Julius
Evola
Tradução do italiano: Marcelo D. Prati
Sobre o signo, que a nova Alemanha
elevou a propriamente um emblema, vários autores já escreveram. Se nós aqui
retomamos a discussão, é por tratar-se de um ponto de vista especial,
considerando essencialmente as tradições primordiais e os significados
superiores universais potencialmente contidos naquele símbolo.
De onde vem, primeiramente, a “cruz
gamada”? E seria verdade que essa seja o símbolo de um tipo de raça, daquela
ariana ou indo-germânica? É o que alguns círculos no século passado pensaram e
o que ainda hoje alguns continuam a supor. Ernst Krause e Ludwig Mueller
sustentaram exatamente a opinião de que esse símbolo nos tempos antigos estaria
presente apenas nos cepos indo-germânicos. Uma tese assim se mostra agora
insustentável. Isso se dá pela difusão do símbolo, destacada por pesquisas posteriores.
Já em 1896, o americano Thomas Wilson possuía um pedaço de papel, na qual se
encontrava claramente uma cruz gamada, até em locais que, como a Califórnia, a
Coréia, a Mesopotâmia, a América Centra, o Japão, a África setentrional, etc.,
não possam seguramente corresponder a antigos assentamentos da raça
indo-germânica, a qual naquele tempo era concebida, e não se deve também
esquecer que o símbolo em questão se encontra muito antes do surgimento dos
alemães e também na pré-história itálica (gravado, por exemplo, em alguns
machados rituais encontrados em Piemonte e na Ligúria) e surge na própria
civilização romana, chegando a figurar em algumas moedas imperiais.
Além disso, devemos fazer uma
consideração inicial, vale dizer que todo símbolo verdadeiro, por natureza, é
universal. Assim, por mais que um símbolo possa ser assumido prevalentemente
por uma determinada raça ou religião, ele não pode nunca constituir um
monopólio dessa. Isso vale para símbolos como o círculo com um ponto central, a
estrela de cinco ou seis pontas (que erroneamente se crê um símbolo
exclusivamente hebraico), a cruz simples e assim por diante, até a própria cruz
gramada ou curvada, como se queira dizer. Se for o caso de se colocar agora o
problema a cerca da raça, que, originalmente adotou prevalentemente esse ultimo
símbolo, muito mais do que falar-se de raça indo-germânica, indo-européia ou
ariana num senso genérico, é necessário referir-se a um cepo humano ainda mais
antigo e originário, que alguns chamam de pré-nórdico e que nós designamos como
hiperbóreo. Se retrocede assim a muitos milênios antes da era vulgar e, em
realidade, não erroneamente alguém já chamou a cruz gamada de das Gletscherkreuz, ou seja, a “cruz dos
glaciais”, tal signo incidindo já no fim do período glacial, quando se
iniciaram as emigrações da antes citada raça hiperbórea. Tais migrações, na
medida em que se é possível reconstituir com certa verossimilhança, explicam em
parte a presença da cruz gamada em zonas, nas quais há muito tempo passaram a
habitar raças diferentes das descendentes daquele cepo humano primordial. Se
pode, portanto pensar que em parte o símbolo tenha sido transmitido, enquanto,
em outros casos, pode ter se apresentado através de uma via independente ao
espírito humano, através do precisamente citado caráter universal e objetivo de
todo símbolo verdadeiro.
E agora vamos ao significado da
cruz gamada. As interpretações mais comuns são que esse seja um símbolo solar e
símbolo do fogo. Como símbolo solar exprimiria o movimento de rotação do astro
diurno. Seria então símbolo do fogo porque sua forma reproduziria aquela dos
utensílios de madeira, com os quais antigamente, alguns povos arianos, por
confricção, acendiam a chama. Essa é a intepretação mais exterior, que,
todavia, pode servir de base para interpretações mais altas,
correspondentemente a tal hierarquia de significados que todo verdadeiro
símbolo tradicional sempre compreende.
Primeiramente, a cruz gamada como
símbolo solar nos conduz ao culto solar. Dessa maneira a encontramos, por
exemplo, como signo de Visnhu e em objetos rituais pré-históricos, ligados a
cultos “urânicos” (ou seja, celestes), tais como, por exemplo, aqueles
relacionados com o relâmpago. Nesse ponto deve-se, porém, imediatamente
prevenir o preconceito “naturalístico” – ou seja, a suposição de que as grandes
civilizações antigas em seus cultos meramente divinificavam supersticiosamente
os fenômenos naturais. É exatamente o contrário que corresponde a verdade, ou
seja, que em tais cultos ancestrais os mesmos fenômenos da natureza se valiam
como grandiosos símbolos cósmicos para forças rituais – e apenas a tolice “positivista”
é que foi capaz de se fazer crer em algo de diferente, não obstante a
quantidade de precisos e concordantes testemunhos que, sobre isso, se podem
encontrar nas civilizações mais diversas.
Partindo de tal constatação, o
culto solar se refere, portanto, a uma força espiritual luminosa, a exatamente
aquela pela qual, usando um simbolismo análogo, se podia falar de uma vida, que
é a “luz dos homens”. E em figuração romana, a cruz gamada é encontrada
associada justamente com a “árvore da vida”. Tal religião da luz, com grande
recorrência do motivo “solar” e nas formas mais altas, olímpica, se encontra
como característica em todas as principais civilizações arianas criadas a
partir do já dito cepo hiperbóreo. Essa se contrapõe ao caráter “telúrico”,
demoníaco ou feminino-naturalístico próprio dos cultos das raças não arianas,
os quais voltaram sua atenção sobretudo às forças invisíveis simbolizadas pelos
elementos da terra, do mundo animal e da vegetação ctônica.
Vamos agora um passo adiante e observemos
antes de qualquer coisa, que entre o sol e o fogo divino foi sempre concebida
uma íntima relação, confirmada particularmente pelos antigos testemunhos
arianos do Oriente e do Ocidente. Em segundo lugar, recordemos a outra relação
concebida entre a realiza, a função do império de modo geral, o mesmo caráter
de uma super-raça ou raça ou casta dominadora e, de outra parte, o motivo
solar. Nas tradições primordiais, aquilo que aparece mais distintamente:
encontramos uma mística “solar” da realeza e da glória. Como o agni-rohita, o fogo védico que é “força
real conquistadora”, como o paleoegípcio ânshûs,
fluido ígneo de força e de vida portado pelos monarcas, assim também o
iraniano-ariano hravenô portado por
toda a raça ariana, mas concentrado sobretudo em seus líderes, é uma chama
celeste, um fogo solar. E Cumont demonstrou que na estatueta dourada , que os
Césares passavam de um ao outro como signo do poder, é uma personificação de
tal mesma mística e fatídica força, surgida já entre os helenos, aquela do
“destino” de uma cidade ou de uma nação.
Baseado em tais ideias, chegamos
imediatamente na certeza de um dos
significados superiores próprios ao simbolismo da cruz gamada: essa pode
portanto nos direcionar a um princípio que gera fogo e chama, mas num senso
superior: é aquela chama e aquele fogo que novamente nos leva ao culto ariano
do sol e da luz, é aquele fogo simbólico que teve tanta participação no antigo
culto familiar patrizio, é aquele
fogo místico, finalmente, que nos líderes e nos soberanos possui sua suprema
manifestação. Portanto, no sentido mais alto, a cruz gamada, a “cruz das
geleiras” pode ser considerada o misterioso selo da mesma espiritualidade
primordial, que passou a manifestar-se e a iluminar-se nas várias castas ou raças
dominadoras, afirmando-se diante de forças de cepos inferiores em todo um ciclo
de civilizações antigas. Nessa, não pode ser portanto mais que uma distante
referência análoga a um instrumento material, que gerava o fogo ou a chama. Em
primeiro plano permanece, pelo contrario, o significado sacro e espiritual.
Não desprovido de relação com isso,
devemos agora dizer algo sobre a cruz gamada como um “símbolo polar”. Chamamos
a atenção para o fato de que, embora tenhamos falado de raças hiperbóreas e de
geleiras, aqui não temos a intenção de referir-nos às regiões árticas. Temos em
vista, em vez disso, o simbolismo do polo, que, nas tradições originárias é
também estritamente ligado com a ideia que se tinha da verdadeira função da
realeza. Segundo tal visão, o centro representa a estabilidade, o ponto imóvel
em torno do qual se expande o movimento ordenado das forças que dele dependem.
Assim lê-se, por exemplo, em Kong-tze: “Aquele que domina por meio da virtude
celestial, se assemelha à estrela polar: essa permanece imóvel em seu local
enquanto todas as estrelas giram ao seu redor”. Aqui se pode notar a noção
aristotélica do assim chamado “motor imóvel” retoma teologicamente a mesma
ideia (aquilo que se move sem mover-se): ideia que, além disso, a nossos objetivos,
nos interessa retomar em uma particular doutrina ariana, aquela do cakravartí.
O cakravartí representa uma espécie de forma-limite da ideia
imperial. É a figura de um “senhor universal” ou “senhor do mundo”, geralmente.
O termo, todavia, literalmente significa “aquele que gira a roda” – disso se
entende aqui como a roda do regnum,
surgindo ele como o centro, polo ou ponto imóvel que sustém o movimento regular
dessa. Temos aqui então um tema duplo: de um lado, a ideia de um movimento
rotatório, que em certos casos aparece também como movimento irresistível e
ardente (de acordo com aquela antiga doutrina, aqueles que são predestinados ao
império deveriam ter a visão de uma roda celestial giratória semelhante a um
redemoinho); e por outro lado, a ideia “polar”, ou seja, aquela de um ponto
imóvel, portanto com algo de sereno, de perfeitamente comandado, de “olímpico”,
testemunha de uma natureza superior.
No signo da cruz gamada podemos
encontrar exatamente precisamente esses dois elementos. Guénon destaca exatamente
que se isso, sob um certo olhar, pode ser considerado como um símbolo do
movimento, não se trata contudo do simples movimento, como pretendem alguns,
mas sim de um movimento de rotação que se realiza completamente em torno de um
centro ou de um eixo imóvel: e o ponto fixo é o elemento essencial sobre o qual
se refere o símbolo em questão. O mesmo se deve pensar pois, se tal movimento
se referisse ao Sol: não se trata de um simbolismo relativo ao perene evento de
nascimento e tramonto da luz, mas de um signo que, para além de tal evento do
Sol, vem a conceber essa força também como algo de central, de imutável, de
olímpico, ao ponto de chegar, se assim se deseja, a uma antecipação confusa,
alcançada através de significados religiosos, da moderna visão copernicana.
Tendo isso à parte, se confirmam, no símbolo, os significados já indicados
acima. Isso é, também, um símbolo “polar”. Desde a mais alta pré-história, ele
ocultava em si mesmo aqueles significados que deveriam desdobrar-se no céu
luminoso das mitologias ou das realezas arianas ou quaisquer derivações da
assim chamada tradição primordial.
Do mais, se pode destacar que o
simbolismo “polar” tradicionalmente se aplicou também a determinadas
civilizações ou organizações quando essas, na conjuntura da história encarnaram
exatamente o significado dos “centros”. Assim, é notável a todos, por exemplo,
que o antigo império chinês se chamava “império do centro”; o monte Meru, que
se valia aos Indo-arianos como o Olimpo, como a sede da força divina, foi considerado
como o “polo” da terra; o simbolismo assim chamado omphalos, que foi aplicado ao centro da antiga tradição
dórico-apolínea da Hélade, em Delfos, nos reconduz ao mesmo significado; A
Asgard da tradição nórdico-germânica, considerado como a mística pátria
originária dos cepos reais nórdicos até o tempo dos Godos, se identifica com o
Mitgard, que quer dizer precisamente sede ou terra do centro. Finalmente, o
nome de Cuzco, centro do império solar dos Incas, parece exprimir, como o omphalos dos helenos, a ideia da
“centralidade”. São elementos, tais, suscetíveis de interessantes
desenvolvimentos num sentido que podemos chamar de uma “geografia sacra”. É
importante, em todo caso, constatar a estreita relação dos vários aspectos a
uma única ideia fundamental.
De todo modo, voltando ao duplo
elemento contido na cruz gamada assim como em signos similares (a roda de três
braços que constitui, entre outros, a Trinacria e algumas rosetas de catedrais
góticas conservam traços do mesmo simbolismo), podemos confirmar assim o mais
alto significado espiritual: a cruz gamada em movimento sensibiliza o dinamismo
de uma força turbinosa e ardente (a roda) que gerando luz e fogo, supre a chama
“urânica”, a chama solar, enquanto permanece ao centro uma serenidade
dominadora, uma estabilidade imutável – aquela que corresponde sobre seu plano,
à condição fundamental para todo verdadeiro regere
e para toda grande organização das forças da história.
Podemos então perguntar, até que
ponto o conhecimento de tais significados superiores e, em gênero, das
tradições às quais aqui nos referimos, teve parte na escolha da cruz gamada da
parte do nacional-socialismo alemão. Nessa escolha, segundo nós, operou
sobretudo um fato de “subconsciência” – e esse não é o único caso no qual, por
um instinto obscuro, tenha tornado hoje à luz e adquirido nova vida símbolos
das origens, sem estar acompanhado da consciência dos significados mais
profundos que neles se contêm. Em processos do gênero, ainda, elementos
inteiramente contingentes têm adensado a parte de “causas ocasionais”, parte
contudo, que como tal prejudica o valor do resultado apenas do ponto de vista
de uma consideração mais superficial. Assim, no caso da Alemanha, não há
dúvidas de que o símbolo aqui tratado tenha sido sugerido por algumas correntes
anti-judaicas, as quais defendiam como adaptações políticas um tanto quanto
simplistas e militantes o mito indo-germânico e ariano naquela forma
unilateral, que sobre o plano das pesquisas sérias era já há muito superada.
Também quanto aos significados, se Hitler, no momento de escrever o Mein Kampf, acreditou que poderia
simbolizar na cruz gamada “a missão de combater pela vitória do homem ariano e
pelo triunfo da ideia do trabalho criador, o qual sempre foi anti-judaico”,
vê-se que se estava preso a um plano bastante relativo. Sucessivamente, não se
esqueceu, na Alemanha, de descrever o símbolo de um ponto de vista não
simplesmente político. A consideração, contudo, raramente é levada a
significados mais universais que esse: ainda, como sabemos, os alemães nem
sempre esclareceram os aspectos mais interessantes da “cruz das geleiras”. No
mais, para ser sincero, o mesmo poderia se dizer de alguns símbolos igualmente
primordiais, como o machado contido no fascio, tomado pelo fascismo. Parece ter
havido algo de novo, um caso de instinto e quase diremos de “raça”, mais do que
uma precisa consciência. Será, portanto interessante observar se as
circunstâncias e as vocações farão com que sim, também, os conteúdos mais
profundos, espirituais, dos signos em questão virão a despertar forças
correspondentes e a operar os mesmos na história.
Se sabe que o nome sânscrito para a
cruz gamada é svastika (o svastika e não a svastika). Mas o svastika
se pode também interpretar como o monograma constituído das letras que compõem
a fórmula portentosa su-ast. O
conteúdo de tal fórmula indo-ariana equivale a uma aproximação ao latim bene est ou também quod bonum faustumque sit – vale dizer: “que aquilo que é bom e
afortunado seja”. Por tal via, o símbolo
em questão contém também o melhor agouro concebido no que diz respeito ao
futuro do grande movimento mundial, que as duas nações do Eixo têm suscitado,
ressurgindo precisamente no signo do Machado e da “cruz das geleiras”.