço para a “Natureza” na estruturação de suas teorias, que possuem como objeto de determinação de equivalências puramente abstratas e relações matemáticas. Na medida que pesquisa biológica e genética são levados em consideração, podemos já ver o desequilíbrio que pode ocorrer no momento em que alguém toma certas leis como definitivas, quando elas apenas se aplicam a um aspecto parcial da realidade. Aquilo que as pessoas chamam de “Natureza” hoje não tem nada a ver com o que a natureza representava para o homem tradicional, solar, ou de acordo com o conhecimento que estava acessível a tal homem graças à sua posição olimpiana e régia. Não há nenhum sinal disso em qualquer um dos que advogam esse novo misticismo.
Incompreensões mais ou menos do mesmo tipo, surgem no que diz respeito ao pensamento político. O paganismo é aqui frequentemente usado como sinônimo de um conceito meramente mundano e exclusivo de soberania, que inverte as relações. Já vimos isso nos estados do passado, quando a unidade de dois poderes significou algo bem diferente. Ela proporcionou a base de espiritualização da política, enquanto o neo-paganismo resulta, na verdade, na politização do espiritual, desse modo ameaçando novamente o falso caminho dos galicanos e jacobinos. Em contraste, o conceito ancestral de Estado e Império sempre mostrou conexão com a ideia olimpiana.
Devemos pensar na atitude que diz respeito ao Judaísmo, Roma, Igreja Católica, Franco-Maçonaria e Comunismo como sendo mais ou menos a mesma coisa, apenas porque suas pressuposições diferem do pensamento simples popular? O pensamento do povo ao longo dessas linhas ameaça perder-se no escuro, onde não é mais possível fazer qualquer diferenciação. Ele mostra ter perdido sua genuína simpatia pela hierarquia de valores e que não é capaz de escapar da escolha entre as alternativas aleijadas do internacionalismo destrutivo e do particularismo nacionalista, já que a compreensão tradicional de Império é superior a ambos esses conceitos.
Limitando-nos a um único exemplo: o dogmatismo católico efetivamente preenche um papel preventivo proveitoso ao impedir o misticismo mundano e semelhantes erupções inferiores de passarem de certa fronteira; ele constrói uma forte barragem que protege a área onde o conhecimento transcendente e os elementos genuinamente supra-naturais e não humanos reinam - ou ao menos deveriam reinar. Alguém pode bem criticar o modo como tal transcendência e conhecimento tem sido compreendido no Cristianismo, mas não se pode levar isso na direção de uma crítica “profana” que se prende a alguma arma polêmica ou outra, fantasiando sobre a suposta natureza ariana da doutrina da imanência, de “religião natural”, culto da “vida”, etc., sem realmente perder o nível: em suma, não se pode, desse modo, atingir o mundo de seres primordiais, mas sim aquele da contra-tradição ou dos modos de ser telúricos e primitivos. Esse seria, de fato, a melhor maneira de reconverter tais pessoas com os melhores talentos “pagãos” do Catolicismo!
Deve-se ser cauteloso para que não se caia nos mal-entendidos e erros que mencionamos, os quais basicamente servem apenas para defender o inimigo comum. Deve-se tentar desenvolver a capacidade de colocar-se no nível onde a confusão didática não é capaz de alcançar e onde o diletantismo e arbitrariedade intelectuais estão excluídos; onde se resiste energicamente a toda influência advinda dos desejos confusos e apaixonados e do agressivo prazer nas polêmicas; onde, finalmente e fundamentalmente, nada mais conta além do preciso, estrito, objetivo conhecimento do espírito da Tradição Primordial.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O Navegar como símbolo heroico

Julius Evola

Tradução: Marcelo D. Prati 

Se existe uma característica das novas gerações, essa é a superação do elemento “romântico”; o retorno ao elemento épico.
Não interessam mais palavras, complicações psicológicas e intelectualistas, mas sim ação. E o ponto fundamental é este: que, em oposição ao que é próprio dos fanatismos e dos desvios “esportivos” das raças anglo-saxãs, as nossas novas gerações tendem a superar o lado puramente material das ações, tendem a integrar e clarificar tal lado com um elemento espiritual, tornando, mais ou menos conscientemente, naquele agir, que é um liberar-se, um tomar contato real e não estético e sentimental, com as grandes potências das coisas e dos elementos.
Agora, há ambientes naturais que mais particularmente propiciam tais possibilidades libertadoras e reintegradoras da épica e da ação, e são a alta montanha e o alto mar, com os dois símbolos do ascender e do navegar. Aqui, pela via mais imediata, a luta contra as dificuldades e contra os perigos materiais, se faz meio para alcançar simultaneamente um processo interno de superação, para completar uma luta contra elementos que fazem parte da natureza inferior do homem e que devem ser dominados e transfigurados.
Algumas gerações de superstição positivista e materialista têm feito com que tantas belas e profundas tradições da antiguidade sejam sepultadas no esquecimento, ou ainda que sejam tomadas unicamente como objetos de curiosidade erudita; ignorando e fazendo ignorar o significado superior sobre o qual tais estão sempre suscetíveis e que pode ser sempre novamente desperto e renascido.
Isso, por exemplo, se pode dizer sobre o antigo simbolismo da navegação, que é um dos simbolismos tradicionais mais difusos em todas as civilizações pré-modernas, que pode ser encontrado com características de uma estranha uniformidade, que nos faz pensar o quão universais e profundas devem ter sido certas experiências espirituais ante às grandes forças desses elementos. E sobre isso não cremos inoportuno fazer aqui alguma menção:
O navegar - e em particular o atravessar as águas tempestuosas - tem sido tradicionalmente exaltado ao valor de símbolo, enquanto nas águas, como águas do oceano ou águas correntes, figuraram sempre como o elemento instável, contingente da vida terrena, da vida sujeita a decadência, ao nascimento e a morte - e foi, além disso, e mais particularmente representado o elemento passional e irracional que altera essa mesma vida. Se a terra firme, sob um primeiro aspecto, se vale como sinônimo de mediocridade, de existência pávida e pequena, pousada sobre certezas e sustento, cuja estabilidade é completamente ilusória - o abandonar a terra firma, o voltar-se para o vasto, o afrontar intrepidamente a corrente ou o alto-mar, portanto, o “navegar”, surge espontaneamente como o ato épico por excelência, não apenas em sentido imediato, mas também no sentido espiritual.
O navegador se apresentou, então, como sinônimo de herói e de iniciado, como sinônimo daquele que, abandonando o simples “viver”, deseja ardentemente o “mais que viver”, num sentido de um estado superior à decadência e à paixão.
Surge então o conceito da outra terra firme, aquela verdadeira, que se identifica com a mesma metade do “navegador”, com a conquista que é aquela mesma épica do mar: e a “outra margem”, é a terra primeiramente desconhecida, inexplorada, inacessível, dada pelas antigas mitologias e pelas antigas tradições com os símbolos mais variados, entre os quais é, contudo, tão frequente, aquele da ilha, imagem para a firmeza interior, par aa calma e o domínio daquele que felizmente e vitoriosamente “navegou” portando-se entre as ondas ou a impetuosa corrente, mas sem dela tornar-se presa.
O atravessar de uma grande corrente a nado ou como piloto de um navio era fase simbólica fundamental naquela assim chamada “iniciação real” que se celebrava nos Eleuses. Jano, a antiga divindade da romanidade, deus dos começos e ainda, em sentido eminente, da iniciação daquela “nova vida”, era também o deus do navegar; tinha entre suas insígnias características, o navio. E tal navio de Jano, como também duas duas chaves são passadas depois para a tradição católica, figurando na nave de São Pedro e de modo geral no simbolismo da função pontífice. Agora, se poderia observar que o próprio termo pontifex, nas antigas etimologias romanas, significava o “fazedor de pontes”; que pons contudo, arcaicamente, significava também via e como “via” vinha também correlacionado ao mar, e a Ponte vem a ser chamada dessa maneira por nenhuma outra razão que não essa. Onde vemos como que através de uma trama oculta, mesmo em palavras e signos, hoje quase não mais compreensíveis, são transmitidos elementos da antiga concepção do navegar como símbolo.
No mito caldeu do herói Gilgamesh, encontramos um exato fac-simile daquele do Hércules dórico que colhe o fruto da imortalidade do jardim das Hespérides, tendo atravessado primeiro o mar, sob a guia de Atlante, o titã. Também Gilgamesh enfrenta a via do mar, zarpa seguindo a via ocidental, ou seja, a via atlântica, na direção de uma terra, ou ilha, onde ele busca “a árvore da vida”, enquanto o oceano é comparado significativamente às “águas obscuras da morte”. E se nos deslocarmos na direção do oriente e do extremo oriente encontraremos ecos de igual experiência espiritual ligados aos símbolos heroicos e épicos do navegar, do atravessar, do velejar.
Como o asceta budista foi de maneira muito frequente comparado a aquele que enfrenta, corta e vence a corrente, a aquele atravessa, a aquele que navega glorioso contra a corrente, nas águas sendo representado precisamente tudo aquilo que vem da sede animal de vida e prazer, do vínculo do egoísmo e do aprisionamento dos homens = assim, no mesmo extremo oriente se encontra o tema helênico da “travessia” e da chegada na “ilha”, na qual a vida não está mais misturada com a morte: como Avallon ou o Mag Mell atlântico das lendas irlandesas e celtas.
Nos portemos ao Egito antigo e até o México pré-colombiano: direta ou indiretamente encontramos não diferentes elementos. E os encontramos ainda nas lendas nórdico-arianas. A mesma empreitada do herói Siegfried na ilha de Brunhild compreende essencialmente o simbolismo da navegação, da travessia do mar: Siegfried, segundo o Nibelungliedi, é aquele que diz: “As verdadeiras vias do mar me são conhecidas. Eu posso conduzir-vos sobre as ondas.”
Podemos mostrar que a mesma empreitada de Cristóvão Colombo teve mais relações do que aquilo que se conhece com as obscuras ideias sobre uma terra, onde, segundo algumas lendas medievais, se encontrariam “profetas nunca mortos”, sobre um “Elísio transatlântico” que cai precisamente no simbolismo agora dito. Além disso, podemos mostrar porque o conceito do talassocrate, do “senhor dos mares” ou das “águas” muito frequentemente se ligou antigamente com o conceito de legislador num senso superior (por exemplo, no mito pelágico de Minos): poderemos desenvolver a ideia reclusa nas representações daquele “que está sobre as águas” ou “caminha sobre as águas” ou “está salvo das águas” (de Narâyâna a Moisés, a Rômulo, a Cristo) mas tudo isso nos levaria muito longe e talvez retomemos esse assunto em outra ocasião.
Viver não é preciso. Navegar é preciso”. Tal palavra ainda hoje vive, ainda hoje é sentida e configura uma das melhores correntes da nova épica da ação - “Devemos tornar a amar o mar, a sentir a ebriedade do mar, porque vivere non necesse sed navigare necesse est” deve dizer o próprio Mussolini. Mas em tal fórmula, presa em seu aspecto mais alto, não subsiste talvez o eco daqueles antigos significados?
Não subsistirá talvez a ideia do navegar como mais que vida, como atitude heroica, como configuração de formas superiores de existência?
Quem, lá de onde reina o grande, livre sopro da amplidão, onde se sente toda a força daquilo que é sem limite, seja em sua calma poderosa e profunda, seja em sua terribilidade elementar - que sobre mares e sobre oceanos novas gerações saibam dar “epicamente” à existência física do navegar, uma alma metafísica, tanto para conferir conferir ao mesmo heroísmo e à mesma coragem o valor de um meio transfigurante e para ressuscitar assim aquilo que se trancava nas antigas tradições do zarpar e do navegar como símbolo e do mar como via através de algo que não é nem mais e nem apenas humano - isso nos parece um dos pontos mais altos que podem orientar a força de ressurreição ativa na nova Itália.

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Jano

Julius Evola

Tradução: Marcelo D. Prati

Em várias ocasiões, e não de agora, temos sublinhada a oportunidade de integrar o arranjo político existente entre a Itália e a Alemanha com um acordo espiritual, procedente daquilo que entre os dois povos pode existir de comum no fato das tradições e de visões gerais de mundo. Tais elementos comuns espirituais são, contudo, tão numerosos e importantes, quanto mais a nós se refaz às origens e a nós se propõe a considerar o mundo das origens com um olhar diferente daquele racionalista e ignorantemente acadêmico do “cientificismo”. As origens das quais aqui se trata, correspondem à antiga civilização indo-germânica, da qual tanto aquela romana antiga quanto aquela nórdico-germânica são duas ramificações particularmente afins. E o método agora destacado é aquele que nas religiões e nas mitologias antigas não se consideram como superstições, como criações fantásticas ou divinizações de simples fenômenos naturais, mas sim como formas simbólicas e dramáticas de expressões de significados cósmicos, de forças viventes, de princípios metafísicos.

Gostaríamos então de assinalar aqui uma obra alemã recente, perfeitamente relacionada a essa ordem de ideias, porque ela organiza os elementos, segundo os quais temas importantes da antiga religião romana e daquela nórdica vêm a corresponder e a por em evidência um ao outro. Se trata da monografia de Otto Hunt, sobre o antigo deus romano Jano, publicada pela editora Röhrscheid de Bonn. Desde a primeira página desse valioso trabalho, o autor afirma o princípio de que “no processo de exploração da religião itálico-romana, conduzida por via comparativa, é necessário, sobretudo, ter presente, por fins de integração, o ciclo da civilização germânico-alemã”. As pesquisas que seguem confirmam a fecundidade de tal princípio e mostram o alto grau de afinidade existente entre as tradições espirituais dos dois povos, não apenas na essência, mas mesmo em muitos detalhes e nas formas exteriores. Além disso, partindo de tais comparações e de tais pesquisas se acende uma nova luz sobre o significado de umas das divindades mais antigas de Roma, que é precisamente Jano, equivalente a uma verdadeira e própria reavaliação do próprio.

Na opinião oficial dos especialistas, Jano foi o deus especial da porta (ianua), associado a Vesta, a deusa do fogo doméstico. Como deus da porta, Jano foi também a divindade de todo início, por via da correspondência do entrar com o começar. Apenas a especulação do período imperial elevou tal antigo, mas modesto nume ao nível de um criador do mundo.

A pesquisa de Huth demonstra, em vez disso, que tal significado de Jano é, na verdade, o original, devidamente degradado e obscurecido e que na figura de Jano se encontram e sintetizam-se vários motivos de fundamental importância da antiga concepção romana (e de modo geral, ariana) do mundo e da vida.

É já antiga tradição, testemunhada por Varrone e Macrobio, que Jano seja criador (cerus), pai dos Deuses e dos homens, venerado pela antiga estirpe patrícia como o ancestral originário de seu cepo. O conceito de “senhor dos começos” é o elemento primário, a referência à “porta” é o secundário, de peso puramente simbólico. Vários dados dão como certo, contudo, que Jano fosse um deus do ano, uma figuração, ou seja, do ano como manifestação de uma força divina e solar. Como na antiga concepção nórdica, o sol é a “luz dos homens” e a “vida”, que no ano possui seu ciclo, morrendo e ressurgindo, assim o antigo culto romano de Jano cobriu os mesmos significados, a facilmente notável duplicidade de tal deus (Jano bifronte) correspondeu à duplicidade da fase ascendente e descendente do sol; a dupla porta (bem como dupla chave) a ele atribuída estaria em relação com os dois soltícios, “porta do ano”; o posicionamento das festas principais a ele prestadas exatamente nas datas aproximativas do solstício de inverno, ou “Natal”, com o qual na antiguidade se começava o ano, sublinhava o caráter de Jano como “senhor do início”, enquanto seu atributo de deus das fontes e das correntes faria alusão à força vital (as águas geradoras) através do ciclo, o ano cósmico, assim como aquele de uma vida humana. A festa do renovo anual do fogo sacro em Roma, depois da extinção daquele antigo, consagrado a Vesta, companheira de Jano, se baseia no fundo sobre uma repetição desse mesmo significado.

É absolutamente impossível, aqui, não apenas explicar, mas também destacar os muitos outros símbolos, dos quais Huth mostra a íntima conexão com o culto de Jano. Sua pesquisa, de resto, poderia ser ainda mais desdobrada e desenvolvida, sobretudo naquilo que diz respeito ao domínio da iniciação, ou seja, das experiências interiores transcendentes, na qual o simbolismo de Jano (e de sua mesma duplicidade) possui uma parte muito importante. Aqui, a investigação de Huth é um pouco limitada ao fato de considerar sobretudo o simbolismo solar e “anual” do antigo deus romano. A ele, todavia, não escapa que a “porta” e a “passagem pela porta”, possuindo o duplo sentido de um sair e um entrar, de um fim e um início, encarna também a ideia de um morrer e nascer, ou seja, de um “renascer”, no que consistia essencialmente a iniciativa. Por nossa conta acrescentaremos que a dupla chave e a dupla face de Jano tinha relação, dentre outras coisas, com os “Pequenos Mistérios” e os “Grandes Mistérios” da antiguidade mediterrânea, “telúricos” uns, “celestes” os outros: e não é sem interesse destacar que esse símbolo iniciático de Jano, da dupla chave, assim como aquele do “navio” (que não possui apenas o significado de navio que transporta o “sol”, mas também aquele de navio com o qual se completa a simbólica travessia das “águas”) foram sucessivamente assumidos pela Igreja católica.

A porta como “mundus”, na antiga Roma valia também como o local de acesso ao mundo de forças subterrâneas, invisíveis, demoníacas ou divinas, mas em todo caso temíveis por todos os seres mortais. O abrir da porta, o atravessar da porta, que se dava sob o signo de Jano, simbolizava, sob tais bases, em termos gerais, o tomar contato com tais forças, o eclodir da disposição a tais forças: empreitada que poderia ter por consequência tanto a destruição quanto a divinização.

Um rito romano consistia em abrir, ao início de cada guerra, as portas do templo de Jano: rito que se refere à concessão sacral e sobrenatural que a Roma antiga, bem como qualquer outra civilização ariana, possuía sobre a guerra. De Huth não escapa esse ponto tão interessante, ainda que por enquanto não tenha dado todos os possíveis desdobramentos do tema. Abrir as portas do templo de Jano em uma guerra era como proceder a uma evocação elementar, ao desencadeamento, liberação, de forças profundas, sobrenaturais. Entrar em guerra e encontrar-se com tais forças, para o guerreiro e herói, era a mesma coisa: tal como em Roma e em Esparta, como entre os antigos nórdicos e entre os Arianos da Índia. Os caídos celebravam um tipo de sacrifício divino, propiciador de frutos sobrenaturais: mors triumphalis.

O vencedor, por outro lado, surgia como alguém que mesmo vivo “ultrapassou o limiar”, conseguiu, atravessando a glória, uma espécie de iniciação e de renascimento interior. Onde o caráter não militar, mas essencialmente sacro, da cerimonia romana do triunfo, na qual o vencedor se revestia dos mesmos signos da divindade olímpica.

Desejando daqui proceder a novas conexões, jamais se terminaria e acabaríamos por repetir coisas que em vários livros já expusemos mais vezes. Concluiremos então dizendo que estudos, sobre o gênero aqui assinalado, possuem uma importância que em nada deve ser negligenciado: dos antigos mitos e símbolos podem chegar a nós palavras vivas, grandes significados cósmicos, solares e heroicos, quando esses são capazes de fazer vibrar aquilo que em uma raça foi passado à obscura zona do subconsciente, mas que, todavia, é indestrutível, porque está conectado à “tradição”, à força formadora das suas origens.

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O Nome de Itália


Julius Evola

Tradução: Marcelo D. Prati

As antigas tradições estavam de acordo com a afirmação de que o nome de Itália, o qual posteriormente deveria designar toda a península apenina, originalmente designava apenas sua parte meridional. Quanto ao significado da palavra, partindo de várias pesquisas, como aquela do notável romanista Franz Altheim, concluímos com suficiente segurança que Itália significa “o país dos bois” ou dos “touros”. Tal termo não deve contudo ser preso em seu simples sentido literal; dentre outras razões, é pouco provável que o país assim designado fosse caracterizado por uma particular abundância de rebanhos, tão grande que fosse capaz de justificar tal denominação. O tema do touro deve ser, mais que isso, relacionado ao plano religioso. As pesquisas que temos destacado, se referem efetivamente a tal plano. É confirmado, entre tais antigas populações, o culto do deus-touro e a presenta de seu símbolo na arte funerária. Alguns cepos itálicos se consideravam eles próprios como “touros” e usavam elmos com chifres taurinos. Os guerreiros que combatiam portando semelhantes elmos deviam sentirem-se como “touros”. Esses lutavam no signo do deus-touro, o qual não é privado de relações com o próprio deus Marte arcaico: quase imagens diretas daquele deus.
Os relatos sobre o deus-touro na Itália se estendem, além disso, à Etrúria e particularmente à Sardenha, enquanto em Roma existiram traços, por exemplo, o nome de algumas pessoas (a gens Vitellia) e em jogos rituais com touros ou sacrifício de touros – os antigos taurii ludi confirmados por fragmentos de inscrições e oferendas aos deuses inferiores. O conjunto de tais considerações é de particular importância para a história das origens itálicas.
É de fato algo bem conhecido entre os estudiosos de história das regiões que o culto do deus-touro foi comum na mais antiga civilização mediterrânea. Tendo por particular centro Creta (onde se encontra também o modelo dos destacados jogos sacros com os touros: um tipo de corrida ritual pré-histórica), estendendo-se por um lado até ao litoral asiático e tendo do outro lado ramificações que chegam aos Baleares e à própria Espanha.
Aparenta-se assim quase certa a relação da civilização itálica pré-romana, onde ocorre o motivo do deus-touro e onde o mesmo termo “touro” daria nome ao país, ao ciclo daquela antiga civilização “mediterrânea” que precederia a civilização propriamente grega e, de modo geral, indo-europeia. Mas nas pesquisas sobre suas origens, tal constatação não constitui mais que um resultado parcial. Os povos, que de modo mais generalizado foram chamados de itálicos, que se silenciaram depois de Roma, confirmam também um componente étnico diverso, não redutível ao antigo substrato “mediterrâneo”. Tal elemento heterogêneo se conecta com grande probabilidade a migrações pré-históricas, em nossa península.
É mérito do autor acima indicado, Altheim, ter posto em destaque a importância que, nessas pesquisas, possuem as inscrições e desenhos sobre rocha encontrados em Val Camonica. Esses constituem um dos poucos traços, que restam quase intactos, de tais antigas migrações. É incontestável a afinidade de tais traços – falando do estilo e dos tipos de símbolos – com aqueles que se encontram não apenas na Europa central, mas também na arte rupestre sul escandinava. Um ponto particular de merece ser levado em consideração: enquanto na arcaica civilização mediterrânea, a qual foi o próprio deus-touro, o elemento feminino (das mães, das mulheres divinas) teve particular destaque, um certo elemento falta de todo nele, nos traços de Val Camonica e naquelas civilizações nórdicas afins, onde predominam, em vez disso, símbolos solares e astrais. A diversidade dos símbolos deve ter correspondido a uma diversidade étnica; ondas de povos indo-europeus devem ter adentrado àquela, que era a “terra dos touros”, como expoentes de um espírito diferente.
Ao próprio Altheim se deve o esboço de um interessante paralelismo. Foi o movimento dos povos ilírios que provocaram a migração dos cepos que, em ondas sucessivas, adentraram à Grécia e à área do Egeu, criando, de encontro às antigas formas “mediterrâneas”, ou em interferência com essas, a civilização propriamente helênica. A última de tais ondas foi aquela dórica e a sua conclusão foi Esparta. Assim, o mesmo movimento dos ilírios, que avançaram também na região do Veneto, forçando os cepos já imigrados na Itália, os quais conectamos aos traços de Val Camonica, a uma nova marcha na direção do Sul. Tem-se então na Itália, um análogo da migração dórica. E como essa se conclui com Esparta, assim a imigração itálica, sendo através de eventos mais complexos e de mais dificultosa reconstrução, se conclui com Roma.
O paralelismo que diz respeito a dureza de vida, de ética guerreira, de virtude viril, incontestavelmente existente entre Esparta e a mais antiga Roma, parece convalidar “a posteriori” tal sugestiva hipótese. Por um ciclo, ao mesno, por obra de Roma, a Itália não seria uma província da arcaica civilização “mediterrânea” do deus-touro e das divindades femininas ligadas à terra. Se Roma reaviva partes notáveis da antiga herança itálica, a essas imprime uma forma própria e suscita um espírito diferente. Como na Grécia, e também, em parte, por influência grega, dos deuses da terra e das profundezas inferiores, a ênfase foi mudada lentamente na direção daqueles luminosos do céu e do Estado - até o período de sua decadência.


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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O Natal Solar

Julius Evola

Traduzido do italiano por Marcelo D. Prati


Dentre os outros, dois resultados, não em pouco tempo devem conduzir a doutrina da raça a um plano espiritual: em primeiro lugar, com um retorno às origens, essa deve trazer de volta à luz os significados mais profundos das tradições e dos símbolos, que foram obscurecidos no curso dos milênios, dos quais sobreviveram não mais que fragmentos esparsos, deteriorados em costumes e festas convencionais. Em segundo lugar – e não sem relação a isso – a doutrina da raça deve despertar a sensibilidade para uma concepção vivente de mundo e da natureza, para limitar o poder daquela racionalista, profana, cientificista e fenomenicista, que seduziu o homem ocidental por séculos até hoje. E, sobre tal senso vivente e espiritual das coisas dos fenômenos, os melhores pontos de referência podem ser dados, sobretudo das concepções “solares” e heroicas, que as mais antigas tradições arianas possuíam precisamente.
Bem poucos suspeitam que as festas atuais, que ainda hoje, no século dos arranha-céus, do rádio, dos grandes movimentos de multidões, se celebram e tanto as cosmópoles quanto as trincheiras, máquinas de guerra e massas combatentes, dão continuidade a uma tradição remota, que nos leva a tempos quando, num período próximo da aurora da humanidade, se iniciou o movimento ascendente da primeira civilização ariana; uma tradição na qual, contudo, se exprime menos uma crença específica dos homens, que a grande voz das mesmas coisas.
Desejando aqui dizer algo sobre isso, antes de qualquer coisa, vamos relembrar um fato que por muitos é ignorado, quero dizer, que a origem da data do Natal e aquela do início do novo ano coincidiam, não sendo essa uma data arbitrária, mas conectada com uma precisa ocorrência cósmica, no solstício de inverno. O solstício de inverno cai justamente em 25 de dezembro, que é a data do Natal conhecida desde então, mas que em suas origens, possuía um significado essencialmente “solar”. Ele aparece ainda na Roma antiga: a data natalícia na Roma antiga era aquela do ressurgir do Sol, deus invencível – Natalis solis invicti – Assim, como diz do sol novo – dies solis novi – na época imperial se iniciava o ano novo, o novo ciclo. Mas tal “natal solar” de Roma do período imperial, por sua vez, remonta a uma tradição ainda muito mais remota, de origem nórdico-ariana. Do mais, o Sol, a divindade solar surge já entre os dii indigetes, ou seja, entre as divindades das origens romanas, recebidas dos ainda mais longínquos ciclos de civilizações. Na realidade, como diremos, a religião solar do período imperial, em larga medida, possuiu o significado de uma retomada e quase de um renascimento, infelizmente alterada por vários fatores de decomposição, de uma antiquíssima herança ariana.
Mesmo a pré-história itálica pré-romana é rica de traços do culto solar: carros solares, discos, discos radiados, estrelas radiadas, cruzes de todo tipo, sem excluir as cruzes gamadas gravadas, por exemplo, em machados arcaicos descobertos em Piemonte e na Ligúria. Dessa maneira se pode constatar a passagem, na Itália antiquíssima, da mesma tradição que deixou, desde a idade da pedra, traços semelhantes ao longo de todo o itinerário das grandes migrações ário-ocidentais e nórdico-arianas. Símbolos, signos, hierogramas, notações calendárias ou astrais rudimentares, figurações sobre vasos, armas ou ornamentos, enigmáticas disposições de pedras rituais ou de cavernas, depois, mais tarde, ritos e mitos sobreviventes em civilizações tardias, se estudados segundo os novos pontos de vista próprios à investigação espiritual e racial do mundo das origens, oferecem ainda testemunho concordante e unívoco não apenas sobre a presença de um culto solar unitário como centro da civilização dos povos arianos primordiais, mas também sobre a importância especial que nesse possuía a data “natalícia”, vale dizer, aquela do solstício de inverno, o 25 de dezembro.
A fim de evitar equívocos, será contudo, bom recordar a uma certa classe de leitores, os quais, nesta sede já tivemos a chance de notar, vale dizer, que falando de um culto solar pré-histórico não se deve em nenhum momento pensar em formas inferiores de uma religião “naturalística” ou idolátrica. É uma estupidez pensar que a antiga humanidade e sobretudo a grande raça ariana divinificasse supersticiosamente os fenômenos naturais – a verdade é o contrário disso, que a antiguidade concebia os fenômenos naturais essencialmente como símbolos sensíveis de significados superiores, espirituais – assim, mais ou menos como espontaneamente sustentados oferecidos aos sentidos pela natureza para que fossem capazes de serem contemplados tais significados transcendentes. Que as coisas, entre a parte menos qualificada de um dado povo antigo, às vezes, possam ter ocorrido de outra maneira, tal fato pode ser relacionado, mas evidentemente prova assim pouco, sobre o fato não raro do passar em forma de superstição escrupulosa e detalhada mesmo em alguns cultos cristãos, em certos povos incultos e fanáticos do sul.
Prevenido assim um notável mal entendido, o significado simbólico das expressões arcaicas arianas, como “luz dos homens”, ou “luz dos campos” – landa ljòme – dadas ao sol, deve tornar-se claro e se pode também compreender que exatamente o inteiro curso do sol no ano, com as suas fases ascendentes e descendentes, se apresentassem da mesma maneira nos termos de um grandioso símbolo cósmico. Em tal evento solar, o solstício de inverno constitui uma espécie de ponto crítico, vivido segundo uma particular dramaticidade no período o qual a estirpe ariana originária ainda não tinha deixado as regiões nas quais sobrevinha o clima ártico e o pesadelo de uma longa noite. Em tais condições, o ponto de solstício de inverno – o mais baixo da eclíptica – aparentava como aquele em que a “luz da vida” parecia extinguir-se, tramontar, submergir na terra desolada e gelada ou nas águas ou entre as profundezas das selvas, de onde, contudo, subitamente outra vez se ergue a resplandecer com novo fulgor. Aqui brota uma vida nova, se põe um novo início, se abre um novo ciclo: A “luz da vida”, se reacende. Brota ou nasce das águas o “herói solar”. De além da obscuridade e do gelo mortal vem viva uma liberação. A simbólica árvore do mundo e da vida se anima de nova força. É em relação a todos esses significados que já nos tempos pré-históricos anteriores de milênios à era vulgar, que uma quantidade de ritos e de festas sacras se dispuseram a celebrar a data de 25 de dezembro, como data de nascimento ou renascimento, no mundo assim como no homem, da força “solar”.
Pouco se sabe que mesmo a tradicional árvore de natal, ainda um costume em muitos países e em parte também na Itália, mas na forma de uma atividade infantil ou, no máximo, de boas famílias burguesas, é um eco residual próprio de tal antiquíssima, estrita tradição ariana é nórdico-ariana. Uma tal árvore, extraída de uma “sempre-viva”, semper virens, ou seja, da planta que não morre no inverno, pinho ou abeto, reproduz a árvore arcaica da vida ou do mundo, que no solstício de inverno se ilumina de nova luz, o que é expresso exatamente pelas luzinhas com as quais a adornamos e que são acendidas em tal data. E os “presentes” dos quais tal árvore se enche – hoje meramente regalos para crianças – representam efetivamente o simbólico “dom da vida” pertencente à força solar que nasce ou renasce. Mas o momento em que o semper virens, a planta que não morre, se renova e se ilumina no simbolismo primordial, também aquele, como se diz, o “herói solar” surge das águas do mesmo modo que, segundo um mito continuado até o Medievo gibelino depois de ter tido parte importante nas lendas relativas a Alessandro Magno, a árvore cósmica é também uma árvore “solar”  possuidora de uma íntima relação com a assim chamada “árvore do império” – arbor solis, arbor imperii.
Tal fato nos  leva a considerar um outro aspecto bastante interessante das tradições verbais, pelo qual desejamos particularmente referir-nos à antiga romanidade.
O mithraismo, ou culto de Mithra, como se nota, é a forma tardia assumida pela antiga religião aria-iraniana (mazdea), em uma formulação particularmente adequada a uma mentalidade guerreira. Difundido tal culto na romanidade, sob Aureliano a data do “natal solar” ou solstício de inverno, o 25 de dezembro veio a se identificar com a celebração do Natalis Invicti, ou seja, o nascimento de Mithra considerado como um herói “solar”.
Ao redor do mithraismo em Roma, como se destaca, seria muito superficial, para não dizer grosseiro, falar sic et simpliciter de “importações” ou “influências orientais”: o oriente daquele tempo era uma coisa bastante complexa, na qual figuravam elementos muito heterogêneos – mas dentre esses, indubitavelmente, também partes importantes e incorruptas da herança espiritual dos povos arianos e indo-europeus. No que diz respeito à relação que foi estabelecida entre Mithra e o “natal solar” romano, um notável estudioso pode observar muito corretamente, que isso não é uma alteração, mas em vez disso, é uma renovação do calendário romano segundo o qual seu antigo aspecto astronômico e cósmico que possuía nos tempos primordiais de Rômulo e de Numa e que conferia às festas o significado de grandes símbolos na coincidência das datas de tais com grandes eras da vida do mundo.
Depois disso, é importante examinar o atributo de invictus-aniketos – dado a Mithra – ao herói solar na nova concepção romana. É um atributo “triunfal”. Nas tradições originárias ario-iranianas e afins, esse é o atributo de toda natureza celeste e eminentemente do sol, enquanto a luz que vence as trevas, força luminosa urânica sobre a qual jamais aquelas da noite e da escuridão prevalecerão. Mas em Roma, vemos que o mesmo epíteto invictus torna-se um título imperial, cesáreo e nós sabemos que o mithraismo, mais do que o culto de uma divindade abstrata, torna-se “indutor” – por assim dizer – da mesma qualidade de Mithra nos iniciados, por meio de uma certa transformação de sua natureza. É então, evidente a tendência a compreender também de modo simbólico e analógico o atributo “solar”, de modo a poder fazer valer para o homem e propriamente a demarcar o tipo e o ideal de uma humanidade superior – para não dizer, verdadeiramente, uma “super-humanidade”. Como o sol ressurge, perenemente vitorioso sobre as trevas, de igual maneira, em uma perene vitória interior sobre a natureza mortal e instintiva se traz à completude um ser, que uma mística virtude age, regularmente, eminentemente à função de rei, de líder, de dirigente. É assim que em Mithra, o “herói solar”, foi venerado em Roma um fautor imperii; é assim que se estabelece uma íntima relação do simbolismo solar com as ideias de realeza e de império, em sua mais alta forma.
Tal relação seria destaque particular nas tradições heroicas dos antigos povos arianos, e nós, nesse mesmo local, já falamos dela, tratando da doutrina mística da “glória”. Não desejando repetir, portanto, coisas já ditas, nos limitaremos a relembrar da presença desses mesmos significados na antiga Roma. A victoria Caesaris, ou seja, a mística força triunfal que, no símbolo de uma estatueta, de um César era transmitido a outro, reflete exatamente as mais antigas tradições ario-iranianas em volta da realeza e o assim chamado hvarenô: pois, como já dissemos no artigo relembrando, o hvarenô se vale como uma misteriosa força “solar” de invencibilidade e de “glória” que investe o dirigente, faz desse algo de mais que simples homem e a ele testifica sua certa vitória.
Uma antiga efígie romana de Sol representa esse deus simbólico com a mão direita elevada em gesto “pontifical” de proteção e com a esquerda segura uma esfera, símbolo do domínio universal. Em outra imagem, se vê, contudo, o mesmo deus que transmite o globo ao imperador, junto das inscrições, as quais se referem exatamente à “solaridade”, estabilidade e ao imperium de Roma: Sol conservator orbis, Sol dominus romani imperii. Outro medalhão particularmente interessante possui no centro a imagem laureada do imperador – com a cabeça cingida pelo semper virens, de impecáveis ramos: atrás está o deus solar com a esfera, mas ainda, próximo, uma cruz gamada (que vemos ainda presente também na Roma antiga) e os dizeres: soli invicto comiti – ou seja: ao deus solar, companheiro invencível. Ainda uma imagem – conservada no Museu Capitolino – nos mostra a associação do símbolo do Sol Sanctissimus com a Águia, com o animal fatídico de Roma, que se pensava fosse também aquele, através do qual o espírito transumado dos imperadores mortos vinha simbolicamente carregado da pira funerária no céu. Demonstrações análogas podem ser facilmente multiplicadas. Não é arriscado dizer que esses nos falam de um verdadeiro e próprio “mandato divino solar” qual alma viva daquela função imperial cesárea, que, para nós, no mundo antigo, foi uma espécie de último meneio de significados arcaicos, pouco a pouco perdidos.
Na antiga semana romana, o “dia do sol” era o “dia do senhor” – e esse significado sobreviveu nos tempos sucessivos com o termo de domingo (domenica), vindo de dominus, senhor, assim como na designação germânica sonntag ou em inglês Sunday para o mesmo dia de “festa” se conservou literalmente o significado de “dia do sol” e com isso, o reflexo da antiga concepção solar ariana. Algo da sabedoria dos primórdios parece assim estar conservado, de alguma maneira, na mesma festa anual do Natal, mesmo que a celebração do ano novo esteja dela dissociada. O simbolismo da luz permanece – se recorda, por exemplo, a palavra do prólogo do Evangelho de João: erat lux vera, quae illuminat omnem nominem venientem in hunc mùndum – assim como o atributo de “glória”, que surge um pouco mais abaixo. Em traços monumentais do primeiro período romano o mesmo símbolo da cruz se une àquele solar.

Na tradição ariana e nórdico-ariana e na mesma Roma, o mesmo tema foi uma carga não apenas religiosa e mística, mas sacra, heroica e cósmica ao mesmo tempo. Foi a tradição de um povo, ao qual a mesma natureza, a mesma grande voz das coisas, falou naquela data, de um mistério de ressurreição, de nascimento ou renascimento de um princípio não apenas de “luz” e de nova vida, mas também de um imperium, no senso mais alto e augusto do termo.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Espírito de torcida ou de seita: O que isso tem a ver com Maçonaria

André Otávio Assis Muniz

               A vida é repleta de ironias. É realmente incrível como a maioria das pessoas não consegue enxergá-las. O presente texto não é sobre a ironia em si, mas sobre algumas ironias que parecem passar despercebidas para alguns maçons.
               Convido o leitor a me acompanhar em alguns raciocínios simples que culminarão na tese central que sustento nesse ensaio. Iniciemos pois.

1 – O Espírito de torcida ou de seita

               Qualquer pessoa civilizada, ao se deparar com as cenas grotescas de agressão entre torcidas organizadas de futebol, sente uma repulsa natural, um misto de estupefação com revolta diante de tamanha ignorância e incivilidade. O que essas pessoas estão defendendo? Um clube que nem as conhece? Uma cor de camiseta? Um desenho com o brasão do clube desportivo? Essencialmente, o que muda de um clube para o outro? Não são todos praticantes do mesmo esporte? Não têm essas pessoas muito mais em comum umas com as outras do que diferenças?
               Da mesma maneira, agressões verbais, xingamentos, ataques pessoais, sejam físicos ou psicológicos, motivados por motivos religiosos e ideológicos, são a antítese da tolerância e da convivência entre povos civilizados. Nenhuma pessoa madura, com alguma educação e reflexão, se tornará inimiga de outra pelo fato de ser judia, cristã, muçulmana, ateia, budista, hindu, sikh, ou seja lá de que religião for. Aliás, em geral, o contato com pessoas de religiões e culturas diferentes é uma excelente oportunidade para aprender. Quantas e quantas vezes ouvimos críticas ao fanatismo de algum religioso que ataca outras pessoas por desposarem ideologias diversas da sua? Quantas violências vemos perpetradas por diferenças entre religiões e culturas? Não é isso chocante para nós? Sem dúvida que sim.

2 - O Espírito Maçônico

               A Maçonaria sempre desposou uma visão tolerante e universalista. Sempre advogou a liberdade de consciência e de expressão, sempre esteve contra as imposições, contra as ditaduras ou os amordaçamentos ideológicos. Esse espírito descrito acima, de torcida, de seita, de facções galerianas amotinadas, é o oposto do tipo de civilização defendido pela Maçonaria.
               Seguindo um tipo de ideologia inspirada na tolerância dos filósofos e sábios do Mundo Antigo, que viam as diversas ideologias religiosas e políticas como uma expressão parcial da Verdade e sustentavam que a Verdade Metafísica estava para além das formas e particularidades culturais ou temporais, os maçons foram acusados por grupos intolerantes de “relativistas”, de “tramar contra a Igreja”, de “conspiradores, “satânicos”, “liberais” entre outras coisas.

3 – Começam as ironias

               No Brasil, por exemplo, no início da implantação das Igrejas Evangélicas, a Maçonaria foi a principal defensora da liberdade de culto. Alguns dos primeiros cultos evangélicos no Brasil, pasme o leitor, ocorreram dentro de templos maçônicos e eram os maçons que protegiam pastores, depósitos de Bíblias da tradução de João Ferreira de Almeida (tradução evangélica condenada por Roma) e a paz dos evangélicos que iam congregar, contra a fúria de alguns párocos católicos romanos e irmandades que queriam, a todo custo, impedir a implantação dessas igrejas em território nacional. Hoje, por conta de uma dessas “ironias do destino”, há uma imensa quantidade de igrejas evangélicas a acusar os maçons de “satanistas”, “idólatras”, “filhos das trevas” etc. A principal das acusações também tem lá o seu “quê” de irônico. Dizem essas igrejas que nada que seja “da Luz” precisa ser secreto. Que só as obras “das Trevas” necessitam ser feitas a portas fechadas. Ignoram esses sectários que o cristianismo, até o ano de 313, era clandestino e só celebrado secretamente. As igrejas se reuniam em catacumbas (e nem por isso “adoravam os mortos” ou os “espíritos das trevas”), os cristãos não se declaravam publicamente como cristãos e os seus locais de culto eram conhecidos apenas pelos membros da comunidade. Graças a isso, fizeram diversas acusações a eles. Dentre elas, que praticavam “antropofagia”, que sacrificavam crianças, que bebiam sangue, que adoravam um morto-vivo judeu. Quanta coincidência não?

4 - Ironias intra-muros

               Apesar de haver, por assim dizer, um conteúdo e um simbolismo base geral, já há muito tempo atrás, a Maçonaria começou a ser praticada seguindo padrões e formas diferentes. Cada região, mais ou menos extensa, acabava por ter o seu próprio padrão e suas particularidades, influenciados por pensadores, intérpretes, místicos etc.
               Como é óbvio supor, padrões, costumes, formas e usos acabaram por se condensar em sistemas maçônicos chamados de “Ritos”. Cada Rito dá enfoque em um determinado conjunto de ensinamentos maçônicos e esses ensinamentos, por sua vez, são expressos em seus costumes e símbolos. Por uma necessidade organizacional, esses Ritos passaram a se tornar progressivamente institucionalizados e, para tanto, começaram a surgir patentes, autorizações, regulamentações etc., para a preservação das tradições recebidas. Aí começa o enguiço. Aquilo que, fundamentalmente, servia para unir os Irmãos em torno de um ideal comum, se torna uma causa de raivosas dissensões.
               Já em pleno século XVIII, Fichte escreveu:

               “Por outro lado, a sociedade (Maçonaria) se divide internamente e cessando toda                unidade, os Irmãos separam-se em seitas, que chamam sistemas; acusam-se uns aos outros de heresia, excomungam-se e repetem o jogo de uma igreja que pretende só ela tornar felizes os homens. O venerável Servati pergunta: “E se eu quisesse tornar-me maçom, onde estão os verdadeiros mestres?”. E em seu volumoso livro não sabe dar a resposta. Entrementes, os maçons de todas as cores e distintivos respondem uníssonos: “Em nenhuma, em nenhuma outra parte a não ser conosco.
            Ora, qual é a consequência? O profano, que antes tinha respeito ao menos pelo nome de          IRMÃO, acha agora ridículos os maçons que se perseguem mutuamente e se acusam de                heresia. E recai sobre a Maçonaria algo muito pior que todas as perseguições: o frio                desprezo e a derrisão da gente culta.” (Philosophie der Maurerei, Briefe an Konstant –                Filosofia da Maçonaria, Cartas a Konstant. Tradução de João Nery Guimarães)

               Esses dias atrás, depois de um evento maçônico, comecei a receber prints de uma outra instituição que nos chamava de “mentirosos”, “escroques”, “bandidos”, “falsificadores”, “perjuros”, “estelionatários” e comparava nosso grupo a uma “boneca inflável”. Outra publicação, desse mesmo grupo, nos comparava com uma nota de dinheiro falsa. Isso foi escrito por alguém que se denomina “Irmão” e que, em sua instituição, pratica algo muito semelhante ao que praticamos na nossa. Foi publicado em uma página de instituição que se diz maçônica, em plena internet, aberto, para todo mundo ver. E todo mundo viu, comentou e “printou”. Isso, fora da Maçonaria, é pura e simplesmente, crime de calúnia (imputar a alguém prática tida como crime, ou seja “falsificadores” e “estelionatários”) e de difamação (tornar conhecida uma injúria, algo que afete a honra e a moral subjetiva de alguém, no caso “escroques”, “bandidos” e “perjuros”), e se resolve com denúncia, processo criminal e civil (por dano moral e material).
               Pensando agora, por outro ângulo, a questão seria até relativamente simples se fosse resumida a uma questão legal. No entanto, essas manifestações demonstram um discurso de ódio, um espírito de seita, de torcida, de facção que adere a um líder ou a um discurso e se torna cega para qualquer argumento em contrário. É uma ironia que isso seja praticado dentro de uma instituição que prega tolerância, respeito e liberdade de consciência, não é? O que essas pessoas, que praticam esse tipo de ação, aprenderam com tantos Graus Maçônicos? A ser mais incivilizadas, grosseiras e descorteses? A se inflar com pretensão de serem melhores que as outras por estarem na instituição X, Y ou Z? O que estão defendendo? Seu “clube”?  A cor do seu avental?
               A grosseria de alguns “Irmãos” para com seus semelhantes é chocante. Revestidos com seus paramentos de “autoridade” se tornam detestavelmente arrogantes, pretensiosos de um grande “poder” que só existe em sua imaginação.
               Em um lugar me disseram que se eu não preenchesse tal ficha eu não “existia” para uma determinada Ordem Inglesa. E isso em um tom incrivelmente arrogante. Sério mesmo? Eu sou reduzido a esse papelzinho aí? É essa a “moral”? Reduzir pessoas e suas particularidades a um bolo de fichas? Não preenchi e não preencherei. Prefiro não existir para quem pensa dessa forma.
               Uns tentam diminuir o Rito que os outros praticam, outros desmerecem a instituição X ou Y, e outros, ainda, tentam parasitar o trabalho alheio enquanto louvam a si próprios. E, dessa forma, o espírito de seita, a “torcida organizada do avental” vai se formando, sempre em nome de uma grande e valiosa “fraternidade” e da “moral e bons costumes”.
               Cada um é livre para aderir ao que quiser, ao Rito que quiser, à instituição que quiser sem ter que, para isso, xingar os outros ritos, as outras instituições, ofender pessoas, acusá-las de crimes ou se tornar uma besta selvagem a guinchar e dar coices e patadas.
               Sem aprender a lição mínima de educação e civilidade, ainda que se tenham colados todos os Graus Maçônicos possíveis e imagináveis, o indivíduo não passa de um selvagem, um imbecil grosseiro e pretensioso a exibir títulos vazios, medalhas e aventais que, em sua fantasia, ele acredita serem substitutos suficientes para os valores reais que lhe faltam.
               Incrível como o “óbvio ululante”, nas palavras caras a Nelson Rodrigues, é tão difícil de enxergar.

               Pensemos por algum tempo nisso.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

A Cruz Gamada

Julius Evola

Tradução do italiano: Marcelo D. Prati 


Sobre o signo, que a nova Alemanha elevou a propriamente um emblema, vários autores já escreveram. Se nós aqui retomamos a discussão, é por tratar-se de um ponto de vista especial, considerando essencialmente as tradições primordiais e os significados superiores universais potencialmente contidos naquele símbolo.
De onde vem, primeiramente, a “cruz gamada”? E seria verdade que essa seja o símbolo de um tipo de raça, daquela ariana ou indo-germânica? É o que alguns círculos no século passado pensaram e o que ainda hoje alguns continuam a supor. Ernst Krause e Ludwig Mueller sustentaram exatamente a opinião de que esse símbolo nos tempos antigos estaria presente apenas nos cepos indo-germânicos. Uma tese assim se mostra agora insustentável. Isso se dá pela difusão do símbolo, destacada por pesquisas posteriores. Já em 1896, o americano Thomas Wilson possuía um pedaço de papel, na qual se encontrava claramente uma cruz gamada, até em locais que, como a Califórnia, a Coréia, a Mesopotâmia, a América Centra, o Japão, a África setentrional, etc., não possam seguramente corresponder a antigos assentamentos da raça indo-germânica, a qual naquele tempo era concebida, e não se deve também esquecer que o símbolo em questão se encontra muito antes do surgimento dos alemães e também na pré-história itálica (gravado, por exemplo, em alguns machados rituais encontrados em Piemonte e na Ligúria) e surge na própria civilização romana, chegando a figurar em algumas moedas imperiais.
Além disso, devemos fazer uma consideração inicial, vale dizer que todo símbolo verdadeiro, por natureza, é universal. Assim, por mais que um símbolo possa ser assumido prevalentemente por uma determinada raça ou religião, ele não pode nunca constituir um monopólio dessa. Isso vale para símbolos como o círculo com um ponto central, a estrela de cinco ou seis pontas (que erroneamente se crê um símbolo exclusivamente hebraico), a cruz simples e assim por diante, até a própria cruz gramada ou curvada, como se queira dizer. Se for o caso de se colocar agora o problema a cerca da raça, que, originalmente adotou prevalentemente esse ultimo símbolo, muito mais do que falar-se de raça indo-germânica, indo-européia ou ariana num senso genérico, é necessário referir-se a um cepo humano ainda mais antigo e originário, que alguns chamam de pré-nórdico e que nós designamos como hiperbóreo. Se retrocede assim a muitos milênios antes da era vulgar e, em realidade, não erroneamente alguém já chamou a cruz gamada de das Gletscherkreuz, ou seja, a “cruz dos glaciais”, tal signo incidindo já no fim do período glacial, quando se iniciaram as emigrações da antes citada raça hiperbórea. Tais migrações, na medida em que se é possível reconstituir com certa verossimilhança, explicam em parte a presença da cruz gamada em zonas, nas quais há muito tempo passaram a habitar raças diferentes das descendentes daquele cepo humano primordial. Se pode, portanto pensar que em parte o símbolo tenha sido transmitido, enquanto, em outros casos, pode ter se apresentado através de uma via independente ao espírito humano, através do precisamente citado caráter universal e objetivo de todo símbolo verdadeiro.
E agora vamos ao significado da cruz gamada. As interpretações mais comuns são que esse seja um símbolo solar e símbolo do fogo. Como símbolo solar exprimiria o movimento de rotação do astro diurno. Seria então símbolo do fogo porque sua forma reproduziria aquela dos utensílios de madeira, com os quais antigamente, alguns povos arianos, por confricção, acendiam a chama. Essa é a intepretação mais exterior, que, todavia, pode servir de base para interpretações mais altas, correspondentemente a tal hierarquia de significados que todo verdadeiro símbolo tradicional sempre compreende.
Primeiramente, a cruz gamada como símbolo solar nos conduz ao culto solar. Dessa maneira a encontramos, por exemplo, como signo de Visnhu e em objetos rituais pré-históricos, ligados a cultos “urânicos” (ou seja, celestes), tais como, por exemplo, aqueles relacionados com o relâmpago. Nesse ponto deve-se, porém, imediatamente prevenir o preconceito “naturalístico” – ou seja, a suposição de que as grandes civilizações antigas em seus cultos meramente divinificavam supersticiosamente os fenômenos naturais. É exatamente o contrário que corresponde a verdade, ou seja, que em tais cultos ancestrais os mesmos fenômenos da natureza se valiam como grandiosos símbolos cósmicos para forças rituais – e apenas a tolice “positivista” é que foi capaz de se fazer crer em algo de diferente, não obstante a quantidade de precisos e concordantes testemunhos que, sobre isso, se podem encontrar nas civilizações mais diversas.
Partindo de tal constatação, o culto solar se refere, portanto, a uma força espiritual luminosa, a exatamente aquela pela qual, usando um simbolismo análogo, se podia falar de uma vida, que é a “luz dos homens”. E em figuração romana, a cruz gamada é encontrada associada justamente com a “árvore da vida”. Tal religião da luz, com grande recorrência do motivo “solar” e nas formas mais altas, olímpica, se encontra como característica em todas as principais civilizações arianas criadas a partir do já dito cepo hiperbóreo. Essa se contrapõe ao caráter “telúrico”, demoníaco ou feminino-naturalístico próprio dos cultos das raças não arianas, os quais voltaram sua atenção sobretudo às forças invisíveis simbolizadas pelos elementos da terra, do mundo animal e da vegetação ctônica.
Vamos agora um passo adiante e observemos antes de qualquer coisa, que entre o sol e o fogo divino foi sempre concebida uma íntima relação, confirmada particularmente pelos antigos testemunhos arianos do Oriente e do Ocidente. Em segundo lugar, recordemos a outra relação concebida entre a realiza, a função do império de modo geral, o mesmo caráter de uma super-raça ou raça ou casta dominadora e, de outra parte, o motivo solar. Nas tradições primordiais, aquilo que aparece mais distintamente: encontramos uma mística “solar” da realeza e da glória. Como o agni-rohita, o fogo védico que é “força real conquistadora”, como o paleoegípcio ânshûs, fluido ígneo de força e de vida portado pelos monarcas, assim também o iraniano-ariano hravenô portado por toda a raça ariana, mas concentrado sobretudo em seus líderes, é uma chama celeste, um fogo solar. E Cumont demonstrou que na estatueta dourada , que os Césares passavam de um ao outro como signo do poder, é uma personificação de tal mesma mística e fatídica força, surgida já entre os helenos, aquela do “destino” de uma cidade ou de uma nação.
Baseado em tais ideias, chegamos imediatamente  na certeza de um dos significados superiores próprios ao simbolismo da cruz gamada: essa pode portanto nos direcionar a um princípio que gera fogo e chama, mas num senso superior: é aquela chama e aquele fogo que novamente nos leva ao culto ariano do sol e da luz, é aquele fogo simbólico que teve tanta participação no antigo culto familiar patrizio, é aquele fogo místico, finalmente, que nos líderes e nos soberanos possui sua suprema manifestação. Portanto, no sentido mais alto, a cruz gamada, a “cruz das geleiras” pode ser considerada o misterioso selo da mesma espiritualidade primordial, que passou a manifestar-se e a iluminar-se nas várias castas ou raças dominadoras, afirmando-se diante de forças de cepos inferiores em todo um ciclo de civilizações antigas. Nessa, não pode ser portanto mais que uma distante referência análoga a um instrumento material, que gerava o fogo ou a chama. Em primeiro plano permanece, pelo contrario, o significado sacro e espiritual.
Não desprovido de relação com isso, devemos agora dizer algo sobre a cruz gamada como um “símbolo polar”. Chamamos a atenção para o fato de que, embora tenhamos falado de raças hiperbóreas e de geleiras, aqui não temos a intenção de referir-nos às regiões árticas. Temos em vista, em vez disso, o simbolismo do polo, que, nas tradições originárias é também estritamente ligado com a ideia que se tinha da verdadeira função da realeza. Segundo tal visão, o centro representa a estabilidade, o ponto imóvel em torno do qual se expande o movimento ordenado das forças que dele dependem. Assim lê-se, por exemplo, em Kong-tze: “Aquele que domina por meio da virtude celestial, se assemelha à estrela polar: essa permanece imóvel em seu local enquanto todas as estrelas giram ao seu redor”. Aqui se pode notar a noção aristotélica do assim chamado “motor imóvel” retoma teologicamente a mesma ideia (aquilo que se move sem mover-se): ideia que, além disso, a nossos objetivos, nos interessa retomar em uma particular doutrina ariana, aquela do cakravartí.
O cakravartí representa uma espécie de forma-limite da ideia imperial. É a figura de um “senhor universal” ou “senhor do mundo”, geralmente. O termo, todavia, literalmente significa “aquele que gira a roda” – disso se entende aqui como a roda do regnum, surgindo ele como o centro, polo ou ponto imóvel que sustém o movimento regular dessa. Temos aqui então um tema duplo: de um lado, a ideia de um movimento rotatório, que em certos casos aparece também como movimento irresistível e ardente (de acordo com aquela antiga doutrina, aqueles que são predestinados ao império deveriam ter a visão de uma roda celestial giratória semelhante a um redemoinho); e por outro lado, a ideia “polar”, ou seja, aquela de um ponto imóvel, portanto com algo de sereno, de perfeitamente comandado, de “olímpico”, testemunha de uma natureza superior.
No signo da cruz gamada podemos encontrar exatamente precisamente esses dois elementos. Guénon destaca exatamente que se isso, sob um certo olhar, pode ser considerado como um símbolo do movimento, não se trata contudo do simples movimento, como pretendem alguns, mas sim de um movimento de rotação que se realiza completamente em torno de um centro ou de um eixo imóvel: e o ponto fixo é o elemento essencial sobre o qual se refere o símbolo em questão. O mesmo se deve pensar pois, se tal movimento se referisse ao Sol: não se trata de um simbolismo relativo ao perene evento de nascimento e tramonto da luz, mas de um signo que, para além de tal evento do Sol, vem a conceber essa força também como algo de central, de imutável, de olímpico, ao ponto de chegar, se assim se deseja, a uma antecipação confusa, alcançada através de significados religiosos, da moderna visão copernicana. Tendo isso à parte, se confirmam, no símbolo, os significados já indicados acima. Isso é, também, um símbolo “polar”. Desde a mais alta pré-história, ele ocultava em si mesmo aqueles significados que deveriam desdobrar-se no céu luminoso das mitologias ou das realezas arianas ou quaisquer derivações da assim chamada tradição primordial.
Do mais, se pode destacar que o simbolismo “polar” tradicionalmente se aplicou também a determinadas civilizações ou organizações quando essas, na conjuntura da história encarnaram exatamente o significado dos “centros”. Assim, é notável a todos, por exemplo, que o antigo império chinês se chamava “império do centro”; o monte Meru, que se valia aos Indo-arianos como o Olimpo, como a sede da força divina, foi considerado como o “polo” da terra; o simbolismo assim chamado omphalos, que foi aplicado ao centro da antiga tradição dórico-apolínea da Hélade, em Delfos, nos reconduz ao mesmo significado; A Asgard da tradição nórdico-germânica, considerado como a mística pátria originária dos cepos reais nórdicos até o tempo dos Godos, se identifica com o Mitgard, que quer dizer precisamente sede ou terra do centro. Finalmente, o nome de Cuzco, centro do império solar dos Incas, parece exprimir, como o omphalos dos helenos, a ideia da “centralidade”. São elementos, tais, suscetíveis de interessantes desenvolvimentos num sentido que podemos chamar de uma “geografia sacra”. É importante, em todo caso, constatar a estreita relação dos vários aspectos a uma única ideia fundamental.
De todo modo, voltando ao duplo elemento contido na cruz gamada assim como em signos similares (a roda de três braços que constitui, entre outros, a Trinacria e algumas rosetas de catedrais góticas conservam traços do mesmo simbolismo), podemos confirmar assim o mais alto significado espiritual: a cruz gamada em movimento sensibiliza o dinamismo de uma força turbinosa e ardente (a roda) que gerando luz e fogo, supre a chama “urânica”, a chama solar, enquanto permanece ao centro uma serenidade dominadora, uma estabilidade imutável – aquela que corresponde sobre seu plano, à condição fundamental para todo verdadeiro regere e para toda grande organização das forças da história.
Podemos então perguntar, até que ponto o conhecimento de tais significados superiores e, em gênero, das tradições às quais aqui nos referimos, teve parte na escolha da cruz gamada da parte do nacional-socialismo alemão. Nessa escolha, segundo nós, operou sobretudo um fato de “subconsciência” – e esse não é o único caso no qual, por um instinto obscuro, tenha tornado hoje à luz e adquirido nova vida símbolos das origens, sem estar acompanhado da consciência dos significados mais profundos que neles se contêm. Em processos do gênero, ainda, elementos inteiramente contingentes têm adensado a parte de “causas ocasionais”, parte contudo, que como tal prejudica o valor do resultado apenas do ponto de vista de uma consideração mais superficial. Assim, no caso da Alemanha, não há dúvidas de que o símbolo aqui tratado tenha sido sugerido por algumas correntes anti-judaicas, as quais defendiam como adaptações políticas um tanto quanto simplistas e militantes o mito indo-germânico e ariano naquela forma unilateral, que sobre o plano das pesquisas sérias era já há muito superada. Também quanto aos significados, se Hitler, no momento de escrever o Mein Kampf, acreditou que poderia simbolizar na cruz gamada “a missão de combater pela vitória do homem ariano e pelo triunfo da ideia do trabalho criador, o qual sempre foi anti-judaico”, vê-se que se estava preso a um plano bastante relativo. Sucessivamente, não se esqueceu, na Alemanha, de descrever o símbolo de um ponto de vista não simplesmente político. A consideração, contudo, raramente é levada a significados mais universais que esse: ainda, como sabemos, os alemães nem sempre esclareceram os aspectos mais interessantes da “cruz das geleiras”. No mais, para ser sincero, o mesmo poderia se dizer de alguns símbolos igualmente primordiais, como o machado contido no fascio, tomado pelo fascismo. Parece ter havido algo de novo, um caso de instinto e quase diremos de “raça”, mais do que uma precisa consciência. Será, portanto interessante observar se as circunstâncias e as vocações farão com que sim, também, os conteúdos mais profundos, espirituais, dos signos em questão virão a despertar forças correspondentes e a operar os mesmos na história.

Se sabe que o nome sânscrito para a cruz gamada é svastika (o svastika e não a svastika). Mas o svastika se pode também interpretar como o monograma constituído das letras que compõem a fórmula portentosa su-ast. O conteúdo de tal fórmula indo-ariana equivale a uma aproximação ao latim bene est ou também quod bonum faustumque sit – vale dizer: “que aquilo que é bom e afortunado seja”.  Por tal via, o símbolo em questão contém também o melhor agouro concebido no que diz respeito ao futuro do grande movimento mundial, que as duas nações do Eixo têm suscitado, ressurgindo precisamente no signo do Machado e da “cruz das geleiras”.