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quarta-feira, 3 de agosto de 2016
terça-feira, 2 de agosto de 2016
A Quadratura do Círculo
André Otávio Assis Muniz
Diversos rituais maçônicos dos
Altos Graus fazem referências à “quadratura do círculo”, expressão que soa
misteriosa e paradoxal a muitos Irmãos.
Tentarei explicar, de maneira
simples, do que se trata e quais as relações com a Doutrina Maçônica.
I. O problema na Antiguidade.
A quadratura do círculo foi
proposta como um problema geométrico pelos antigos gregos.
Os geômetras desejavam saber se é
possível construir um quadrado com a mesma área de um círculo qualquer se
servindo de uma régua e de um compasso, usando um número determinado de etapas.
O problema era considerado muito
difícil, mas não impossível.
Anaxágoras, segundo o relato de
Plutarco, se dedicou a tentar resolver o problema enquanto
esteve preso.
Vários métodos foram propostos
para se tentar solucionar o problema, como método de Dinostrato (350 a.E.C.) e a quadratriz de Hipias
(c. 420 a.E.C.).
Em 1882, com a prova relativa ao π (pi),
como número transcendente ( número real ou complexo que não é raiz de nenhuma
equação polinomial a coeficientes racionais), Ferdinand Lindemann estabeleceu a
impossibilidade de se resolver a quadratura do círculo, ou seja, é impossível
construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja
rigorosamente igual à área de um determinado círculo.
II.
O círculo e o quadrado.
O círculo é um ponto
estendido, ou seja, ponto e círculo possuem propriedades simbólicas comuns:
perfeição, homogeneidade, ausência de distinção ou de divisão. O círculo pode
também simbolizar não apenas as perfeições ocultas do ponto primordial, mas os
efeitos criados.
O círculo simboliza o céu cósmico,
particularmente em suas relações com a terra. O círculo, nesse contexto,
simboliza a atividade celeste, sua inserção dinâmica no cosmo, sua causalidade,
sua exemplaridade, seu papel providente. É nessa linha que vai se juntar aos
símbolos da divindade voltada para a criação, cuja vida ela produz, regula e
ordena.
Segundo os textos de filósofos e de
teólogos, o círculo pode simbolizar a divindade considerada não apenas em sua
imutabilidade, mas também em sua bondade difundida como origem, substância e
consumação de todas as coisas.
O círculo é o signo da Unidade de princípio,
e também o do Céu: indica a atividade e os movimentos cíclicos. Sendo assim,
figura os ciclos celestiais, as revoluções planetárias, o ciclo anual
representado pelo zodíaco.
A idéia de “unidade de princípio” evoca
a idéia de harmonia e isso explica a razão pela qual as normas arquitetônicas
se baseiem, frequentemente na divisão do círculo.
O círculo é também símbolo do tempo. Os
babilônios utilizaram-no para medir o tempo: dividiram-no em 360 graus,
decomposto em seis segmentos de 60 graus. A palavra babilônica para círculo,
shar, é a mesma para o universo, o cosmo.
A religião babilônica retirou dessa
idéia a noção de tempo infinito, cíclico, universal, que foi transmitida para a
Antiguidade através da imagem da serpente que morde a própria cauda.
Na cultura celta o círculo tem função e
valor mágicos. Simboliza um limite mágico intransponível. É, ao mesmo tempo,
mágico e celeste.
O quadrado é uma das
figuras geométricas que mais frequentemente são empregadas na linguagem
simbólica. É, junto com o centro, o círculo e a cruz, um dos quatro símbolos
fundamentais.
Simboliza a terra, em oposição ao céu, é
também, em outro nível de interpretação, símbolo do universo criado, antítese
do incriado e transcendente.
O quadrado é figura antidinâmica,
representa a interrupção, o instante retido, estagnação, solidificação. Nesse
sentido, quando empregado em um uso simbólico sagrado, representa a
estabilização da perfeição.
Altares, templos e espaços sagrados
quadrados dão a idéia do mundo material perfectível, que se inscreve no tempo e
no espaço, buscando o pela comunhão com o círculo e seu dinamismo,
homogeneidade e perfeição.
O cubo, ainda mais que o quadrado,
simboliza a solidificação, a estabilidade, a parada do desenvolvimento cíclico,
pois determina e fixa o espaço em suas três dimensões. Corresponde ao elemento
mineral, ao pólo substancial da manifestação.
III.
A união do quadrado e do círculo
O círculo inscrito num quadrado é
um símbolo bem conhecido dos cabalistas. Representa a centelha do fogo divino
oculta na matéria, e que anima a matéria com o fogo da vida.
O círculo combinado com o
quadrado evoca a idéia de movimento, da mudança de ordem ou de nível.
A figura circular, em comunhão
com a figura quadrada, é interpretada pelo psiquismo humano como a imagem
dinâmica de uma dialética entre o celeste transcendente, ao qual o homem espira
naturalmente, e o terrestre, onde ele se situa no momento, onde percebe a si
mesmo como sujeito de uma passagem por realizar a partir de agora.
IV. Compreender e realizar a quadratura do círculo
As referências à quadratura do
círculo nos rituais maçônicos e nos textos tradicionais, de forma geral, trazem
a idéia de “realizar” a quadratura do círculo, de compreender suas misteriosas
relações.
Muitas vezes, as passagens que
fazem tal citação são lidas sem que se preste a devida atenção ao que querem
dizer.
Podemos interpretá-las em dois
níveis: Em um nível moral, contingente, e em um nível superior, puramente
metafísico.
Em um nível moral, a relação da
quadratura do círculo está intimamente ligada ao simbolismo do esquadro e do
compasso, símbolos universais da Maçonaria.
O quadrado é a reta ação,
relacionado ao esquadro e à régua. A ação regulada pela moral maçônica, pelo
bom senso, pela prudência e por todas as virtudes, o “quadrado” da retidão,
deve buscar a perfeição possível e bem calculada dentro dos limites possíveis à
angulação das pernas do compasso, que simboliza o espírito, o raciocínio, a
abertura a uma moral cuja raiz é transcendente, o “círculo”. Dessa forma, o
“quadrado” está limitado pelo “círculo” se busca a ação correta, a
“quadratura”, em acordo com um raciocínio superior, uma abertura ao
transcendente, ou seja, o “círculo”.
Num nível superior, metafísico, a
quadratura do círculo está ligada ao processo de divinização do iniciado. Buscar a identificação e a fusão, a
mesma medida, daquilo que é meramente humano, a quadratura, no transcendente e
metafísico, o Absoluto, o Ser, o círculo.
A identidade entre a Verdadeira
Natureza Transcendente e a natureza humana, limitada, até que ambas formem uma
só e mesma figura, a quadratura do círculo...
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