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domingo, 31 de julho de 2016

Avarna e Ativarna no século XXI

Por André Otávio Assis Muniz

Segundo a tradição Indo-Européia, podemos classificar as pessoas de acordo com sua casta, ou seja, sua "varna".
A idéia tradicional de "varna" não é, como muitos acreditam, baseada no nascimento em uma família de tal varna. Essa forma de classificar a casta é mais recente e foi chamada de "jati", ou seja, posição assegurada pelo nascimento.
A idéia de "jati", ou seja, de casta por nascimento, foi combatida por grandes Iluminados e Sábios que diziam ser essa uma inovação contrária ao verdadeiro conceito de casta.
O Buda Shakyamuni nunca foi contra as castas em si, mas sim contra a idéia de casta por nascimento (jati).
De acordo com os conceitos tradicionais, podem-se classificar as castas da seguinte forma:

Brahmana: Sacerdote. Tem vocação para o Sagrado, para a execução dos ritos, para o estudo, para a contemplação, para o ensino metafísico, para a vida mais puramente intelectual, tendo em vista que a intelectualidade pura e a vida espiritual não são coisas diferentes. O Brahmana se dedica às atividades mais elevadas, à transmissão da Tradição, das Escrituras Sagradas, da línguas sagradas etc.
Kshatriya: Guerreiro. Tem vocação para a manutenção da ordem social, para a organização, para os estudos com finalidades práticas que possam implementar a ordem ensinada e transmitida pelos Brahmana. Seu papel é o de garantir a paz e a harmonia e fazer cumprir a justiça para que os Brahmana possam transmitir a Tradição, instruir, fazer a ponte da sociedade humana com o sagrado etc. O chefe dos Kshatriya é o rei. Sua missão só é legitimada através da sagração dos Brahmana e deve seguir, escrupulosamente, os ensinamentos transmitidos por eles. A legitimação do Kshatriya está ligada, diretamente, ao seu papel de defesa dos ensinamentos do Alto.
Vaishya: Burgueses. São a base econômica da sociedade. Sua vocação está ligada ao comércio, à produção de bens, de alimentos, de tudo aquilo que se encontra ligado ao bem estar material da sociedade. São os responsáveis pela produção de riqueza e pelo equilíbrio econômico da sociedade.
Cada uma dessas funções é determinada por uma legítima vocação, pela tendência clara e indubitável que um indivíduo tem para com uma determinada atividade.
Abaixo das castas se encontram os "avarna", ou seja, os "sem casta", aqueles cuja vocação é para o nada, para uma vida desprovida de função, para a inação, para a vagabundagem pura e simples. O "sem casta" desempenha funções por simples necessidade de sobrevivência e não se importa com o fato dessas atividades serem desonestas, anti-éticas ou contrárias ao que é ensinado pela ordem tradicional.
No mundo moderno, um mundo profundamente doentio, as castas são desprezadas e os indivíduos são lançados às atividades sem que, necessariamente, tenham qualquer identificação ou vocação para com elas. Assim, em vez de castas, temos "classes" onde pessoas completamente diferentes são colocadas de acordo com a quantidade de dinheiro que possam juntar, independentemente da sublimidade ou importância real da função que desempenhem.
Em uma inversão total de valores, as "altas classes" são, de maneira geral, compostas por "avarna", ou seja, pessoas sem uma vocação específica que, de alguma maneira, jogando-se aqui e ali em busca de dinheiro, conseguiram sucesso econômico.
Os Brahmana, nesse contexto, são tomados por "sonhadores", "inúteis", "teóricos", "beatos" etc.
Os verdadeiros Kshatriya são colocados à margem das instituições das quais deveriam estar à frente por não entrarem "no esquema" imposto pelos avarna.
Os Vaishiyas frequentemente têm que lidar com concorrência desleal, métodos industriais pouco honestos, manipulação, formação de monopólios que os esmagam etc.
É, definitivamente, o reino dos avarna.
Acima de todas as castas e renunciando à sua função social, estão os "ativarna", os que estão acima das castas. Esses, percebendo a transitoriedade de tudo, renunciam às leis sociais e seguem a busca pelo Absoluto, sem se voltarem para os que desejam viver de acordo com a sociedade. Frequentemente, os "ativarna" saem da casta dos Brahmana e dos Kshatriya.
No mundo moderno, os ativarna seguem anônimos, em acordo com sua própria "Lei Interior".

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