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quarta-feira, 3 de agosto de 2016
terça-feira, 2 de agosto de 2016
A Quadratura do Círculo
André Otávio Assis Muniz
Diversos rituais maçônicos dos
Altos Graus fazem referências à “quadratura do círculo”, expressão que soa
misteriosa e paradoxal a muitos Irmãos.
Tentarei explicar, de maneira
simples, do que se trata e quais as relações com a Doutrina Maçônica.
I. O problema na Antiguidade.
A quadratura do círculo foi
proposta como um problema geométrico pelos antigos gregos.
Os geômetras desejavam saber se é
possível construir um quadrado com a mesma área de um círculo qualquer se
servindo de uma régua e de um compasso, usando um número determinado de etapas.
O problema era considerado muito
difícil, mas não impossível.
Anaxágoras, segundo o relato de
Plutarco, se dedicou a tentar resolver o problema enquanto
esteve preso.
Vários métodos foram propostos
para se tentar solucionar o problema, como método de Dinostrato (350 a.E.C.) e a quadratriz de Hipias
(c. 420 a.E.C.).
Em 1882, com a prova relativa ao π (pi),
como número transcendente ( número real ou complexo que não é raiz de nenhuma
equação polinomial a coeficientes racionais), Ferdinand Lindemann estabeleceu a
impossibilidade de se resolver a quadratura do círculo, ou seja, é impossível
construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja
rigorosamente igual à área de um determinado círculo.
II.
O círculo e o quadrado.
O círculo é um ponto
estendido, ou seja, ponto e círculo possuem propriedades simbólicas comuns:
perfeição, homogeneidade, ausência de distinção ou de divisão. O círculo pode
também simbolizar não apenas as perfeições ocultas do ponto primordial, mas os
efeitos criados.
O círculo simboliza o céu cósmico,
particularmente em suas relações com a terra. O círculo, nesse contexto,
simboliza a atividade celeste, sua inserção dinâmica no cosmo, sua causalidade,
sua exemplaridade, seu papel providente. É nessa linha que vai se juntar aos
símbolos da divindade voltada para a criação, cuja vida ela produz, regula e
ordena.
Segundo os textos de filósofos e de
teólogos, o círculo pode simbolizar a divindade considerada não apenas em sua
imutabilidade, mas também em sua bondade difundida como origem, substância e
consumação de todas as coisas.
O círculo é o signo da Unidade de princípio,
e também o do Céu: indica a atividade e os movimentos cíclicos. Sendo assim,
figura os ciclos celestiais, as revoluções planetárias, o ciclo anual
representado pelo zodíaco.
A idéia de “unidade de princípio” evoca
a idéia de harmonia e isso explica a razão pela qual as normas arquitetônicas
se baseiem, frequentemente na divisão do círculo.
O círculo é também símbolo do tempo. Os
babilônios utilizaram-no para medir o tempo: dividiram-no em 360 graus,
decomposto em seis segmentos de 60 graus. A palavra babilônica para círculo,
shar, é a mesma para o universo, o cosmo.
A religião babilônica retirou dessa
idéia a noção de tempo infinito, cíclico, universal, que foi transmitida para a
Antiguidade através da imagem da serpente que morde a própria cauda.
Na cultura celta o círculo tem função e
valor mágicos. Simboliza um limite mágico intransponível. É, ao mesmo tempo,
mágico e celeste.
O quadrado é uma das
figuras geométricas que mais frequentemente são empregadas na linguagem
simbólica. É, junto com o centro, o círculo e a cruz, um dos quatro símbolos
fundamentais.
Simboliza a terra, em oposição ao céu, é
também, em outro nível de interpretação, símbolo do universo criado, antítese
do incriado e transcendente.
O quadrado é figura antidinâmica,
representa a interrupção, o instante retido, estagnação, solidificação. Nesse
sentido, quando empregado em um uso simbólico sagrado, representa a
estabilização da perfeição.
Altares, templos e espaços sagrados
quadrados dão a idéia do mundo material perfectível, que se inscreve no tempo e
no espaço, buscando o pela comunhão com o círculo e seu dinamismo,
homogeneidade e perfeição.
O cubo, ainda mais que o quadrado,
simboliza a solidificação, a estabilidade, a parada do desenvolvimento cíclico,
pois determina e fixa o espaço em suas três dimensões. Corresponde ao elemento
mineral, ao pólo substancial da manifestação.
III.
A união do quadrado e do círculo
O círculo inscrito num quadrado é
um símbolo bem conhecido dos cabalistas. Representa a centelha do fogo divino
oculta na matéria, e que anima a matéria com o fogo da vida.
O círculo combinado com o
quadrado evoca a idéia de movimento, da mudança de ordem ou de nível.
A figura circular, em comunhão
com a figura quadrada, é interpretada pelo psiquismo humano como a imagem
dinâmica de uma dialética entre o celeste transcendente, ao qual o homem espira
naturalmente, e o terrestre, onde ele se situa no momento, onde percebe a si
mesmo como sujeito de uma passagem por realizar a partir de agora.
IV. Compreender e realizar a quadratura do círculo
As referências à quadratura do
círculo nos rituais maçônicos e nos textos tradicionais, de forma geral, trazem
a idéia de “realizar” a quadratura do círculo, de compreender suas misteriosas
relações.
Muitas vezes, as passagens que
fazem tal citação são lidas sem que se preste a devida atenção ao que querem
dizer.
Podemos interpretá-las em dois
níveis: Em um nível moral, contingente, e em um nível superior, puramente
metafísico.
Em um nível moral, a relação da
quadratura do círculo está intimamente ligada ao simbolismo do esquadro e do
compasso, símbolos universais da Maçonaria.
O quadrado é a reta ação,
relacionado ao esquadro e à régua. A ação regulada pela moral maçônica, pelo
bom senso, pela prudência e por todas as virtudes, o “quadrado” da retidão,
deve buscar a perfeição possível e bem calculada dentro dos limites possíveis à
angulação das pernas do compasso, que simboliza o espírito, o raciocínio, a
abertura a uma moral cuja raiz é transcendente, o “círculo”. Dessa forma, o
“quadrado” está limitado pelo “círculo” se busca a ação correta, a
“quadratura”, em acordo com um raciocínio superior, uma abertura ao
transcendente, ou seja, o “círculo”.
Num nível superior, metafísico, a
quadratura do círculo está ligada ao processo de divinização do iniciado. Buscar a identificação e a fusão, a
mesma medida, daquilo que é meramente humano, a quadratura, no transcendente e
metafísico, o Absoluto, o Ser, o círculo.
A identidade entre a Verdadeira
Natureza Transcendente e a natureza humana, limitada, até que ambas formem uma
só e mesma figura, a quadratura do círculo...
domingo, 31 de julho de 2016
Espiritualidade Verdadeira
"Tem sido esquecido com frequência que a
espiritualidade exprime um modo de ser: que ela não é função do que a cabeça
armazenou como noções, teorias etc., mas do que se conseguiu fazer vibrar ao
ritmo do seu próprio sangue, e que se traduz numa superioridade, numa
purificação profunda da alma e do corpo." (Julius Evola - Meditação nos
Cumes, 1974)
Mistérios Iniciáticos do Taoísmo: Os Cinco Imperadores
Por André Otávio Assis Muniz
A estrutura mitológica do Taoísmo se organiza como o antigo
Império Chinês. Os deuses têm funções específicas e cumprem papéis
administrativos no Universo.
Para ajudar-lhe a governar a Terra, o Imperador de Jade (玉帝) nomeou deuses titulares para as diversas regiões. O
Grande Imperador do Pico do Leste (太岳大帝) é o Deus de
Taishan, a Grande Montanha de Shandong. Nos livros do Cânone Taoísta ele
aparece em companhia dos "Cinco Santos Imperadores" (五聖帝) que controlam os picos do Sul, do Oeste, do Norte e do
Centro (respectivamente, na China, são: Hengshan, Huashan, Hengshan - escrito
com outro ideograma, diferente do pico do Sul e Songshan. O Imperador do Pico
do Leste é uma autoridade regente da Terra e dos homens, estando sob a
autoridade do Soberano de Jade (玉清) e rege o mecanismo
da vida. É o que determina os nascimentos e que recolhe os mortos.
Nas sociedades iniciáticas secretas chinesas (as chamadas
Tríades ou "Sociedade do Céu e da Terra" - 天地會),
o mestre da Loja representa o Soberano do Pico do Leste, e se senta no Oriente.
Ele é quem dá a "vida" à Loja e determina a "morte"
simbólica de seus membros. Cada um dos Cinco Imperadores representa um
"Centro Iniciático", um tipo de "axis" ou coluna em torno
do qual se organizam as atividades. Cada oficial das lojas das Tríades está
ligado a uma região geográfica ou pico.
É interessante traçar um paralelo com a Maçonaria. O
Venerável Mestre se senta no Leste, como o "Soberano Santo Imperador do
Pico do Leste". O símbolo de "regência" das Lojas de origem
francesa é o Delta (três ângulos, representando Três Princípios), cujo
princípio controla ao Venerável Mestre...No Taoísmo, a regência sobre o
"Soberano Santo Imperador do Pico do Leste" é a Tríplice Pureza
(sobre a qual já falamos). Assim como os "Soberanos e Santos
Imperadores" controlam as regiões determinadas por seus picos, os oficiais
das Lojas (tanto das Tríades quanto das Maçônicas) controlam suas regiões
(Norte, Sul)...O cobridor controla o Ocidente (Pico do Oeste), enquanto o
centro da Loja é controlado pelo Mestre de Cerimônias...Essas similaridades
deixaram alguns pesquisadores bastante surpreendidos quando tiveram os
primeiros contatos com as Tríades Chinesas...
Albert de Pouvourville, ocidental iniciado nas Tríades
vietnamitas de origem chinesa, sob o nome de "Matgioi", escreveu um
interessante relato sobre essas semelhanças.
Superação da moral
"Depois de ter eliminado as noções
correntes de bem e mal, a superação objetiva do plano da moral, sem polêmicas,
se realiza com efeito pelo conhecimento das causas e dos efeitos e por uma
conduta que só tem esse conhecimento como base. A noção moral de pecado deve
substituir-se pela de falta ou, mais exatamente, pela de erro. Para quem situou
seu próprio centro na transcendência, a idéia de pecado tem tão pouco sentido
como base. A noção moral de pecado tem tão pouco sentido como as noções
correntes e, variáveis, de bem e mal, de lícito e ilícito. (...)perdem seu
valor absoluto e são postas objetivamente a prova em função das consequências
de fato derivadas de uma ação interiormente liberada de tais noções. (...)
Podemos fazer referência especialmente a esta concepção bastante conhecida, mas
quase sempre mal compreendida, devido aos já citados moralizadores, a chamada
lei do karma. Esta lei concerne aos efeitos produzidos em todos os planos por
atos determinados, de forma natural e direta, sem nenhum caráter positivo ou
negativo, nem de sanção moral, mas simplesmente porque estes atos contém já a
causa (de seus resultados)." (Cavalgar o Tigre)
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Os oito "guá"
Por André Otávio Assis Muniz
Os oito "guá" (八卦) são apresentados de duas maneiras diferentes. A
maioria das pessoas nem nota e nem se importa em saber.
Isso está intimamente ligado à
cosmogonia chinesa tradicional.
O "sopro original"
(yuanqi - 元氣) ou Yang Puro
(chunyang - 純陽),gerou o sopro cósmico
(qi - 氣) através da união do
Yin e Yang originais (元陰,元陽 yuanyin e yuanyang) também chamados de Yin e Yang
reais (真陰,真陽 zhenyin e zhenyang).
O sopro cósmico então
dividiu-se de forma a estabelecer o Yin e Yang, ou Céu e Terra (esse estágio
é chamado de "abertura do Céu" 開天 - kaitian). O Yin e o Yang imediatamente se juntaram
novamente, levando ao estágio final da manifestação das dez mil coisas (萬物 wanwu). "Xiantian" (先天) ou "Antes do Céu" ou ainda "Céu
Anterior", refere-se ao estágio anterior à junção de Yin e Yang originais
para formar o sopro cósmico, ou seja, antes da manifestação das "dez mil
coisas", enquanto o "Depois do Céu" ou "Céu Posterior"
(後天 Houtian), refere-se ao estado depois que Yin e Yang
se juntaram e geraram o sopro cósmico que formou Céu e Terra e levou à
manifestação das dez mil coisas.
Antes da manifestação, o Yin
e Yang originais estavam em estado potencial em seus opostos. Essa noção
aparece na frase "陽中之陰", ou seja, "Yang no meio de Yin".
Nos oito guá (bagua), a
primeira representação é a de Xiantian (Céu Anterior). Ela é atribuída a Fuxi,
o primeiro Imperador mítico. Nessa representação, o Yin e Yang originais (元陰,元陽) juntaram suas essências e geraram os trigramas Li e
Kan ("Yin dentro de Yang" e "Yang dentro de Yin") que são
colocados no Leste e no Oeste. Os outro quatro Trigramas são colocados nos
pontos intermediários. O cosmos é gerado depois que Li e Kan se atraem e juntam
suas linhas internas.
A representação dos guá
Xiantian é atribuída ao Rei Wen de Zhou (1099 -1050 a.E.C.)
Na representação de Houtian
(Céu Posterior), as posições originalmente ocupadas por Qian e Kun (乾,坤) são tomadas por Li e Kan (離,坎), para mostrar que a mudança do estado incondicionado
para o condicionado ocorreu e que o Yin original é agora encontrado dentro do
Yang cósmico ( o trigrama Li - Fogo) e que o Yang Original está dentro do Yin cósmico
( o trigrama Kan - Água).
先天 Xiantian
後天 Houtian
O corpo
"O corpo é parte da
"pessoa" como um instrumento definitivo de expressão e ação na
situação vivida de fato; Dessa forma é óbvio que o indivíduo deve estender a
ele a disciplina e o controle de maneira a assegurar a completude do ser. Isto,
no entanto, não tem nada a ver com o culto da personalidade física, muito menos
com a mania por esportes, especialmente por esportes coletivos, um dos mais
vulgares e difundidos opiáceos para as massas." (Julius Évola - Cavalgar o
Tigre)
Avarna e Ativarna no século XXI
Por André Otávio Assis Muniz
Segundo a tradição Indo-Européia, podemos classificar as pessoas de acordo com sua casta, ou seja, sua "varna".
A idéia tradicional de "varna" não é, como muitos acreditam, baseada no nascimento em uma família de tal varna. Essa forma de classificar a casta é mais recente e foi chamada de "jati", ou seja, posição assegurada pelo nascimento.
A idéia de "jati", ou seja, de casta por nascimento, foi combatida por grandes Iluminados e Sábios que diziam ser essa uma inovação contrária ao verdadeiro conceito de casta.
O Buda Shakyamuni nunca foi contra as castas em si, mas sim contra a idéia de casta por nascimento (jati).
De acordo com os conceitos tradicionais, podem-se classificar as castas da seguinte forma:
Brahmana: Sacerdote. Tem vocação para o Sagrado, para a execução dos ritos, para o estudo, para a contemplação, para o ensino metafísico, para a vida mais puramente intelectual, tendo em vista que a intelectualidade pura e a vida espiritual não são coisas diferentes. O Brahmana se dedica às atividades mais elevadas, à transmissão da Tradição, das Escrituras Sagradas, da línguas sagradas etc.
Kshatriya: Guerreiro. Tem vocação para a manutenção da ordem social, para a organização, para os estudos com finalidades práticas que possam implementar a ordem ensinada e transmitida pelos Brahmana. Seu papel é o de garantir a paz e a harmonia e fazer cumprir a justiça para que os Brahmana possam transmitir a Tradição, instruir, fazer a ponte da sociedade humana com o sagrado etc. O chefe dos Kshatriya é o rei. Sua missão só é legitimada através da sagração dos Brahmana e deve seguir, escrupulosamente, os ensinamentos transmitidos por eles. A legitimação do Kshatriya está ligada, diretamente, ao seu papel de defesa dos ensinamentos do Alto.
Vaishya: Burgueses. São a base econômica da sociedade. Sua vocação está ligada ao comércio, à produção de bens, de alimentos, de tudo aquilo que se encontra ligado ao bem estar material da sociedade. São os responsáveis pela produção de riqueza e pelo equilíbrio econômico da sociedade.
Cada uma dessas funções é determinada por uma legítima vocação, pela tendência clara e indubitável que um indivíduo tem para com uma determinada atividade.
Abaixo das castas se encontram os "avarna", ou seja, os "sem casta", aqueles cuja vocação é para o nada, para uma vida desprovida de função, para a inação, para a vagabundagem pura e simples. O "sem casta" desempenha funções por simples necessidade de sobrevivência e não se importa com o fato dessas atividades serem desonestas, anti-éticas ou contrárias ao que é ensinado pela ordem tradicional.
No mundo moderno, um mundo profundamente doentio, as castas são desprezadas e os indivíduos são lançados às atividades sem que, necessariamente, tenham qualquer identificação ou vocação para com elas. Assim, em vez de castas, temos "classes" onde pessoas completamente diferentes são colocadas de acordo com a quantidade de dinheiro que possam juntar, independentemente da sublimidade ou importância real da função que desempenhem.
Em uma inversão total de valores, as "altas classes" são, de maneira geral, compostas por "avarna", ou seja, pessoas sem uma vocação específica que, de alguma maneira, jogando-se aqui e ali em busca de dinheiro, conseguiram sucesso econômico.
Os Brahmana, nesse contexto, são tomados por "sonhadores", "inúteis", "teóricos", "beatos" etc.
Os verdadeiros Kshatriya são colocados à margem das instituições das quais deveriam estar à frente por não entrarem "no esquema" imposto pelos avarna.
Os Vaishiyas frequentemente têm que lidar com concorrência desleal, métodos industriais pouco honestos, manipulação, formação de monopólios que os esmagam etc.
É, definitivamente, o reino dos avarna.
Acima de todas as castas e renunciando à sua função social, estão os "ativarna", os que estão acima das castas. Esses, percebendo a transitoriedade de tudo, renunciam às leis sociais e seguem a busca pelo Absoluto, sem se voltarem para os que desejam viver de acordo com a sociedade. Frequentemente, os "ativarna" saem da casta dos Brahmana e dos Kshatriya.
No mundo moderno, os ativarna seguem anônimos, em acordo com sua própria "Lei Interior".
Exoterismo e Esoterismo
"A adesão a um exoterismo é
uma condição prévia para chegar ao esoterismo e, além disso, não deveria se
acreditar que este exoterismo possa ser dispensado quando a Iniciação seja
conseguida, do mesmo modo que os alicerces não podem ser suprimidos quando o edifício
tenha sido construído. Acrescentaremos que, na realidade, o exoterismo, longe
de ser dispensado, deve ser "transformado" na medida correspondente
ao grau alcançado pelo iniciado, posto que este se faça cada vez mais apto para
compreender suas razões profundas e, consequentemente, suas fórmulas doutrinais
e seus ritos adquirem para ele um significado realmente muito mais importante
que o que possam ter para o simples exoterista, que, em suma, estará sempre
reduzido, por definição, a não ver senão a aparência exterior, quer dizer, o
que menos conta com relação à "verdade" da tradição considerada em
sua integralidade." (René Guénon -Iniciação e Realização Espiritual)
Sociedades Iniciáticas na China
Por André Otávio Assis Muniz
As Tríades (天地會- Sociedade do Céu e da Terra) foram responsáveis pela organização de diversos movimentos de resistência na China. Utilizando propaganda, doutrinação e violência cirurgicamente aplicada, eram temidas e respeitadas.
No Ocidente, começaram a ser estudadas com mais atenção depois dos livros de Albert de Pouvorville (Matgioi), que foi o primeiro ocidental conhecido a ser iniciado em uma Tríade chinesa no Vietnã.
Matgioi foi o responsável pela Iniciação Taoísta de René Guénon, assim como pela primeira transmissão dos ensinamentos desses grupamentos ao Ocidente.
Traduziu clássicos chineses para o francês e escreveu vasto material sobre o funcionamento das Lojas.
Basicamente, a estrutura dos membros era a seguinte:
红棍 Hóng gùn, "O bastão vermelho", responsável pela organização e execução de todo tipo de ação violenta externa. Deveria ser especialista em artes marciais e participar dos "times de assalto" que só deveria contar com outros especialistas em artes marciais. Seu prestígio era grande.
白紙扇 Báizhǐ shàn, " O leque branco". Era o conselheiro, o administrador, o que realizava os estudos. Seu atributo, um leque de papel branco montado sobre uma armação de bambu, com 13 pregas, representando as 13 províncias do Império dos Ming. O "Mestre do Incenso" da Loja era, geralmente escolhido dos membros desse rank.
草鞋 Cǎoxié, " O sandália de palha" era o mensageiro, aquele que tratava do serviço de informações e de passar as tarefas para todas as divisões da Tríade. Seu papel era determinante pois, se errasse, comprometeria as ações pensadas pelos "leques brancos" e que deveriam ser postas em prática pelos "bastão vermelho".
四九 Sìjiǔ, literalmente "O quarenta e nove", mas é um jogo com os ideogramas. Significa, na realidade "4x9" ou seja, 36, que era o número de votos que o membro deveria fazer para pertencer ao grupo.
Acima desses estavam:
山主, Shān zhǔ, "Mestre das Montanhas" . Não era o chefe absoluto, que tomava todas as decisões. Coordena todas as decisões tomadas localizadamente. Em caso de conflito de interesses, é ele que dava o voto de desempate.
Abaixo desse mestre estava o , 香主, Xiāng zhǔ, "Mestre do Incenso" o equivalente a um sacerdote responsável pelos diferentes ritos.
O 先鋒, Xiānfēng ou "pioneiro", é o assistente do Mestre do Incenso, que é também o oficial responsável pelo recrutamento para os neófitos na sociedade .
O chefe de cada uma das seções que citamos acima era chamado de 主持, Zhǔchí "Presidente".
O título de Dà lǎo 大佬, "Grande Irmão" era um termo respeitoso empregado para membros mais antigos, que haviam prestado serviços relevantes para a organização.
Essa era a organização da Loja.
Acima das Lojas estava o Grão-Mestre, chamado de 龍頭, Lóngtóu, "Cabeça de Dragão", que muito poucos membros conheciam.
Ação desprovida de desejo
"Agir sem aguardar resultados, sem ser afetado pelas chances de sucesso ou fracasso, vitória ou derrota, ganho ou perda, muito menos por prazer ou dor, ou pela aprovação ou desaprovação dos outros. Esta forma de ação foi também chamada de "ação desprovida de desejo." A mais alta dimensão, que se presume estar presente em si mesmo, manifesta-se pela capacidade de agir não com menos, mas com mais dedicação que o tipo humano comum pode dar às formas ordinárias de ação condicionada. Pode-se falar aqui em "fazer o que precisa ser feito," de maneira impessoal." (Julius Évola - Cavalgar o Tigre- Capítulo 11 - Agindo Sem Desejo - A Lei Causal)
O Grau 17 do Rito Escocês Antigo e Aceito - “Cavaleiro do Oriente e do Ocidente”
Por André Otávio Assis Muniz
I. História do Grau
17
Algumas versões mais antigas
desse Grau, que aparecem por volta de 1760, trazem o nome de “Cavaleiro do
Ocidente”, como por exemplo, o Ritual do Marquês de Gage, datado de 1763. A primeira versão com o título “Cavaleiro
do Oriente e do Ocidente” é de 1762 e se encontra na Biblioteca Nacional da
França. Apesar da diferença do título do Grau, o ritual é essencialmente o
mesmo.
O Grau 17 aparece no Manuscrito
Francken (uma fonte primária do Rito de Heredom) como um ritual autônomo com um
fundo cavalheiresco, retirando algumas passagens do livro bíblico do
Apocalipse. Rituais mais antigos falam desse Grau como sendo um Grau de
Cavalaria, historicamente não relacionado com a Maçonaria.
O Grau, apesar de numericamente anterior
ao Grau de Rosa-Cruz, é cronologicamente, posterior.
O 1º Ritual do Grau 17,
propriamente do R.˙. E.˙. A.˙. A.˙. (fundado em 1801 nos E.U.A.), foi aprovado
pelo Supremo Conselho da Jurisdição Sul em 1870 e já comportava algumas
modificações importantes em relação ao seu ascendente do Rito de Heredom. Nessa
versão (1870) o Grau 17 aparece como um prelúdio para o Grau 18, onde se
buscava a palavra perdida do Mestre.
No ano de 1939 uma alegoria
dramática, repleta de pompa e que necessitava de um largo elenco para sua
execução, foi proposto como substituto para o Ritual do Grau 28 e aprovado como
tentativa do que se tornaria o ritual do Grau 28 de 1940. O autor desse ritual
foi o Irmão Harry K. Eversull, 32º, um clérigo e presidente do Colégio Marietta
em Ohio. A configuração da alegoria era o Templo de Jerusalém construído pelo
Rei Herodes, que teria suplantado o segundo Templo, construído por Zorobabel no
primeiro século da Era Comum.
A idéia foi bem acolhida pelo
Soberano Grande Comandante Melvin Johnson, entre outros, mas acharam que a
alegoria caberia melhor como sendo do Grau 17, pois poderia ser o “Grau de
Transição” entre o Antigo e o Novo Testamento, ou seja, o prelúdio para o Grau
18, tendo em vista que o Templo de Herodes foi o que foi visitado por Jesus que
o comparou com seu próprio corpo (Jo. 2,19-22), orou nele e, inclusive, previu
sua destruição, assim como de toda Jerusalém (Lc. 19, 44). Essa mudança foi
efetuada em 1942, quando o ritual do Grau 17, utilizado desde de 1870, foi
substituído por aquele que foi a tentativa do Ritual do Grau 28.
O ritual novo não foi
universalmente aceito. Um estudo realizado em 1954 revelou que muitos Capítulos
nem o tinham adotado e nem tinham a intenção de fazê-lo, tendo em vista as
dificuldades apresentadas pelo novo ritual, como cenário ritualístico e o grande
número de Irmãos requeridos para sua execução. Sendo assim, em 1957, o Supremo
Conselho suspendeu a utilização do ritual aprovado em 1942 e restaurou a
utilização da versão de 1870.
Nos EUA, outras reformas se
fizeram necessárias e outras modificações foram e voltaram. Os rituais do Grau
17 foram revistos em 1989, 1994, 2002 e 2007 (até onde temos notícia).
No Brasil, em linhas gerais, o
Ritual se manteve fiel ao teor cavalheiresco, apesar de em seu simbolismo e
alegorias, ter sido notavelmente empobrecida a passagem da idéia de uma
Cavalaria Terrestre para a Cavalaria Celeste entre outros elementos.
II. A Mitologia do Grau
A mitologia do Grau remete-nos ao
ano de 1118, quando os Cruzados do Ocidente teriam se unido aos Maçons do
Oriente sob a condução de Garimont (outra interpretação da letra G da Estrela
Flamejante), Patriarca de Jerusalém. O objetivo do Grau seria de velar pela
segurança dos peregrinos.
O ano de 1118 não foi escolhido
ao acaso. Neste ano foi fundada a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do
Templo de Jerusalém por Hugues de Payns, ou seja, a Ordem dos Templários.
Um dos rituais franceses utilizados atualmente traz o
seguinte texto:
“Quando os Cavaleiros do Oriente e os Príncipes de Jerusalém reuniram-se
para conquistar a Terra Santa, levavam uma cruz para distinguirem-se, como uma
marca dos que iriam combater sob a mesma bandeira. Ao mesmo tempo, fizeram um juramento de que derramariam
até a última gota de sangue para restabelecer a verdadeira religião.
A paz tendo sido alcançada, eles não puderam realizar seu desejo (pelo
martírio) e retornaram a seus países. Sendo assim, resolveram unir a teoria e a
prática e, juntando-se à Ordem de Malta, que naquele momento era relativamente
ligada à Maçonaria, não admitiam em suas cerimônias senão quem tivesse dado
provas de sua amizade, zelo e discrição.
Eles adotaram o nome de Cavaleiros do Oriente porque o sentimento que
os guiava era tão grandioso, que embelezava àqueles que o possuíam e juntaram a
este o “e do Ocidente” para fazer conhecer à posteridade as partes do mundo
onde esta Ordem tinha surgido. Eles não mudaram nada de sua recepção que
permaneceu a mesma que a de hoje.
Foi em 1118 que os onze primeiros Mestres Maçons fizeram seus votos
entre as mãos de Garinum, Patriarca e Príncipe de Jerusalém, mas eles contavam
mais de cinco séculos desde a origem de seu estabelecimento no Ocidente.”
III. Tema do Grau
Este Grau ensina a necessidade de
partir em luta contra os danos causados pela intolerância, os juízos
temerários, o fanatismo, destruidores da humanidade assim como contra a
ignorância que engendra os erros e o obscurantismo. Em resumo, fala da luta
contra tudo que é obstáculo para o surgimento de uma consciência clara e
luminosa.
O ritual brasileiro dá enfoque especial ao direito de reunião e à conscientização do povo em relação ao
seus direitos através da educação.
A “túnica manchada de sangue” é
um resquício do voto dos Cavaleiros que, infelizmente, desapareceu do ritual
brasileiro atual.
IV. Símbolos e Alegorias do Grau
O Peregrino: Vestidos como peregrinos, os Príncipes de
Jerusalém ingressam na Câmara. O peregrino simboliza o estado do homem sobre a
Terra, o qual cumpre seu tempo de provações rumo a um estado superior. O termo
designa alguém que se sente estrangeiro no meio em que vive. Sendo o mundo
profano cercado pelas trevas da ignorância, da superstição, do fanatismo, o
maçom virtuoso é sempre um “estrangeiro” em meio à escuridão que o cerca. Os
príncipes, que poderiam estar vestidos com o luxo e a distinção de sua condição
de nobres, são revestidos com as pobres vestes do peregrino. O término da
viagem, um objetivo superior, é sua recompensa.
Os Essênios e o lago Méris: O nome "essênio" (do
grego: essaioi) parece se originar a partir da denominação Issi'im,
utilizada por terceiros para denominar o grupo. O termo é derivado
aparentemente a partir da Síria (essaya ou essenoí) e este
do aramaico (chasajja = "piedoso"). Os essênios serão
chamados também de Jachad, o que significa "união",
"comunidade" e, finalmente, por esseni em latim, de onde o
nosso “essênios”.
O Essenismo é transcrito pela
primeira vez por Fílon e Flávio Josefo, onde citavam uma ordem que havia se
afastado do judaísmo tradicional por motivos desconhecidos, pois seus costumes
se diferenciam em determinados pontos. Iniciaram seus estudos nos séculos que
vão desde o ano 150 A.E.C. a 70 D.E.C.
Dos hábitos comuns do grupo,
pode-se dizer que alimentavam-se basicamente de frutas e legumes (eram vegetarianos)
e que banhavam-se em águas como forma de ritual para a purificação espiritual.
As toalhas submersas em água do nosso Ritual do Grau 17 são referência a isso.
Durante o domínio da
Dinastia Hasmonéa (140 – 37 a.E.C.), os essênios foram perseguidos. Retiraram-se
por isso para áreas desérticas, vivendo em comunidade e em estrito cumprimento
da Torá de Moisés, bem como do
estudo e das práticas virtuosas descritas nos livros dos Profetas.
Méris é o nome dado pelos antigos
escritores gregos a um grande lago da atual região de El Fayum, no Egito.
Atualmente, é um lago salgado de tamanho bem reduzido, chamado de Birket Qarun.
O faraó Amenemhat III erigiu perto de Méris um imenso complexo de edifícios e
uma grande Necrópolis.
O lago simboliza o “olho da terra” por onde os habitantes do mundo subterrâneo podem ver os homens, os animais, as plantas, etc. Numa analogia, simboliza a revelação de camadas mais profundas da consciência e o voltar-se para dentro de si.
O lago simboliza o “olho da terra” por onde os habitantes do mundo subterrâneo podem ver os homens, os animais, as plantas, etc. Numa analogia, simboliza a revelação de camadas mais profundas da consciência e o voltar-se para dentro de si.
O lago de Méris era visto pelos
Teólogos do Antigo Egito como uma manifestação real e terrestre da Vaca do Céu,
um céu liquido onde o sol se escondera misteriosamente....um afloramento do
Oceano Primordial, mãe de todos os deuses, dando vida aos humanos, a garantia
da existência e da fecundidade.
O Arco-Íris: O arco-íris é símbolo do caminho e mediação
entre a terra e o céu. É a ponte, de que se servem os deuses e heróis, entre o
Outro Mundo e o nosso. Na Grécia, o arco-íris é Íris, a mensageira rápida dos
deuses. Simboliza também, de modo geral, as relações entre o céu e a terra,
entre os homens e os deuses: é uma linguagem divina. Na China, a união das
cinco cores atribuídas ao arco-íris é aquela do yin e do yang, o signo da
harmonia do universo e de sua fecundidade.
No contexto do Grau 17, o
arco-íris é símbolo da união de contrários e também a reunião das metades
separadas, a resolução. O arco-íris, ao aparecer por cima da arca de Noé, reúne
as águas inferiores e as águas superiores, metades do “ovo” do mundo, como
sinal de restauração da ordem cósmica e da gestação de um ciclo novo. O
arco-íris é símbolo anunciador de felizes acontecimentos ligados à renovação
cíclica.
Através de virtudes superiores é
possível ligar o homem ao céu e aos seus Irmãos.
A Lua manchada de sangue: A Lua é símbolo de dependência (do
sol, por não ter luz própria) e de periodicidade e de renovação. Também é
símbolo de inconstância. Simboliza ainda os ritmos biológicos, o tempo vivo. É
também o primeiro morto. Durante três noites, em cada mês lunar, ela está como
morta, ela desapareceu...Depois, reaparece e cresce em brilho. Da mesma forma,
considera-se que os mortos adquirem uma nova modalidade de existência. A Lua é
para o homem o símbolo desta passagem da vida à morte e da morte à vida.
O sangue está relacionado com o
simbolismo da vida. Em diversas escrituras antigas é visto como veículo e
princípio da vida. Simboliza todos os valores solidários com o fogo, o calor e
a vida que tenham relação com o sol. A esses valores associa-se tudo o que é
belo, nobre, generoso, elevado. Também participa da simbologia geral do
vermelho.
No contexto do Grau 17,
representa que, enquanto para o supersticioso a Lua representa anúncios de
catástrofes e de desgraças, para o verdadeiro Iniciado ela é símbolo de
renovação, assim como o sangue derramado pela Verdade não é motivo de terror,
mas sim de nobreza, de beleza, de generosidade e de elevação.
O heptágono: O heptágono está ligado ao simbolismo do número
7. Sete é a união do ternário e do quaternário. “Hepta” quer dizer “sete”, e “gonia”
quer dizer “ângulo”. O número 7 é símbolo de integridade, totalidade, de
plenitude e perfeição.
A marcha pelo “heptágono” está
ligada à abertura dos sete selos do livro do Apocalipse, que só o Cordeiro pode
abrir (Apocalipse Cap. 5 a 8).
A Balança e as espadas cruzadas: A balança é símbolo do
equilíbrio, da medida, da prudência e da justiça. Associada à espada, é também
a justiça, mas duplicada pela VERDADE. A espada é, assim como a balança, um
símbolo axial e polar, a arma do centro. As espadas cruzadas são a defesa da
justiça e da verdade, personificadas pelo princípio transcendental CENTRAL ou
AXIAL.
O Arco, as flechas, o crânio, a coroa e o incenso: Apesar de
terem sido suprimidos do nosso ritual brasileiro, o Arco, as flechas, o crânio,
a coroa e o incenso fazem parte do simbolismo do Grau.
“O arco, as flechas e a coroa significam que a palavra do Venerável e
as decisões da Loja devem ser executadas com a rapidez do vôo das flechas e com
a submissão que se deve ter diante das testas coroadas...a caveira simboliza um
Irmão exilado de nossas Lojas...o incenso é aqui figurado para nos lembrar que
a Maçonaria está espalhada por toda a terra e que sua honra é como o perfume do
incenso.”
A flecha identifica-se ao
relâmpago. O relâmpago é o traço de luz que traspassa as trevas da ignorância:
portanto é um símbolo do conhecimento. O arco significa a tensão de onde brotam
nossos desejos. Ou seja, a vontade que direciona o conhecimento para vencer as
trevas.
A coroa, além de símbolo do poder
do coroado, é símbolo de ligação entre o que está em baixo (o coroado) e o que
está em cima (o Princípio Superior, representado pelo Céu).
Dentre diversas possíveis
interpretações positivas, a que é dada no Grau 17 ao crânio é negativa.
Simboliza a ausência de vida espiritual quando o maçom se afasta dos princípios
cultuados nas Lojas.
As cores branca, preta, dourada e vermelha: O branco, além de figuração de pureza,
também representa a entrada no invisível, na plenitude de novas possibilidades,
na transição, nos aspectos celestiais.
O negro representa a coexistência
de contrários que se fundem, o ponto de partida da Grande Obra, a Nigredo, de
superação dos aspectos sombrios.
O ouro é visto como o metal
perfeito, símbolo solar, reflexo da luz celeste. Figura a nobreza de ação e de
pensamento, conclusão da Grande Obra Alquímica.
O vermelho também está ligado com
o simbolismo alquímico, a fase final da Grande Obra, a Rubedo, Obra em
Vermelho. Simboliza a vida, a ação, o sangue derramado em defesa da Verdade.
O avental do Grau 17: O avental utilizado no Brasil é fruto de uma reforma ocorrida
nos EUA no começo do século XX.
O Telhador de Lausanne, traz como
descrição do avental simplesmente: de seda amarela, orlado de vermelho. Nada
mais. O Telhador não fala em letras
hebraicas, em tetractys pitagórica e também nada diz sobre duas faixas. Fala em
uma faixa branca e um colarete preto, de onde pende a jóia.
A modificação se deu nos EUA e, a
princípio, constava da tetractys pitagórica com as letras hebraicas do
Tetragramaton, além de uma espada na abeta.Depois, em uma das muitas
modificações do ritual norte-americano, a tetractys foi invertida e as letras
hebraicas do tetragramaton foram suprimidas, deixando-se apenas o yod, o que
descaracterizou o simbolismo original da tetractys com o tetragramaton.
Abaddon (Apolyon) e Zabulon (Jabulum): Abaddon é
o anjo da destruição no Apocalipse. É citado no Capítulo 9, versículo 11. Já
Zabulon (ou Jabulon, Jabulum etc.) é objeto de muitas controvérsias. Segundo o
historiador maçônico Arturo Hoyos, a palavra Jahbulon foi primeiramente usada
em 1700, na França. Conforme Paul Naudon, seria a relação a
uma alegoria maçônica na qual Jabulon era o nome de um explorador vivendo
durante o tempo do Rei Salomão, que descobriu as ruínas de um templo antigo.
Segundo as explicações de Hoyos e de Morris, dentro das ruínas o explorador
encontrou uma placa de ouro sobre a qual o nome de Deus foi gravado,
contudo salientam os autores, que em momento algum, da simbólica representação,
é feita ligação entre o nome do explorador e o nome de Deus. Afirmam que, como
existem variantes deste ritual, diferentes formas do nome do explorador também
são encontradas além de Jabulom, como Guibulom.
O Masonic Information
Center, em algumas de suas publicações afirma que é provavelmente derivado de Giblim, de 1 Reis 5:18 referente
a palavra gebalitas ou giblitas ou "homens da cidade de Biblos" e,
segundo Hoyos, devido a "uma má interpretação das letras em
hebraico", teria havia a concepção "trinitária" para o nome.
Uma visão panorâmica do Grau 33 do REAA
Por André Otávio Assis Muniz
I. Introdução
O Grau 33, último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito e, no
Brasil, também o último Grau de outros ritos influenciados pelo Sistema Escocês
(Adonhiramita e Brasileiro), é cercado de uma aura de mistério e de hiper
valorização.
É comum ouvir entre maçons e não maçons a referência
admirada a alguém dizendo: “- Ele é Grau 33”...
Essa admiração, ainda que justificada pela longa caminhada
iniciática de alguns Irmãos portadores desse último Grau, deve ser temperada de
sobriedade e razão.
Vamos dar um rápido sobrevôo sobre o Grau e, assim, tentar
desfazer alguns equívocos bastante comuns em relação a ele.
II. Origem
Os primeiros documentos que citam o Grau 33 no Sistema Escocês
traz a data de 1786. No entanto, é sabido que essa data não corresponde à
realidade.
Tanto os chamados “Novos
Institutos Secretos e Fundamentais da muito Antiga e Venerável Sociedade dos
Maçons Livres Associados, ou Ordem Real e Militar da Franco-Maçonaria”
quanto as “Constituições Estatutos e
Regulamentos” (esses últimos datados de 1786), que dizem ter sido redigidos
por Frederico II, Rei da Prússia, são falsificações.
Apesar de serem falsificações, são os documentos mais
antigos e fundamentais do Rito Escocês Antigo e Aceito. Frederico II não passou
nem perto deles mas, apesar disso, permanece como figura central nas alegorias
do Grau.
Frederico II figura como modelo de Imperador esclarecido e
iluminista . O exercício do poder foi para ele um exercício de sabedoria e de
trabalho em prol dos seus governados. Sendo assim, é um tipo de arquétipo a ser
seguido pelos Grandes Inspetores Gerais no governo dos Altos Graus.
Provavelmente, o Grau 33 foi criado nos Estados Unidos da
América no final do século XVIII, quase início do XIX.
Há três hipóteses mais fortes para a escolha desse número:
a) Uma referência à idade de Jesus Cristo, símbolo da
“caminhada da perfeição”
b) A passagem do “paralelo 33” sobre Charleston nos EUA (não
é exatamente 33 o paralelo, é o 32°47’N 79°56’ mas pode ter havido uma aproximação).
c) Uma referência aos 33 membros da Guarda Escocesa que
faziam a guarda pessoal do Rei da França.
III. Desenvolvimento
Originalmente, o “Rito de Perfeição de Heredom”, que seria a
base do REAA, era um rito de 25 Graus.
Ao contrário do que se pensa, a maioria desses graus não tinha rituais.
Eram transmitidas as lendas, as palavras e só.
O Rito de Heredom, cujo sistema já estava estabelecido na
década de 1750, tinha como Grau máximo, de número 25, o de “Sublime Príncipe do Real Segredo”, "Sublime Comendador do Real Segredo".
A importância que se dá hoje à ritualística, aos
interstícios etc. dos chamados “Altos Graus”, era bem pouco conhecida nos
séculos XVIII e XIX.
Alguns sistemas maçônicos compactaram as lendas em um único
Grau para abreviar o tempo para que se passasse o conhecimento. No Regime
Escocês Retificado, por exemplo, a essência dos Altos Graus era transmitida no
Grau de Mestre Escocês de Santo André, que compreende a parte central dos
ensinamentos do Grau 4 ao Grau 18. Os Graus subseqüentes, ou seja, a dita “Ordem Interna”, que
compreendia os Graus de Escudeiro Noviço e o de Cavaleiro Benfeitor da Cidade
Santa (CBCS, dividido em Professo e Grande Professo), têm características
cavalheirescas retiradas da Estrita Observância Templária e não propriamente
maçônicas.
No Rito Moderno, são nada menos que 81 Graus compactados em
5 Ordens ditas “Sapienciais” ou “de Saberdoria” (Ordres de Sagesse). Neste
Rito, originalmente, não havia Altos Graus tendo em vista que era a simples
transposição dos costumes da Grande Loja de Londres (dos “Modernos”) para a
França. O sistema de Altos Graus
foi elaborado com base em todos os Graus praticados na França oitocentista (81
ao todo).
A Maçonaria só passaria a praticar o 3º Grau em 1724. As primeiras Lojas em território
francês seriam implantadas um ano depois, ou seja, com o Grau de Mestre recém
elaborado.
Mais de 60 anos depois, por conta da necessidade de se
estabelecer ordem dentro das práticas de Altos Graus nas diversas Lojas Capitulares, se estabeleceu na França o “Grande
Capítulo Geral” que, através da pena de Alexandre Roëttiers de Montaleau,
estabeleceria os rituais das 5 Ordens Sapienciais do Rito Moderno.
Até que Albert Pike revisasse os rituais, já quase no final
do século XIX, os “Altos Graus” do REAA também não tinham forma ritualizada.
O próprio Albert Pike recebeu, em uma única ocasião, do Grau
4 ao Grau 32, de Albert G. Mackey.
Quando foi eleito para ser membro do Supremo Conselho do
Grau 33, também o recebeu por comunicação, tendo em vista que seria ele o
verdadeiro autor dos primeiros rituais, propriamente ditos, do REAA.
O ritual mais antigo que se conhece do Grau 33, descoberto
pelo próprio Albert Pike, traz procedimentos bastante simples em relação ao que
se pratica hoje.
O REAA na época de Albert Pike era um dos menores
grupamentos maçônicos existentes no mundo. Era um rito minoritário.
IV. Temática
O Grau 33 gira em torno da temática dos chamados “Graus
Cavalheirescos”.
Reunido em um templo armado de vermelho com ornamentos
dourados, tendo esqueletos, tíbias e crânios como adornos, o Supremo Conselho
recorda o massacre de Jacques Demolay e dos templários.
A “caveira vingadora”, um esqueleto presente no lado norte
da sala, portando o estandarte do Supremo Conselho em sua mão esquerda e um
punhal em sua mão direita faz, justamente, alusão ao desejo de justiça para
aqueles que foram vítimas das intrigas, calúnias e injustiças. Tal caveira
representa, obviamente, Jacques De Molay.
A coroa imperial de Frederico II e o seu cetro encontram-se
sobre a mesa do Soberano Grande Comendador que, aliás, representa o próprio
Frederico. Seu auxiliar ou vigilante, se senta no Ocidente e representa Louis
de Bourbon, que teria, na lenda, auxiliado a Frederico II na reforma do Rito de
Perfeição de Heredom.
Em outras palavras, a coroa e o cetro representam ao poder
de Frederico II que teria se transmitido aos Soberanos Grandes Comendadores
para que governassem o REAA.
Coroa e cetro são símbolos de poder, de mando e de governo.
Fica óbvia aqui a pretensão de “governo” sobre toda a chamada “Maçonaria
Escocesa”.
Onze luzes iluminam a sala, recordando a data maçônica da
extinção da Ordem do Templo, ou seja 5312 (1312 + 4000).
As divisas “Ordo Ab Chao”(Do caos a ordem) e “Deus Meumque
Jus” (Deus e o meu direito), colocadas na porta do Supremo Conselho relembram :
- A ordenação e o governo dos diversos graus (que sem um
centro de comando estariam mergulhados no caos e desordem);
- A ordem social dada pela sabedoria e pela moral, sem os quais
a sociedade mergulharia no caos;
- Os princípios de lei natural (jusnaturalismo), ou seja,
aqueles dados por uma potência superior e transcendente da natureza,
representada no Ocidente cristão pela figura de ‘Deus’;
- Os princípios da lei consuetudinária e das normas
positivas reguladoras do Direito (juspositivismo) que regem as sociedades,
representadas aqui pelo “meumque jus”.
Os rituais variam quanto à presença de um transparente com
um triângulo tendo a letra hebraica “yod” ao centro ou com o numeral 33 em seu
lugar.
Os membros do Supremo Conselho são descritos como “vestidos
de negro” e “armados de espada” o que se explicaria pelo luto provocado pela
morte dos templários, denominados de “nossos Irmãos” e a vingança contra a
Intolerância, o Fanatismo e a Ignorância que os condenaram aos tormentos e à
morte.
A temática da “Justiça e Equidade”, que é trabalhada mais
extensamente no Grau 31, é retomada de maneira “un passant” no Grau 33. A
presença divina no Supremo Conselho, representada pelo transparente, não é
temida pois, simbolicamente, os Grandes Inspetores Gerais agem com retidão e
justiça, dentro das leis humanas e divinas.
O símbolo mais universalmente conhecido do Grau 33 é a águia
bicéfala, segurando uma espada entre as garras e tendo a coroa imperial entre
as duas cabeças.
Esse símbolo é oriundo, no caso do REAA, de mais uma
referência à Prússia. Trata-se da águia negra bicéfala da Prússia, com algumas
modificações.
A águia prussiana tem nas garras um globo encimado por uma
cruz e uma espada. A águia do Grau 33 agarra apenas uma espada com ambas as
garras e, por vezes, nessa espada, há um filactério com o dístico “Deus Meumque
Jus”.
Ao longo do tempo, com a imensa “criatividade” de alguns
dirigentes do REAA, a águia foi se transformando e ganhando novas (e cada vez
mais forçadas) características e interpretações.
V. Inovações (e deformações)
Se compararmos diversos rituais do Grau 33 veremos que, em
pouco tempo, foram sendo introduzidas mudanças e “novidades” aqui e ali.
Uns falam em triângulo com o vértice para baixo, outros
falam em vértice para cima. Uns dão importância a que haja uma estrela de nove
pontas, constituída de 3 triângulos eqüiláteros, com cada uma das letras da palavra
“Sapientia” nas mesmas. Outros nem citam essa estrela.
Uns rituais falam no transparente com o triângulo (com a
ponta para baixo ou para cima) no meio de um resplendor com o “yod” , ao qual
se dá um papel importante por ser o “nome de Deus”. Outros falam do numeral 33
e não citam o “nome de Deus”.
Nos EUA, a águia bicéfala negra prussiana virou uma águia
americana de duas cabeças com a coroa imperial (?) por cima.
Além disso, há algum tempo, resolveram introduzir “ramos”
nos bicos da águia, como se ela fosse um tipo de “pomba da paz”.
No Brasil, há alguns rituais que afirmam que as duas cabeças
representam “Ordem e Progresso”...Ou seja, o ritual do Grau 33 toma contornos
positivistas e Comte se torna um novo “ideólogo” para os Supremos Conselhos.
Outros rituais foram sendo modificados para se “ajustarem”
aos hábitos de uma ou outra Obediência Maçônica. Um “figurão” qualquer
inventava uma inovação e lá se iam a modificar todos os rituais.
Em fotos bem antigas, de meados do século XIX, oriundas do
Supremo Conselho de Portugal, vemos os Grandes Inspetores Gerais vestindo o
avental e o colar, ou a faixa e o avental. Em fotos do começo dos século XX ou
do final do XIX, o avental some e dá lugar somente à faixa ou ao colar.
Os aventais se tornam peças de museu e a arrogância de dizer
que “não é preciso mais avental porque o trabalho iniciático já está acabado”
se torna uma justificativa comum.
Posteriormente inventaram o uso de uma “faixa abdominal”, um
tipo de cinta com um lacinho ou uma fita de premiação com um rosetão com
fitinhas dependuradas. Tal adorno DEVERIA ser usado somente se o Grande
Inspetor Geral estivesse revestido de túnica vermelha, coroa e capa. Nunca
sobre o paletó...
Originalmente, o Soberano Grande Comendador se revestia de
uma túnica de cetim carmesim, bordada e debruada de branco e a coroa Imperial
era vestida por ele. Hoje, a coroa fica sobre a mesa, assim como a espada que
ele deveria portar.
O barrete com a “Cruz de Lorena” é mais um acréscimo. Ele já
teve a águia bicéfala em vez da referida cruz e ganha cores diferentes em
acordo com a “criatividade” dos chefes dos Supremos Conselhos. Outras cruzes,
cada vez mais complexas e cheias de traves, vão modificando os paramentos que,
aos poucos, parecem uniformes de bandas marciais ou uniformes dos stewards de
hotel...
Um capítulo à parte são as patentes do Grau.
De documentos bastante sóbrios que continham apenas os
elementos essenciais indicados nas leis do REAA, as patentes ou diplomas do
Grau 33 foram se tornando verdadeiras “overdoses visuais”, com desenhos
ornamentais de cores fortes, faixas impressas, águias carnavalescas e um mau
gosto à toda prova.
Se chegar ao Grau 33 deveria ser uma forma de obter uma
visão completa do sistema ritualístico do REAA, passou a ser um tipo de
“formatura” às avessas, onde os “professores” que lá estão sem saber grande coisa,
vão modificando as características do sistema até que ninguém entenda mais
porque os elementos simbólicos e alegóricos devem estar nos graus.
Como se não bastasse tudo isso, ainda há a mania de secretismo
em torno do Grau. Em vez de se dar a oportunidade para que pessoas sérias,
capacitadas e interessadas pesquisem sobre o Grau em suas diversas versões, publiquem suas pesquisas e , dessa
forma, sejam incrementadas as informações históricas e simbólicas que há sobre
ele possibilitando uma maior preservação dos seus elementos essenciais, há
dirigentes que ainda não se deram conta que desestimular a pesquisa, no século
da Informação, da internet, da conectividade móvel e imediata, não vai
“preservar” qualquer “segredos”, que, aliás, já são de domínio público há muito
tempo, mas apenas fomentar a desinformação e a invencionice.
Graças a essa mentalidade, que privilegia a manutenção de um
“fechamento” epistemológico, as informações acabam viciadas em um mesmo meio,
com os membros de um ou outro Supremo Conselho acreditando que só existe uma
versão do Grau, a sua própria...E pior, acreditando que, assim, estão
“preservando” alguma coisa.
A cada mudança e a cada invenção introduzida nos rituais por
indivíduos ineptos que só tem poder burocrático mas nenhum conhecimento
efetivo, um pedaço dos rituais vão se perdendo. Dessa maneira, cada geração de
novos Grandes Inspetores Gerais vai recebendo uma visão mais mutilada do Grau
33. Sem que hajam estudos sérios, análises comparativas etc., não há
possibilidade de preservação coletiva dos elementos mais autênticos do Grau.
Tal situação tende a ser enormemente agravada quando os
portadores do Grau se sentem tão “elevados” que não precisam mais
estudar...Infelizmente essa é uma situação bem recorrente.
VI. Grau Administrativo?
Há um consenso
quase geral de que o Grau 33 seria um grau puramente administrativo.
Apesar de haver elementos claramente voltados ao “governo”
da chamada “Alta Maçonaria Escocesa”, ou seja, elementos administrativos, o grau traz também elementos morais e
simbólicos evidentes.
O binômio “Direito Natural” ou “divino” e “Direito Positivo”
ou “social” é tratado de maneira bastante equilibrada através da correta
compreensão dos dísticos.
A busca constante pela justiça e o combate à Ignorância, ao
Fanatismo e à Intolerância dão o tom da “vingança”. Em outras palavras, não se
trata de uma “vingança cega”, mas sim de uma vingança temperada pela razão,
pelo pensamento e pelos valores morais defendidos pela Maçonaria.
A cor vermelha, cor do REAA, que faz referência ao sangue
derramado em prol da verdade, cor da cruz pátea dos templários, à completude da
Grande Obra Alquímica – a ‘Obra em Vermelho’ (a rubedo), também é símbolo do
“fogo interior” da Sabedoria, da Ciência e do Conhecimento Esotérico interdito
aos não iniciados.
O vermelho também incita à ação, é a imagem do ardor que
deve animar aos Grandes Inspetores Gerais a uma ação transformadora, tanto
interna quanto externamente.
Os imperadores bizantinos se vestiam inteiramente de
vermelho e existiam leis que proibiam o uso de esmalte rubro nos brasões, pois
era cor exclusiva do Imperador. Assim, indica também poder.
Atingir a “Obra em Vermelho” (rubedo) é o acesso aos
“Grandes Mistérios”.
Sobre o vermelho estão representados ossos e crânios.
Os ossos são símbolo de firmeza, de força e de virtude.
Também representam o “retorno” e suas possibilidades. No simbolismo bíblico, a revivificação
dos “ossos secos” indica a possibilidade de uma restauração. De fato, em
algumas culturas, a “essência da vida” encontra-se no tutano. O núcleo dos
ossos seria, dessa maneira o “germe” dessa restauração.
O crânio é símbolo do “centro espiritual”, é a “abóbada
celeste” do corpo humano. Era utilizado pelos alquimistas em suas operações de
transmutação.
Na Maçonaria se reveste do simbolismo do ciclo iniciático: a
morte corporal, prelúdio do renascimento em um nível de vida superior.
A presença da coroa, ainda que, em um nível mais imediato,
invoque a memória de Frederico II, também simboliza valores que sobrepujam à
cabeça, cimo do corpo humano, ou seja, assinala um caráter transcendente de uma
realização bem sucedida. Ela une o “coroado” ao que está acima dele e também ao
que está embaixo.
A coroa também simboliza dignidade, poder, realeza, o acesso
a níveis superiores.
No simbolismo cabalístico, o ápice da “Árvore da Vida” é ‘kether’,
ou seja, “coroa”. Exprime o Absoluto, o infinito e sem limitações.
As coroas divinas ou régias eram objeto de culto, unicamente
manipuladas por iniciados nos mistérios, eram consideradas seres carregados de
poder.
O cetro simboliza também a força e a autoridade, é um modelo
reduzido de um grande bastão de comando. É uma “vertical absoluta” que
simboliza o homem enquanto tal, a
superioridade desse homem feito chefe e o poder recebido de cima.
É o modelo reduzido da coluna do mundo, o eixo em torno do
qual se organiza uma coletividade ou sociedade.
Na Grécia Antiga, o certo simbolizava o direito de fazer
justiça e, por isso, pertencia à panóplia das insígnias consulares.
O esqueleto presente no Supremo Conselho é símbolo das
operações que precedem as transmutações. Não representa uma morte estática, um
estado definitivo, mas uma morte dinâmica, anunciadora e instrumento de uma
nova forma de vida.
Seu “sorriso” irônico e seu ar pensativo, simboliza o
conhecimento daquele que atravessou a fronteira do desconhecido, daquele que,
pela morte, penetrou no segredo do além.
De acordo com Apuleio, na antiguidade circulavam selos ou
estatuetas representando um esqueleto, que serviam para realizar operações
mágicas. Tais esqueletos eram, supostamente, a imagem de Hermes, deus psicopompo
que usufruía do privilégio de pode descer aos infernos e daí voltar.
Petrônio, em seu Satiricon, coloca um esqueleto de prata com
articulações móveis em um banquete para simbolizar a morte em geral e a
brevidade da vida. Essa visão era destinada a fazer com que os convivas
aproveitassem mais aquele momento, tendo em vista que todos os prazeres são
efêmeros.
A águia-bicéfala, símbolo onipresente no Grau 33, nas
antigas civilizações era símbolo do poder supremo. Nas tradições xamânicas da
Ásia Central, é frequentemente representada no topo da coluna do Mundo, situada
no meio das aldeias.
A origem da águia-bicéfala é, provavelmente, hitita. Foi
retomado pelos turcos seldjúcidas e, destes, foi copiado pelos europeus nas
cruzadas para chegar por esse meio indireto às armas imperiais da Prússia.
A duplicação da cabeça reforça o simbolismo da autoridade
representado pela águia, rainha das aves, mensageira da mais alta divindade uraniana
e do fogo celeste – o sol, que só ela pode ousar fixar sem queimar os olhos.
Essa característica simboliza a percepção direta da Luz intelectiva. É símbolo
da contemplação, daí a atribuição da águia a São João Evangelista.
Exprime a ascensão e a realeza e é graças a essa segunda
interpretação que se tornará símbolo romano do Império e também do
Santo-Império medieval.
Dotada de força solar e uraniana (celeste), que a potência
com que levanta vôo evidencia, a águia torna-se, em decorrência disso, o pássaro
tutelar, o iniciador e o psicopompo.
Na Idade Média, o vôo em descenso da águia era visto como
sinal da descida da luz sobre a terra.
A águia romana é essencialmente a mensageira da vontade do
alto. Na Grécia, segundo Píndaro, a águia dorme pousada no cetro de Zeus, cujas
vontades faz conhecer aos homens.
Fica bastante óbvio que, se compreendermos todos esses
símbolos dispostos no Supremo Conselho do Grau 33, entenderemos perfeitamente a
mensagem do Grau e poderemos nos esforçar por atingirmos a iniciação REAL nele.
VII. Conclusão
Não tivemos a pretensão de fazer uma análise aprofundada
sobre o tema mas, tão somente, apresentar elementos gerais concernentes ao Grau
33 do REAA.
O rito de Iniciação no Grau demandaria análises simbólicas
um pouco mais extensas e, por isso, resolvemos não comentá-lo nesse texto.
As funções e as atribuições dadas ao Grau 33 nas diversas
fases de seu desenvolvimento, passando pelo famoso “Congresso de Lausanne”
(1875), demandariam também a análise de certos desdobramentos históricos o que
tornaria o texto demasiadamente longo. Certamente não é esse o objetivo de um
texto que se pretende apenas uma visão panorâmica.
Esperamos, em outras oportunidades, analisar aspectos mais
particulares do Grau 33, quando teremos ocasião de nos estendermos mais em
considerações de caráter histórico e simbólico.
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