Por André Otávio Assis Muniz
Alguns Irmãos nos perguntam sobre a questão da regularidade de origem do Rito Moderno no Brasil e sobre uma pretensa "regularidade" do Rito que teria sido conferida "via França" por uma misteriosa carta patente da qual seria detentor um único Supremo Conselho no Brasil (e até no mundo, num delírio de megalomania).
Alguns Irmãos nos perguntam sobre a questão da regularidade de origem do Rito Moderno no Brasil e sobre uma pretensa "regularidade" do Rito que teria sido conferida "via França" por uma misteriosa carta patente da qual seria detentor um único Supremo Conselho no Brasil (e até no mundo, num delírio de megalomania).
Aliás, ao que parece, até Irmãos com altos cargos dentro da administração das
Potências Simbólicas reproduzem essa retumbante bobagem, demonstrando que fitão
não quer dizer, necessariamente, conhecimento. Vamos esclarecer de uma vez por todas essa conversa.
1) A "patente" concedida ao Brasil pelo Grande Oriente da França foi
para regularidade de origem da fundação do GRANDE ORIENTE DO BRASIL EM 1822.
Naquele tempo, não havia separação formal entre Graus Simbólicos e Altos Graus.
Isso, na prática, queria dizer que o Grande Oriente poderia praticar todos os
Graus de todos os Ritos que bem entendesse. Basta ler o teor das patentes conferidas
no período pelo Grande Oriente da França;
2) A idéia de um "Supremo
Conselho" detentor do poder de conferir patentes (antes o poder era dado a
um indivíduo, como no caso da Patente de Grasse Tilly ou a de Martinez de
Pasqually de La Tour), como garante de regularidade de um rito, só nasce com o
Rito Escocês Antigo e Aceito nos EUA. Essa idéia só será completamente
amadurecida depois da chamada "Convenção de Lausanne" em 1875, não
tendo absolutamente NADA A VER COM OS RITOS FRANCESES ANTERIORES A ISSO. Há
exemplos abundantes no século XVIII de ritos e brevês criados por um único
indivíduo e de ritos que também funcionam sem papel nenhum de autorização;
3)
No Brasil, dentro do GOB, até 1951, não havia separação real entre Graus
Simbólicos e Filosóficos. As chamadas "Oficinas Chefes" eram meras
instâncias de administração e burocracia que respondiam ao Grão Mestre do GOB.
Aliás, o grande cisma que ocasionou a criação das Grandes Lojas Estaduais se
deveu a uma controvérsia envolvendo o REAA, que, como dissemos, exigia a
concessão de uma patente separada para que houvesse legitimidade em um Supremo
Conselho. Isso se tornara problemático justamente pelo caráter
"livre" dos ritos Moderno e Adonhiramita, controlados pelo Grão
Mestre do GOB sem necessidade de qualquer patente, praticados juntamente com o
REAA na jurisdição. Na prática isso queria dizer que, enquanto o Rito Moderno e
o Rito Adonhiramita eram jurisdicionados ao GOB, o REAA, a partir do Grau 4 era
jurisdicionado a um Supremo Conselho que deveria ser legitimado pelo Supremo
Conselho dos EUA. A solução encontrada foi nomear ao Grão Mestre também como
Soberano Grande Inspetor Geral do REAA. O imbróglio se deu quando quiseram
desmembrar os dois cargos;
4) Trocando em miúdos tudo isso, estamos afirmando que buscar aplicar o padrão
de patentes do REAA, emitidas por um Supremo Conselho "pai" (o de
Charleston no caso do REAA) ao Rito Moderno do século XIX, é demonstração
cristalina de que quem fala essa bobagem não entende bulhufas do assunto;
5) Ainda que houvesse uma patente específica dada pelo Grande Oriente da França
(e não há) para a prática do Rito Moderno no âmbito do GOB, esta seria
completamente nula desde 1877, quando aquele Grande Oriente Europeu rompeu com
as demais potências regulares, dentre elas, obviamente, o GOB;
6) Na França, a idéia de que o Grande Oriente da França seria o detentor de uma
suposta prerrogativa de legitimar a prática do Rito Moderno foi mera imitação,
macaquice do padrão do REAA. Aliás, por um longo período, desde 1804, a França
fez uma enorme mistureba entre o Rito Moderno e o REAA;
7) Explicando tudo mais bem explicadinho, em 1955 simplesmente separaram a
administração do Rito Moderno em outro grupo, administrado por maçons
portadores do Grau 7. O GOB só administraria o 1,2 e 3. Do Grau 4 ao 7, esse
grupo de maçons praticantes do Rito Moderno iria passar a administrar
efetivamente. Ou seja, o Grande Capítulo não era mais um departamento do GOB.
Não tinha patente, não tinha carta misteriosa, não tinha administração
galáctica ou interplanetária. Só separação da administração que antes era um
departamento do GOB;
8) Depois da separação, EXTINGUIU-SE COMPLETAMENTE A
POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO POR PARTE DA POTÊNCIA SIMBÓLICA AOS GRAUS
SUPERIORES. Cada um no seu quadrado.
9) As cisões, brigas, gritarias etc., ocorridas dentro dessa nova instituição
SEPARADA, não tinham nada a ver com GOB, com patente, com França ou com
"regularidade de origem", uma vez que saiu todo mundo do mesmíssimo
lugar;
10) Se houver 20 cisões oriundas desse primeiro grupo, a origem da regularidade
é a mesma, ou seja, o antigo Grande Capítulo dos Ritos Azuis que era um
departamento do GOB;
11) Quando alguém falar em patente ou em reconhecimento universal, ou em uma
"regularidade" vinda da França ou do Reino de Etérnia (onde vivia o
He-Man) através de uma Carta que nunca ninguém viu, peça pra ver. Se não
puderem mostrar, você já sabe a razão...
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