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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O Grau 7 do R.E.A.A. – Preboste e Juiz

Irm. André Otávio Assis Muniz

I. Introdução Geral

Este Grau recebeu diversos nomes em diversos manuscritos diferentes. Ele é um dos mais antigos da Maçonaria Francesa e já era conhecido em Paris desde 1.745 sob o nome de Preboste e Juiz (Prévôt et Juge). Praticado em Metz em 1.761, a antiguidade deste grau é atestada por figurar no Antigo mestrado bordelaise em 1.750 e no Rito de Perfeição e no Grande Eleito de Londres. Se encontram 3 denominações para este grau:
- Perfeito Mestre Irlandês;
- Poderoso Irlandês;
- Preboste e Juiz.
Esta última denominação do grau, a de Preboste e Juiz, faz com que tenha uma denominação dupla, contrariamente aos outros Graus de Perfeição que têm nomes únicos.
Furetière, em seu “Dictionnaire Universel” define o Preboste como um juiz subalterno de cidades e vilas. Esta definição poderá fazer pensar que a dupla designação do grau é um pleonasmo. Na Idade Média, o Preboste tinha a função da administração dos bens e das receitas de um mestre, de um senhor leigo ou eclesiástico. O “Le Dictionnaire du Moyen Âge” considera que o Preboste, além de ter poder judicial, era o representante do rei em uma determinada fração de sua propriedade. No Grau de Preboste e Juiz, no entanto, as duas funções devem ser analisadas com maior cuidado pois aparecem como coisas separadas.
O Preboste detém a chave do cofre com os planos do Templo e a urna contendo o coração de Hiram, enquanto o juiz desempenha sua função utilizando a balança para fazer seus julgamentos.
O candidato a este grau é investido de uma dupla função: ele deve fazer a justiça e é o guardião dos planos destinados aos Mestres Maçons e do coração embalsamado de Hiram.
Este grau ensina que governar e ter responsabilidades de comando implica em conhecer e agir com justiça, equidade e imparcialidade.
O ritual evoca um tribunal que fornece ao Rei Salomão o meio de restaurar a ordem necessária permitindo aos obreiros continuar a construção do Templo interrompida pela desaparição do Mestre.
O bem agir caminha junto com a vontade de uma ação leal e sincera.

II. Tema do grau

É muito importante ter em vista que os graus maçônicos têm como base a fontes diversas e que, tal origem pode deixar bastante misturados os fatos apresentados nas lendas.
Neste grau, o presidente da Loja representa Tito que, ao contrário do que é dito no ritual brasileiro à página 48, de que seria um nome sem “qualquer significado conhecido” possivelmente deriva de um patronímico romano relacionado com o latim titulus, que significa “honrado, respeitável”, ou seja, um nome simbólico para o decano dos Mestres Irlandeses, príncipe dos Harodim, ou chefes e condutores dos trabalhos em número de 3.300, que Salomão estabeleceu sobre os obreiros do Templo, em acordo com o 1º Livro dos Reis, 5, 16 (Biblia Sacra Vulgata, Liber Malachim – III Rg 5,16):

“absque praepositis qui praeerant singulis operibus numero trium milium et trecentorum praecipientum populo et his qui faciebant opus (e também prepostos em número de três mil e trezentos que comandavam as pessoas e supervisionavam o trabalho”).

Já o nome “Zadoc”, é, na verdade, uma corruptela de Tzadek ou Tzadok, que significa em hebraico, “Justo”. Sendo assim, longe de não ter “qualquer significado conhecido”, Tito Zadoc significa Justo Honrado/ Respeitado.
O ritual em uso no Brasil comete mais alguns erros grosseiros em relação ao relato bíblico. Na edição de 2.014, p.47, “A lenda do Grau 7 Preboste e Juiz”, é dito que os operários eram cerca de 3.600 e que Salomão resolveu instituir um tribunal composto de sete Prebostes e Juízes. O relato bíblico diz, no entanto, que o número de supervisores era de 3.300 e que Salomão arregimentou 30.000 trabalhadores de todo o Israel. Além desses, Salomão dispunha de 70.000 carregadores e 80.000 cortadores de pedra nas colinas. Ou seja, 183.300 envolvidos que o ritual reduz a 3.600, cometendo um erro de “apenas” 179.700 trabalhadores no total e de 3.293 prebostes...Seria interessante que os responsáveis pela ritualística do R.E.A.A. tivessem o cuidado de ler as fontes dos relatos contidos nos rituais para que fosse esclarecido, no próprio ritual, que o número 7 é simbólico, e não o número fidedigno ao que se encontra no relato bíblico. Tais inexatidões, caindo nas mãos de conhecedores da Bíblia, passam a impressão de uma Maçonaria inculta e descuidada.
No decorrer da iniciação deste grau, o candidato executa 7 viagens, ou 4, de acordo com a variação dos rituais. No coração de cada uma dessas viagens, é exposto algum meio de bem exercer a justiça. Ele é interrogado sobre a maneira que a concebe, sobre os deveres que deve preencher e sobre suas aptidões para com essa função.
Este grau é, também uma cerimônia de homenagem funerária em memória do Mestre desaparecido. Isto não acontece no ritual atual em uso no Brasil.
O tema da lenda é centrado sobre a construção do Templo relatada no Livro dos Reis e em Crônicas.
Depois da morte de Hiram, Salomão nomeia sete Prebostes e Juízes. Os prebostes são encarregados de examinar os planos elaborados pelos Arquitetos, verificando sua conformidade com os projetos elaborados pelos Grandes Mestres. As reuniões se dão na câmara do meio do Templo. Os planos dos edifícios e as contas devem ser conservados em um cofre de Ébano, cuja chave é conservada pelos Prebostes e Juízes.

III. A moral do grau

O tema moral central do grau é a JUSTIÇA, na decisão e no julgamento.
Todo aquele que é investido com o poder de julgar deve ser imparcial, sem qualquer consideração pessoal à força dos poderosos, ao suborno dos ricos, ou às necessidades dos pobres.
Em nossa época, onde superabundam as informações sem comprovação, os boatos, as intrigas públicas através das redes sociais, o grau de Preboste e Juiz ensina que o maçom deve ouvir pacientemente e pesar cuidadosamente os fatos e argumentos oferecidos. Não deve concluir nada precipitadamente, nem formular opiniões e sentenças antes de ter ouvido a todas as partes envolvidas.
Albert Pike, em sua obra “Moral and Dogma of Ancient and Accepted Scotish Rite”, ensina que nas nossas relações com os outros há dois tipos de injustiça: a primeira é a daqueles que lesam os outros e a segunda é a daqueles que podem prevenir uma lesão nos outros, feita por terceiros, mas não fazem. Dessa maneira, a injustiça ativa pode ser feita de duas formas – pela força e pela fraude, ambas absolutamente repugnantes ao deve social, sendo a fraude a mais detestável.
Outro fato que devemos ter em mente é que a injustiça pode ser reparada, mas nunca desfeita. Podemos nos arrepender, pedir perdão a quem a sofreu, formular o firme propósito de não mais agir de forma injusta etc., mas não podemos desfazer aquilo que já foi feito e cujos efeitos já deixaram as marcas no corpo e/ou na alma.
A Maçonaria, através de seus ensinamentos, refreia as pessoas da comissão de injustiças. Para o verdadeiro maçom, trapacear, levar vantagem no comércio, no foro, na política etc., não é menos culpável do que roubar. Deliberar mentiras não é crime menor que o perjúrio, caluniar não é menor do que usurpar e seduzir para o mal não é menor que o homicídio.
Pensemos em quanta falta faz hoje, à Maçonaria e à sociedade de forma geral, a aprendizagem sincera das lições desse Grau. Quantos “Irmãos” carregados de graus e de títulos, cheios de poderes maçônicos e cargos, só se servem deles para a obtenção das mais profanas vantagens motivadas pelos mais baixos e condenáveis interesses?
Com quanta facilidade e com quanta irresponsabilidade são propagadas fofocas, inverdades, calúnias, injúrias e difamações de maçons para com outros maçons? O que dizer das manobras sujas, das campanhas difamatórias, das trocas de acusações etc., às quais assistimos em cada período eleitoral dentro da Ordem?

IV. O Simbolismo do Grau

IV.1. A balança

Na mitologia grega, Themis, Deusa da Justiça, tem por atributo a balança que permite julgar com equidade. Também Zeus pesa com uma balança o destino dos homens antes de lhes atribuir. No manuscrito da Franco-Maçonaria 76, na Biblioteca Nacional Francesa, a utilização da balança é definida da seguinte forma:

P. O que haveis encontrado na Loja?
R. Uma balança.
P. Que significa ela?
R. A exatidão com a qual devemos desempenhar nossas funções, e a justiça com a qual devemos decidir sobre as diferenças que surgirão entre os obreiros.

Significados complementares são dados por outros manuscritos, entre eles o de Lyon, 5.921-5:

P. Que significa a balança?
R. A exatidão e a equidade com a qual devemos desempenhar nossas funções, pois somos encarregados de finalizar amigavelmente todas as diferenças que surgirem entre os obreiros do Templo sobre os quais nós fazemos inspeção.

O manuscrito de Avignon, 30.083, dá como resposta:
R. Eu farei a mais exata justiça a todos os obreiros do Templo, em conformidade com a balança que me foi dada por emblema.

Um mestre deve se esforçar para fazer a justiça com toda a objetividade e equidade, buscando a verdade em todas as situações. A balança é um símbolo de equilíbrio e exatidão. Atributo do preboste e juiz, se encontra nela o símbolo do nível, que é o emblema do Segundo Vigilante na Loja Azul. A balança exprime a lei do equilíbrio universal de onde os fundamentos de sua estabilidade apresentam a imagem fixa dos dois pratos imobilizados no mesmo nível. Os dois pratos da balança trazem numerosas correspondências simbólicas: como força de polos opostos e complementares. O braço e o eixo da balança formam um “T”; este símbolo faz alusão à coluna do meio da árvore da Sefirotes. Os dois lados do braço representam o rigor ou a força e a misericórdia ou clemência. Este símbolo do “T” se reencontra no sinal do preboste e juiz.
A balança dada por Salomão ao intendente dos edifícios é símbolo de estabilidade, manifestada pela lei do equilíbrio posta em ato através de sua manifestação.

IV.2. A chave de ouro

A chave de ouro é apresenta da como tendo uma dupla função: de um lado, ela dá acesso à urna onde está o coração de Hiram (o plano ideal da perfeição); de outro, ela permite abrir o cofre que contém os planos do Templo, o plano da prática:

P. Que significa a chave?
R. Que somos nós que sabemos onde repousa o coração de nosso respeitável Mestre Hiram.

O simbolismo da chave está evidentemente relacionado com seu duplo papel de abertura e fechamento. É, ao mesmo tempo, um papel de iniciação e de discriminação. O poder das chaves é o que lhe faculta ligar ou desligar, abrir ou fechar. Na terminologia hermética, as chaves aparecem como emblemas da autoridade espiritual e da função régia, também dos grandes mistérios e dos pequenos mistérios. No Japão a chave é também símbolo de prosperidade, uma vez que abre o celeiro de arroz. Possuir a chave significa ter sido iniciado. Indica não só a entrada num lugar, cidade ou casa, mas acesso a um estado, morada espiritual, ou grau iniciático.
Nos contos, como nas lendas, muitas vezes se mencionam três chaves: elas introduzem sucessivamente em três recintos secretos, que são outras tantas antecâmaras do mistério. De prata, ouro ou diamante, elas marcam as etapas da purificação e da iniciação. A chave é, aqui, o símbolo do mistério a penetrar, do enigma a resolver, da ação dificultosa a empreender, em suma, das etapas que conduzem à iluminação e à descoberta.

IV.3. A arca de ébano
A arca é de madeira de ébano, matéria vegetal, caracterizada por sua dureza, sua densidade e sua cor negra. Esta arca contém o segredo da construção pelos planos que detém. Ela evoca a ideia de que o corpo físico do arquiteto está entregue à putrefação depois que a carne deixou os ossos, devido à sua cor negra.
A arca de ébano relembra a terra, destinada a preservar as coisas que merecem ser preservadas, como os tesouros. O simbolismo aqui tem por base dois elementos, o fato de nele se depositar um tesouro material ou espiritual, e o fato de que a abertura da arca seja o equivalente de uma revelação. Aquilo que se depõe na arca é o tesouro da Tradição, um instrumento da sua revelação e da sua comunicação com o céu, e é este o motivo pelo qual os imperadores da China selavam em arcas, no cume do monte Taishan, as súplicas endereçadas ao Soberano Celeste. A revelação divina não pode ser levianamente despida de seus véus. O cofre não pode ser aberto, senão na hora providencialmente estabelecida, e só pelo detentor legítimo da chave. A abertura ilegítima do cofre é cheia de perigos.

V. Conclusão
Há muito mais a se falar e estudar sobre este Grau. No entanto, o atual formato de nossa ritualística impede que haja um tempo maior para se estudar cada grau como deveríamos poder fazer.
Gostaríamos de falar sobre as modificações nos paramentos e outros muitos detalhes que, infelizmente o tempo não nos permite. Convidamos os Irmãos à pesquisa! 

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