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sábado, 15 de abril de 2017

O Rito Moderno e o Rito de Baldwin

André Otávio Assis Muniz
Grande Secretário Geral de Educação, Cultura e Orientação Ritualística do S.C.F.R.M.B.


            O “Acampamento de Baldwin” é considerado, dentro das diversas organizações que seguem o Templarismo Maçônico inglês, como datando de “tempos imemoriais”. É a mais antiga organização templário-maçônica da Inglaterra.
            Na obra “History of the Ancient and Honourable Fraternity of Free and Accepted Masons and Concordant Orders”, no capítulo “British Templary: A History of the Modern or Masonic Templar Systems with a Concise Account of the Origin of Speculative Freemasonry and its Evolution Since the Revival A.D. 1717”, escrito por James B. Macleod Moore e publicada em 1902, é suposto, inclusive, que deva suas origens aos Templários medievais originais.
            Obviamente que hoje, com o avanço das pesquisas históricas, sabe-se que apesar de antigo, o Acampamento de Baldwin tem seu mais longínquo documento datado de 1772, e depois desse, um de 1780.
            Na prática, afirmar que um Acampamento data de “tempos imemoriais”, quer dizer que tal Acampamento (nome dado na época para um grupamento de maçons praticantes de Graus Templários na Inglaterra, mantido até hoje nos EUA) tem origens anteriores à organização de um “Grande Priorado”, ou seja, goza de um status diferenciado que lhe permite realizar cerimônias e manter certas práticas que os grupos posteriores à fundação do Grande Priorado não têm. Essas cerimônias e práticas, no caso do Acampamento de Baldwin, são chamados de “Rite of Baldwyn”, ou seja, Rito de Baldwin. Este rito existe e é praticado somente na Província Maçônica de Bristol, Inglaterra. Feita esta brevíssima introdução, passemos ao conteúdo do mesmo.
            O Rito de Baldwin é chamado também de “Rito de Sete Graus” e demonstra, assombrosamente, a antiguidade da sequência das Ordens Sapienciais adotada pelo Grande Capítulo Geral da França no período de 1783-1785.
            Bristol esteve em contato com a França, devido ao comércio, desde a Idade Média, e esse contato fez com que Graus Maçônicos franceses se misturassem a Graus Ingleses, criando uma interessante amálgama.
            A sequência dos Graus do Rito de Baldwin é praticamente a mesma da do Rito Moderno, com a interpolação de alguns Graus ingleses.
Vejamos:
Graus Simbólicos:
1 -  Aprendiz;
2 - Companheiro;
3 - Mestre;
3.a - Apêndice do Mestrado: Companheiro do Real Arco.
Campo de Baldwin:
4 - Cavaleiro dos Nove Mestres Eleitos;
5 - Antiga Ordem dos Cavaleiros Escoceses Grandes Arquitetos subdividida em:
- Ordem dos Cavaleiros Escoceses Grandes Arquitetos;
- Ordem dos Cavaleiros Escoceses de Kilwinning;
6 - Cavaleiro do Oriente, da Espada e da Águia;
6.a - Priorado Templário:
- Cavaleiro de São João de Jerusalém, Palestina, Rodes e Malta;
- Cavaleiros de São João de Jerusalém;
- Cavaleiros Templários;
7 - Cavaleiros Rosa-Cruz do Monte Carmelo.
            Os assuntos tratados no Grau de Cavaleiro dos Nove Mestres Eleitos são os mesmos tratados na 1ª Ordem Sapiencial do Rito Moderno, ou seja, a Ordem do “Eleito” ou “Eleito Secreto”.
            Os Graus contidos na “Antiga Ordem dos Cavaleiros Escoceses Grandes Arquitetos” tratam dos mesmos temas desdobrados da 2ª Ordem Sapiencial, ou seja, a do “Escocês” ou “Eleito Escocês”.
            O Grau de Cavaleiro do Oriente, da Espada e da Águia está contido na 3ª Ordem Sapiencial do Rito Moderno, a do Cavaleiro do Oriente e da Espada, tratando dos mesmos temas.
            Um dos Graus contidos no Priorado Templário também foi usado para a composição da 3ª Ordem Sapiencial: Cavaleiro de São João da Palestina, ou seja, é um desdobramento dos assuntos contidos na 3ª Ordem.
            O Grau de Cavaleiro Rosa-Cruz do Monte Carmelo trata dos mesmos temas da 4ª Ordem Sapiencial, a do Soberano Príncipe Rosa-Cruz, e traz também temas relacionados ao Grau de “Grande Comandante ou Soberano Comandante do Templo”, que é tratado, no Rito de Baldwin, no Grau de Cavaleiro Templário.
            No caso do Rito de Baldwin, tendo em vista que de acordo com os documentos do Grande Conclave Templário de 1805, os estatutos originais da primeira grande organização templária inglesa datam de 1791, ou seja, 6 anos após a publicação do último ritual do Grande Capítulo Geral da França, que organizou os Graus Superiores em atividade no território francês, e que Thomas Dunkerley, o primeiro Grão-Mestre Templário inglês (falecido em 1795) já praticava esse sistema, temos bons motivos históricos para suspeitar de uma maciça influência francesa nos sistemas de Altos Graus instalados na Inglaterra e não só de uma influência francesa genérica, mas de uma influência advinda, muito especialmente, da organização dada aos Graus pelo Grande Capítulo Geral da França, em outras palavras, do Rito Moderno com suas Ordens Sapienciais.
            É interessante notar aos Irmãos brasileiros que tomam um partido separatista entre Maçonaria Inglesa e Maçonaria Francesa (sim, infelizmente os há, brasileiros que idolatram uma ou outra forma de Maçonaria excluindo a todas as outras), que o Grau Aliado da “Cruz Vermelha da Babilônia” é, nada mais nada menos, que a 3ª Ordem Sapiencial do Rito Moderno, a “Cruz Vermelha de Constantino” é uma versão cristianizada da 4ª Ordem (Soberano Príncipe Rosa-Cruz), e a Ordem da Cruz Vermelha, do Rito de York (Norte-Americano), tem também a mesma temática da 3ª Ordem Sapiencial (Cavaleiro do Oriente). Por sua vez, esses mesmos temas se encontram repassados no Rito Escocês Antigo e Aceito, e o Grau de Kadosh (5ª Ordem do Rito Moderno, Grau 30 do REAA) já era praticado na Inglaterra, assim como o de Rosa-Cruz, bem antes de 1845 (quando se estabeleceu o REAA por lá).
            Quando afirmamos e reafirmamos a unidade doutrinária essencial da Maçonaria e lutamos contra o sectarismo, não o fazemos como diletantes ou por “ouvir dizer”. Fazemos com base em pesquisa séria e dedicada, embasada sobre documentos, análises doutrinais das origens e real interesse histórico, antropológico e filosófico.
            Nossos votos são que tal pesquisa possa “abrir os olhos” dos que insistem em criar muros em vez de pontes.



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