Pesquisar este blog

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O Nome de Itália


Julius Evola

Tradução: Marcelo D. Prati

As antigas tradições estavam de acordo com a afirmação de que o nome de Itália, o qual posteriormente deveria designar toda a península apenina, originalmente designava apenas sua parte meridional. Quanto ao significado da palavra, partindo de várias pesquisas, como aquela do notável romanista Franz Altheim, concluímos com suficiente segurança que Itália significa “o país dos bois” ou dos “touros”. Tal termo não deve contudo ser preso em seu simples sentido literal; dentre outras razões, é pouco provável que o país assim designado fosse caracterizado por uma particular abundância de rebanhos, tão grande que fosse capaz de justificar tal denominação. O tema do touro deve ser, mais que isso, relacionado ao plano religioso. As pesquisas que temos destacado, se referem efetivamente a tal plano. É confirmado, entre tais antigas populações, o culto do deus-touro e a presenta de seu símbolo na arte funerária. Alguns cepos itálicos se consideravam eles próprios como “touros” e usavam elmos com chifres taurinos. Os guerreiros que combatiam portando semelhantes elmos deviam sentirem-se como “touros”. Esses lutavam no signo do deus-touro, o qual não é privado de relações com o próprio deus Marte arcaico: quase imagens diretas daquele deus.
Os relatos sobre o deus-touro na Itália se estendem, além disso, à Etrúria e particularmente à Sardenha, enquanto em Roma existiram traços, por exemplo, o nome de algumas pessoas (a gens Vitellia) e em jogos rituais com touros ou sacrifício de touros – os antigos taurii ludi confirmados por fragmentos de inscrições e oferendas aos deuses inferiores. O conjunto de tais considerações é de particular importância para a história das origens itálicas.
É de fato algo bem conhecido entre os estudiosos de história das regiões que o culto do deus-touro foi comum na mais antiga civilização mediterrânea. Tendo por particular centro Creta (onde se encontra também o modelo dos destacados jogos sacros com os touros: um tipo de corrida ritual pré-histórica), estendendo-se por um lado até ao litoral asiático e tendo do outro lado ramificações que chegam aos Baleares e à própria Espanha.
Aparenta-se assim quase certa a relação da civilização itálica pré-romana, onde ocorre o motivo do deus-touro e onde o mesmo termo “touro” daria nome ao país, ao ciclo daquela antiga civilização “mediterrânea” que precederia a civilização propriamente grega e, de modo geral, indo-europeia. Mas nas pesquisas sobre suas origens, tal constatação não constitui mais que um resultado parcial. Os povos, que de modo mais generalizado foram chamados de itálicos, que se silenciaram depois de Roma, confirmam também um componente étnico diverso, não redutível ao antigo substrato “mediterrâneo”. Tal elemento heterogêneo se conecta com grande probabilidade a migrações pré-históricas, em nossa península.
É mérito do autor acima indicado, Altheim, ter posto em destaque a importância que, nessas pesquisas, possuem as inscrições e desenhos sobre rocha encontrados em Val Camonica. Esses constituem um dos poucos traços, que restam quase intactos, de tais antigas migrações. É incontestável a afinidade de tais traços – falando do estilo e dos tipos de símbolos – com aqueles que se encontram não apenas na Europa central, mas também na arte rupestre sul escandinava. Um ponto particular de merece ser levado em consideração: enquanto na arcaica civilização mediterrânea, a qual foi o próprio deus-touro, o elemento feminino (das mães, das mulheres divinas) teve particular destaque, um certo elemento falta de todo nele, nos traços de Val Camonica e naquelas civilizações nórdicas afins, onde predominam, em vez disso, símbolos solares e astrais. A diversidade dos símbolos deve ter correspondido a uma diversidade étnica; ondas de povos indo-europeus devem ter adentrado àquela, que era a “terra dos touros”, como expoentes de um espírito diferente.
Ao próprio Altheim se deve o esboço de um interessante paralelismo. Foi o movimento dos povos ilírios que provocaram a migração dos cepos que, em ondas sucessivas, adentraram à Grécia e à área do Egeu, criando, de encontro às antigas formas “mediterrâneas”, ou em interferência com essas, a civilização propriamente helênica. A última de tais ondas foi aquela dórica e a sua conclusão foi Esparta. Assim, o mesmo movimento dos ilírios, que avançaram também na região do Veneto, forçando os cepos já imigrados na Itália, os quais conectamos aos traços de Val Camonica, a uma nova marcha na direção do Sul. Tem-se então na Itália, um análogo da migração dórica. E como essa se conclui com Esparta, assim a imigração itálica, sendo através de eventos mais complexos e de mais dificultosa reconstrução, se conclui com Roma.
O paralelismo que diz respeito a dureza de vida, de ética guerreira, de virtude viril, incontestavelmente existente entre Esparta e a mais antiga Roma, parece convalidar “a posteriori” tal sugestiva hipótese. Por um ciclo, ao mesno, por obra de Roma, a Itália não seria uma província da arcaica civilização “mediterrânea” do deus-touro e das divindades femininas ligadas à terra. Se Roma reaviva partes notáveis da antiga herança itálica, a essas imprime uma forma própria e suscita um espírito diferente. Como na Grécia, e também, em parte, por influência grega, dos deuses da terra e das profundezas inferiores, a ênfase foi mudada lentamente na direção daqueles luminosos do céu e do Estado - até o período de sua decadência.


. . .

Nenhum comentário:

Postar um comentário