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domingo, 31 de julho de 2016

Uma visão panorâmica do Grau 33 do REAA

Por André Otávio Assis Muniz

I. Introdução

O Grau 33, último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito e, no Brasil, também o último Grau de outros ritos influenciados pelo Sistema Escocês (Adonhiramita e Brasileiro), é cercado de uma aura de mistério e de hiper valorização.
É comum ouvir entre maçons e não maçons a referência admirada a alguém dizendo: “- Ele é Grau 33”...
Essa admiração, ainda que justificada pela longa caminhada iniciática de alguns Irmãos portadores desse último Grau, deve ser temperada de sobriedade e razão.
Vamos dar um rápido sobrevôo sobre o Grau e, assim, tentar desfazer alguns equívocos bastante comuns em relação a ele.

II. Origem

Os primeiros documentos que citam o Grau 33 no Sistema Escocês traz a data de 1786. No entanto, é sabido que essa data não corresponde à realidade.
Tanto os chamados “Novos Institutos Secretos e Fundamentais da muito Antiga e Venerável Sociedade dos Maçons Livres Associados, ou Ordem Real e Militar da Franco-Maçonaria” quanto as “Constituições Estatutos e Regulamentos” (esses últimos datados de 1786), que dizem ter sido redigidos por Frederico II, Rei da Prússia, são falsificações.
Apesar de serem falsificações, são os documentos mais antigos e fundamentais do Rito Escocês Antigo e Aceito. Frederico II não passou nem perto deles mas, apesar disso, permanece como figura central nas alegorias do Grau.
Frederico II figura como modelo de Imperador esclarecido e iluminista . O exercício do poder foi para ele um exercício de sabedoria e de trabalho em prol dos seus governados. Sendo assim, é um tipo de arquétipo a ser seguido pelos Grandes Inspetores Gerais no governo dos Altos Graus.
Provavelmente, o Grau 33 foi criado nos Estados Unidos da América no final do século XVIII, quase início do XIX.
Há três hipóteses mais fortes para a escolha desse número:
a) Uma referência à idade de Jesus Cristo, símbolo da “caminhada da perfeição”
b) A passagem do “paralelo 33” sobre Charleston nos EUA (não é exatamente 33 o paralelo, é o  32°47’N 79°56’ mas pode ter havido uma aproximação).
c) Uma referência aos 33 membros da Guarda Escocesa que faziam a guarda pessoal do Rei da França.

III. Desenvolvimento

Originalmente, o “Rito de Perfeição de Heredom”, que seria a base do REAA, era um rito de 25 Graus.  Ao contrário do que se pensa, a maioria desses graus não tinha rituais. Eram transmitidas as lendas, as palavras e só.
O Rito de Heredom, cujo sistema já estava estabelecido na década de 1750, tinha como Grau máximo, de número 25, o de “Sublime Príncipe do Real Segredo”, "Sublime Comendador do Real Segredo".
A importância que se dá hoje à ritualística, aos interstícios etc. dos chamados “Altos Graus”, era bem pouco conhecida nos séculos XVIII e XIX.
Alguns sistemas maçônicos compactaram as lendas em um único Grau para abreviar o tempo para que se passasse o conhecimento. No Regime Escocês Retificado, por exemplo, a essência dos Altos Graus era transmitida no Grau de Mestre Escocês de Santo André, que compreende a parte central dos ensinamentos do Grau 4 ao Grau 18.  Os Graus subseqüentes, ou seja, a dita “Ordem Interna”, que compreendia os Graus de Escudeiro Noviço e o de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (CBCS, dividido em Professo e Grande Professo), têm características cavalheirescas retiradas da Estrita Observância Templária e não propriamente maçônicas.
No Rito Moderno, são nada menos que 81 Graus compactados em 5 Ordens ditas “Sapienciais” ou “de Saberdoria” (Ordres de Sagesse). Neste Rito, originalmente, não havia Altos Graus tendo em vista que era a simples transposição dos costumes da Grande Loja de Londres (dos “Modernos”) para a França.  O sistema de Altos Graus foi elaborado com base em todos os Graus praticados na França oitocentista (81 ao todo).
A Maçonaria só passaria a praticar o 3º Grau em 1724.  As primeiras Lojas em território francês seriam implantadas um ano depois, ou seja, com o Grau de Mestre recém elaborado.
Mais de 60 anos depois, por conta da necessidade de se estabelecer ordem dentro das práticas de Altos Graus nas diversas Lojas Capitulares,  se estabeleceu na França o “Grande Capítulo Geral” que, através da pena de Alexandre Roëttiers de Montaleau, estabeleceria os rituais das 5 Ordens Sapienciais do Rito Moderno.
Até que Albert Pike revisasse os rituais, já quase no final do século XIX, os “Altos Graus” do REAA também não tinham forma ritualizada.
O próprio Albert Pike recebeu, em uma única ocasião, do Grau 4 ao Grau 32, de Albert G. Mackey.
Quando foi eleito para ser membro do Supremo Conselho do Grau 33, também o recebeu por comunicação, tendo em vista que seria ele o verdadeiro autor dos primeiros rituais, propriamente ditos, do REAA.
O ritual mais antigo que se conhece do Grau 33, descoberto pelo próprio Albert Pike, traz procedimentos bastante simples em relação ao que se pratica hoje.
O REAA na época de Albert Pike era um dos menores grupamentos maçônicos existentes no mundo. Era um rito minoritário.

IV. Temática

O Grau 33 gira em torno da temática dos chamados “Graus Cavalheirescos”.
Reunido em um templo armado de vermelho com ornamentos dourados, tendo esqueletos, tíbias e crânios como adornos, o Supremo Conselho recorda o massacre de Jacques Demolay e dos templários.
A “caveira vingadora”, um esqueleto presente no lado norte da sala, portando o estandarte do Supremo Conselho em sua mão esquerda e um punhal em sua mão direita faz, justamente, alusão ao desejo de justiça para aqueles que foram vítimas das intrigas, calúnias e injustiças. Tal caveira representa, obviamente, Jacques De Molay.
A coroa imperial de Frederico II e o seu cetro encontram-se sobre a mesa do Soberano Grande Comendador que, aliás, representa o próprio Frederico. Seu auxiliar ou vigilante, se senta no Ocidente e representa Louis de Bourbon, que teria, na lenda, auxiliado a Frederico II na reforma do Rito de Perfeição de Heredom.
Em outras palavras, a coroa e o cetro representam ao poder de Frederico II que teria se transmitido aos Soberanos Grandes Comendadores para que governassem o REAA.
Coroa e cetro são símbolos de poder, de mando e de governo. Fica óbvia aqui a pretensão de “governo” sobre toda a chamada “Maçonaria Escocesa”.
Onze luzes iluminam a sala, recordando a data maçônica da extinção da Ordem do Templo, ou seja 5312 (1312 + 4000).
As divisas “Ordo Ab Chao”(Do caos a ordem) e “Deus Meumque Jus” (Deus e o meu direito), colocadas na porta do Supremo Conselho relembram :
- A ordenação e o governo dos diversos graus (que sem um centro de comando estariam mergulhados no caos e desordem);
- A ordem social dada pela sabedoria e pela moral, sem os quais a sociedade mergulharia no caos;
- Os princípios de lei natural (jusnaturalismo), ou seja, aqueles dados por uma potência superior e transcendente da natureza, representada no Ocidente cristão pela figura de ‘Deus’;
- Os princípios da lei consuetudinária e das normas positivas reguladoras do Direito (juspositivismo) que regem as sociedades, representadas aqui pelo “meumque jus”.
Os rituais variam quanto à presença de um transparente com um triângulo tendo a letra hebraica “yod” ao centro ou com o numeral 33 em seu lugar.
Os membros do Supremo Conselho são descritos como “vestidos de negro” e “armados de espada” o que se explicaria pelo luto provocado pela morte dos templários, denominados de “nossos Irmãos” e a vingança contra a Intolerância, o Fanatismo e a Ignorância que os condenaram aos tormentos e à morte.
A temática da “Justiça e Equidade”, que é trabalhada mais extensamente no Grau 31, é retomada de maneira “un passant” no Grau 33. A presença divina no Supremo Conselho, representada pelo transparente, não é temida pois, simbolicamente, os Grandes Inspetores Gerais agem com retidão e justiça, dentro das leis humanas e divinas.
O símbolo mais universalmente conhecido do Grau 33 é a águia bicéfala, segurando uma espada entre as garras e tendo a coroa imperial entre as duas cabeças.
Esse símbolo é oriundo, no caso do REAA, de mais uma referência à Prússia. Trata-se da águia negra bicéfala da Prússia, com algumas modificações.
A águia prussiana tem nas garras um globo encimado por uma cruz e uma espada. A águia do Grau 33 agarra apenas uma espada com ambas as garras e, por vezes, nessa espada, há um filactério com o dístico “Deus Meumque Jus”.
Ao longo do tempo, com a imensa “criatividade” de alguns dirigentes do REAA, a águia foi se transformando e ganhando novas (e cada vez mais forçadas) características e interpretações.

V. Inovações (e deformações)

Se compararmos diversos rituais do Grau 33 veremos que, em pouco tempo, foram sendo introduzidas mudanças e “novidades” aqui e ali.
Uns falam em triângulo com o vértice para baixo, outros falam em vértice para cima. Uns dão importância a que haja uma estrela de nove pontas, constituída de 3 triângulos eqüiláteros, com cada uma das letras da palavra “Sapientia” nas mesmas. Outros nem citam essa estrela.
Uns rituais falam no transparente com o triângulo (com a ponta para baixo ou para cima) no meio de um resplendor com o “yod” , ao qual se dá um papel importante por ser o “nome de Deus”. Outros falam do numeral 33 e não citam o “nome de Deus”.
Nos EUA, a águia bicéfala negra prussiana virou uma águia americana de duas cabeças com a coroa imperial (?) por cima.
Além disso, há algum tempo, resolveram introduzir “ramos” nos bicos da águia, como se ela fosse um tipo de “pomba da paz”.
No Brasil, há alguns rituais que afirmam que as duas cabeças representam “Ordem e Progresso”...Ou seja, o ritual do Grau 33 toma contornos positivistas e Comte se torna um novo “ideólogo” para os Supremos Conselhos.
Outros rituais foram sendo modificados para se “ajustarem” aos hábitos de uma ou outra Obediência Maçônica. Um “figurão” qualquer inventava uma inovação e lá se iam a modificar todos os rituais.
Em fotos bem antigas, de meados do século XIX, oriundas do Supremo Conselho de Portugal, vemos os Grandes Inspetores Gerais vestindo o avental e o colar, ou a faixa e o avental. Em fotos do começo dos século XX ou do final do XIX, o avental some e dá lugar somente à faixa ou ao colar.
Os aventais se tornam peças de museu e a arrogância de dizer que “não é preciso mais avental porque o trabalho iniciático já está acabado” se torna uma justificativa comum.
Posteriormente inventaram o uso de uma “faixa abdominal”, um tipo de cinta com um lacinho ou uma fita de premiação com um rosetão com fitinhas dependuradas. Tal adorno DEVERIA ser usado somente se o Grande Inspetor Geral estivesse revestido de túnica vermelha, coroa e capa. Nunca sobre o paletó...  
Originalmente, o Soberano Grande Comendador se revestia de uma túnica de cetim carmesim, bordada e debruada de branco e a coroa Imperial era vestida por ele. Hoje, a coroa fica sobre a mesa, assim como a espada que ele deveria portar.
O barrete com a “Cruz de Lorena” é mais um acréscimo. Ele já teve a águia bicéfala em vez da referida cruz e ganha cores diferentes em acordo com a “criatividade” dos chefes dos Supremos Conselhos. Outras cruzes, cada vez mais complexas e cheias de traves, vão modificando os paramentos que, aos poucos, parecem uniformes de bandas marciais ou uniformes dos stewards de hotel...
Um capítulo à parte são as patentes do Grau.
De documentos bastante sóbrios que continham apenas os elementos essenciais indicados nas leis do REAA, as patentes ou diplomas do Grau 33 foram se tornando verdadeiras “overdoses visuais”, com desenhos ornamentais de cores fortes, faixas impressas, águias carnavalescas e um mau gosto à toda prova.
Se chegar ao Grau 33 deveria ser uma forma de obter uma visão completa do sistema ritualístico do REAA, passou a ser um tipo de “formatura” às avessas, onde os “professores” que lá estão sem saber grande coisa, vão modificando as características do sistema até que ninguém entenda mais porque os elementos simbólicos e alegóricos devem estar nos graus.
Como se não bastasse tudo isso, ainda há a mania de secretismo em torno do Grau. Em vez de se dar a oportunidade para que pessoas sérias, capacitadas e interessadas pesquisem sobre o Grau  em suas diversas versões, publiquem suas pesquisas e , dessa forma, sejam incrementadas as informações históricas e simbólicas que há sobre ele possibilitando uma maior preservação dos seus elementos essenciais, há dirigentes que ainda não se deram conta que desestimular a pesquisa, no século da Informação, da internet, da conectividade móvel e imediata, não vai “preservar” qualquer “segredos”, que, aliás, já são de domínio público há muito tempo, mas apenas fomentar a desinformação e a invencionice.
Graças a essa mentalidade, que privilegia a manutenção de um “fechamento” epistemológico, as informações acabam viciadas em um mesmo meio, com os membros de um ou outro Supremo Conselho acreditando que só existe uma versão do Grau, a sua própria...E pior, acreditando que, assim, estão “preservando” alguma coisa.
A cada mudança e a cada invenção introduzida nos rituais por indivíduos ineptos que só tem poder burocrático mas nenhum conhecimento efetivo, um pedaço dos rituais vão se perdendo. Dessa maneira, cada geração de novos Grandes Inspetores Gerais vai recebendo uma visão mais mutilada do Grau 33. Sem que hajam estudos sérios, análises comparativas etc., não há possibilidade de preservação coletiva dos elementos mais autênticos do Grau.
Tal situação tende a ser enormemente agravada quando os portadores do Grau se sentem tão “elevados” que não precisam mais estudar...Infelizmente essa é uma situação bem recorrente.

VI. Grau Administrativo?

Há um consenso quase geral de que o Grau 33 seria um grau puramente administrativo.
Apesar de haver elementos claramente voltados ao “governo” da chamada “Alta Maçonaria Escocesa”, ou seja, elementos administrativos,  o grau traz também elementos morais e simbólicos evidentes.
O binômio “Direito Natural” ou “divino” e “Direito Positivo” ou “social” é tratado de maneira bastante equilibrada através da correta compreensão dos dísticos.
A busca constante pela justiça e o combate à Ignorância, ao Fanatismo e à Intolerância dão o tom da “vingança”. Em outras palavras, não se trata de uma “vingança cega”, mas sim de uma vingança temperada pela razão, pelo pensamento e pelos valores morais defendidos pela Maçonaria.
A cor vermelha, cor do REAA, que faz referência ao sangue derramado em prol da verdade, cor da cruz pátea dos templários, à completude da Grande Obra Alquímica – a ‘Obra em Vermelho’ (a rubedo), também é símbolo do “fogo interior” da Sabedoria, da Ciência e do Conhecimento Esotérico interdito aos não iniciados.
O vermelho também incita à ação, é a imagem do ardor que deve animar aos Grandes Inspetores Gerais a uma ação transformadora, tanto interna quanto externamente.
Os imperadores bizantinos se vestiam inteiramente de vermelho e existiam leis que proibiam o uso de esmalte rubro nos brasões, pois era cor exclusiva do Imperador. Assim, indica também poder.
Atingir a “Obra em Vermelho” (rubedo) é o acesso aos “Grandes Mistérios”.
Sobre o vermelho estão representados ossos e crânios.
Os ossos são símbolo de firmeza, de força e de virtude. Também representam o “retorno” e suas possibilidades. No simbolismo bíblico, a revivificação dos “ossos secos” indica a possibilidade de uma restauração. De fato, em algumas culturas, a “essência da vida” encontra-se no tutano. O núcleo dos ossos seria, dessa maneira o “germe” dessa restauração.
O crânio é símbolo do “centro espiritual”, é a “abóbada celeste” do corpo humano. Era utilizado pelos alquimistas em suas operações de transmutação.
Na Maçonaria se reveste do simbolismo do ciclo iniciático: a morte corporal, prelúdio do renascimento em um nível de vida superior.
A presença da coroa, ainda que, em um nível mais imediato, invoque a memória de Frederico II, também simboliza valores que sobrepujam à cabeça, cimo do corpo humano, ou seja, assinala um caráter transcendente de uma realização bem sucedida. Ela une o “coroado” ao que está acima dele e também ao que está embaixo.
A coroa também simboliza dignidade, poder, realeza, o acesso a níveis superiores.
No simbolismo cabalístico, o ápice da “Árvore da Vida” é ‘kether’, ou seja, “coroa”. Exprime o Absoluto, o infinito e sem limitações.
As coroas divinas ou régias eram objeto de culto, unicamente manipuladas por iniciados nos mistérios, eram consideradas seres carregados de poder.
O cetro simboliza também a força e a autoridade, é um modelo reduzido de um grande bastão de comando. É uma “vertical absoluta” que simboliza o homem enquanto tal,  a superioridade desse homem feito chefe e o poder recebido de cima.
É o modelo reduzido da coluna do mundo, o eixo em torno do qual se organiza uma coletividade ou sociedade.
Na Grécia Antiga, o certo simbolizava o direito de fazer justiça e, por isso, pertencia à panóplia das insígnias consulares.
O esqueleto presente no Supremo Conselho é símbolo das operações que precedem as transmutações. Não representa uma morte estática, um estado definitivo, mas uma morte dinâmica, anunciadora e instrumento de uma nova forma de vida.
Seu “sorriso” irônico e seu ar pensativo, simboliza o conhecimento daquele que atravessou a fronteira do desconhecido, daquele que, pela morte, penetrou no segredo do além.
De acordo com Apuleio, na antiguidade circulavam selos ou estatuetas representando um esqueleto, que serviam para realizar operações mágicas. Tais esqueletos eram, supostamente, a imagem de Hermes, deus psicopompo que usufruía do privilégio de pode descer aos infernos e daí voltar.
Petrônio, em seu Satiricon, coloca um esqueleto de prata com articulações móveis em um banquete para simbolizar a morte em geral e a brevidade da vida. Essa visão era destinada a fazer com que os convivas aproveitassem mais aquele momento, tendo em vista que todos os prazeres são efêmeros.
A águia-bicéfala, símbolo onipresente no Grau 33, nas antigas civilizações era símbolo do poder supremo. Nas tradições xamânicas da Ásia Central, é frequentemente representada no topo da coluna do Mundo, situada no meio das aldeias.
A origem da águia-bicéfala é, provavelmente, hitita. Foi retomado pelos turcos seldjúcidas e, destes, foi copiado pelos europeus nas cruzadas para chegar por esse meio indireto às armas imperiais da Prússia.
A duplicação da cabeça reforça o simbolismo da autoridade representado pela águia, rainha das aves, mensageira da mais alta divindade uraniana e do fogo celeste – o sol, que só ela pode ousar fixar sem queimar os olhos. Essa característica simboliza a percepção direta da Luz intelectiva. É símbolo da contemplação, daí a atribuição da águia a São João Evangelista.
Exprime a ascensão e a realeza e é graças a essa segunda interpretação que se tornará símbolo romano do Império e também do Santo-Império medieval.
Dotada de força solar e uraniana (celeste), que a potência com que levanta vôo evidencia, a águia torna-se, em decorrência disso, o pássaro tutelar, o iniciador e o psicopompo.
Na Idade Média, o vôo em descenso da águia era visto como sinal da descida da luz sobre a terra.
A águia romana é essencialmente a mensageira da vontade do alto. Na Grécia, segundo Píndaro, a águia dorme pousada no cetro de Zeus, cujas vontades faz conhecer aos homens.
Fica bastante óbvio que, se compreendermos todos esses símbolos dispostos no Supremo Conselho do Grau 33, entenderemos perfeitamente a mensagem do Grau e poderemos nos esforçar por atingirmos a iniciação REAL nele.

VII. Conclusão

Não tivemos a pretensão de fazer uma análise aprofundada sobre o tema mas, tão somente, apresentar elementos gerais concernentes ao Grau 33 do REAA.
O rito de Iniciação no Grau demandaria análises simbólicas um pouco mais extensas e, por isso, resolvemos não comentá-lo nesse texto.
As funções e as atribuições dadas ao Grau 33 nas diversas fases de seu desenvolvimento, passando pelo famoso “Congresso de Lausanne” (1875), demandariam também a análise de certos desdobramentos históricos o que tornaria o texto demasiadamente longo. Certamente não é esse o objetivo de um texto que se pretende apenas uma visão panorâmica.
Esperamos, em outras oportunidades, analisar aspectos mais particulares do Grau 33, quando teremos ocasião de nos estendermos mais em considerações de caráter histórico e simbólico.

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