André Otávio Assis Muniz
Grande Secretário Geral de
Educação, Cultura e Orientação Ritualística do S.C.F.R.M.B.
O “Acampamento de Baldwin” é considerado, dentro das
diversas organizações que seguem o Templarismo Maçônico inglês, como datando de
“tempos imemoriais”. É
a mais antiga organização templário-maçônica da Inglaterra.
Na
obra “History of the Ancient and
Honourable Fraternity of Free and Accepted Masons and Concordant Orders”,
no capítulo “British Templary: A History
of the Modern or Masonic Templar Systems with a Concise Account of the Origin
of Speculative Freemasonry and its Evolution Since the Revival A.D. 1717”, escrito
por James B. Macleod Moore e publicada em 1902, é suposto, inclusive, que deva
suas origens aos Templários medievais originais.
Obviamente
que hoje, com o avanço das pesquisas históricas, sabe-se que apesar de antigo,
o Acampamento de Baldwin tem seu mais longínquo documento datado de 1772, e depois
desse, um de 1780.
Na prática, afirmar que um Acampamento data de “tempos
imemoriais”, quer dizer que tal Acampamento (nome dado na época para um
grupamento de maçons praticantes de Graus Templários na Inglaterra, mantido até
hoje nos EUA) tem origens anteriores à organização de um “Grande Priorado”, ou
seja, goza de um status diferenciado que lhe permite realizar cerimônias e
manter certas práticas que os grupos posteriores à fundação do Grande Priorado
não têm. Essas cerimônias e práticas, no caso do Acampamento de Baldwin, são
chamados de “Rite of Baldwyn”, ou seja, Rito de Baldwin. Este rito existe e é
praticado somente na Província Maçônica de Bristol, Inglaterra. Feita esta
brevíssima introdução, passemos ao conteúdo do mesmo.
O Rito de Baldwin é chamado também de “Rito de Sete Graus”
e demonstra, assombrosamente, a antiguidade da sequência das Ordens Sapienciais
adotada pelo Grande Capítulo Geral da França no período de 1783-1785.
Bristol esteve em contato com a França, devido ao
comércio, desde a Idade Média, e esse contato fez com que Graus Maçônicos franceses
se misturassem a Graus Ingleses, criando uma interessante amálgama.
A sequência dos Graus do Rito de Baldwin é praticamente a
mesma da do Rito Moderno, com a interpolação de alguns Graus ingleses.
Vejamos:
Graus Simbólicos:
1 - Aprendiz;
2 - Companheiro;
3 - Mestre;
3.a - Apêndice do
Mestrado: Companheiro do Real Arco.
Campo de Baldwin:
4 - Cavaleiro dos Nove
Mestres Eleitos;
5 - Antiga Ordem dos Cavaleiros
Escoceses Grandes Arquitetos subdividida em:
- Ordem dos Cavaleiros
Escoceses Grandes Arquitetos;
- Ordem dos Cavaleiros
Escoceses de Kilwinning;
6 - Cavaleiro do Oriente,
da Espada e da Águia;
6.a - Priorado Templário:
- Cavaleiro de São João
de Jerusalém, Palestina, Rodes e Malta;
- Cavaleiros de São João
de Jerusalém;
- Cavaleiros Templários;
7 - Cavaleiros Rosa-Cruz
do Monte Carmelo.
Os assuntos tratados no Grau de Cavaleiro dos Nove
Mestres Eleitos são os mesmos tratados na 1ª Ordem Sapiencial do Rito Moderno,
ou seja, a Ordem do “Eleito” ou “Eleito Secreto”.
Os Graus contidos na “Antiga Ordem dos Cavaleiros
Escoceses Grandes Arquitetos” tratam dos mesmos temas desdobrados da 2ª Ordem
Sapiencial, ou seja, a do “Escocês” ou “Eleito Escocês”.
O Grau de Cavaleiro do Oriente, da Espada e da Águia está
contido na 3ª Ordem Sapiencial do Rito Moderno, a do Cavaleiro do Oriente e da
Espada, tratando dos mesmos temas.
Um dos Graus contidos no Priorado Templário também foi
usado para a composição da 3ª Ordem Sapiencial: Cavaleiro de São João da
Palestina, ou seja, é um desdobramento dos assuntos contidos na 3ª Ordem.
O Grau de Cavaleiro Rosa-Cruz do Monte Carmelo trata dos
mesmos temas da 4ª Ordem Sapiencial, a do Soberano Príncipe Rosa-Cruz, e traz
também temas relacionados ao Grau de “Grande Comandante ou Soberano Comandante
do Templo”, que é tratado, no Rito de Baldwin, no Grau de Cavaleiro Templário.
No caso do Rito de Baldwin, tendo em vista que de acordo
com os documentos do Grande Conclave Templário de 1805, os estatutos originais
da primeira grande organização templária inglesa datam de 1791, ou seja, 6 anos
após a publicação do último ritual do Grande Capítulo Geral da França, que
organizou os Graus Superiores em atividade no território francês, e que Thomas
Dunkerley, o primeiro Grão-Mestre Templário inglês (falecido em 1795) já
praticava esse sistema, temos bons motivos históricos para suspeitar de uma
maciça influência francesa nos sistemas de Altos Graus instalados na Inglaterra
e não só de uma influência francesa genérica, mas de uma influência advinda,
muito especialmente, da organização dada aos Graus pelo Grande Capítulo Geral
da França, em outras palavras, do Rito Moderno com suas Ordens Sapienciais.
É interessante notar aos Irmãos brasileiros que tomam um
partido separatista entre Maçonaria Inglesa e Maçonaria Francesa (sim,
infelizmente os há, brasileiros que idolatram uma ou outra forma de Maçonaria
excluindo a todas as outras), que o Grau Aliado da “Cruz Vermelha da Babilônia”
é, nada mais nada menos, que a 3ª Ordem Sapiencial do Rito Moderno, a “Cruz
Vermelha de Constantino” é uma versão cristianizada da 4ª Ordem (Soberano
Príncipe Rosa-Cruz), e a Ordem da Cruz Vermelha, do Rito de York (Norte-Americano),
tem também a mesma temática da 3ª Ordem Sapiencial (Cavaleiro do Oriente). Por
sua vez, esses mesmos temas se encontram repassados no Rito Escocês Antigo e
Aceito, e o Grau de Kadosh (5ª Ordem do Rito Moderno, Grau 30 do REAA) já era
praticado na Inglaterra, assim como o de Rosa-Cruz, bem antes de 1845 (quando
se estabeleceu o REAA por lá).
Quando afirmamos e reafirmamos a unidade doutrinária
essencial da Maçonaria e lutamos contra o sectarismo, não o fazemos como
diletantes ou por “ouvir dizer”. Fazemos com base em pesquisa séria e dedicada,
embasada sobre documentos, análises doutrinais das origens e real interesse
histórico, antropológico e filosófico.
Nossos votos são que tal pesquisa possa “abrir os olhos”
dos que insistem em criar muros em vez de pontes.
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