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sábado, 30 de julho de 2016

A lenda da patente

Por André Otávio Assis Muniz

Alguns Irmãos nos perguntam sobre a questão da regularidade de origem do Rito Moderno no Brasil e sobre uma pretensa "regularidade" do Rito que teria sido conferida "via França" por uma misteriosa carta patente da qual seria detentor um único Supremo Conselho no Brasil (e até no mundo, num delírio de megalomania).

Aliás, ao que parece, até Irmãos com altos cargos dentro da administração das Potências Simbólicas reproduzem essa retumbante bobagem, demonstrando que fitão não quer dizer, necessariamente, conhecimento. Vamos esclarecer de uma vez por todas essa conversa.

1) A "patente" concedida ao Brasil pelo Grande Oriente da França foi para regularidade de origem da fundação do GRANDE ORIENTE DO BRASIL EM 1822. Naquele tempo, não havia separação formal entre Graus Simbólicos e Altos Graus. Isso, na prática, queria dizer que o Grande Oriente poderia praticar todos os Graus de todos os Ritos que bem entendesse. Basta ler o teor das patentes conferidas no período pelo Grande Oriente da França; 
2) A idéia de um "Supremo Conselho" detentor do poder de conferir patentes (antes o poder era dado a um indivíduo, como no caso da Patente de Grasse Tilly ou a de Martinez de Pasqually de La Tour), como garante de regularidade de um rito, só nasce com o Rito Escocês Antigo e Aceito nos EUA. Essa idéia só será completamente amadurecida depois da chamada "Convenção de Lausanne" em 1875, não tendo absolutamente NADA A VER COM OS RITOS FRANCESES ANTERIORES A ISSO. Há exemplos abundantes no século XVIII de ritos e brevês criados por um único indivíduo e de ritos que também funcionam sem papel nenhum de autorização; 
3) No Brasil, dentro do GOB, até 1951, não havia separação real entre Graus Simbólicos e Filosóficos. As chamadas "Oficinas Chefes" eram meras instâncias de administração e burocracia que respondiam ao Grão Mestre do GOB. Aliás, o grande cisma que ocasionou a criação das Grandes Lojas Estaduais se deveu a uma controvérsia envolvendo o REAA, que, como dissemos, exigia a concessão de uma patente separada para que houvesse legitimidade em um Supremo Conselho. Isso se tornara problemático justamente pelo caráter "livre" dos ritos Moderno e Adonhiramita, controlados pelo Grão Mestre do GOB sem necessidade de qualquer patente, praticados juntamente com o REAA na jurisdição. Na prática isso queria dizer que, enquanto o Rito Moderno e o Rito Adonhiramita eram jurisdicionados ao GOB, o REAA, a partir do Grau 4 era jurisdicionado a um Supremo Conselho que deveria ser legitimado pelo Supremo Conselho dos EUA. A solução encontrada foi nomear ao Grão Mestre também como Soberano Grande Inspetor Geral do REAA. O imbróglio se deu quando quiseram desmembrar os dois cargos;
4) Trocando em miúdos tudo isso, estamos afirmando que buscar aplicar o padrão de patentes do REAA, emitidas por um Supremo Conselho "pai" (o de Charleston no caso do REAA) ao Rito Moderno do século XIX, é demonstração cristalina de que quem fala essa bobagem não entende bulhufas do assunto;
5) Ainda que houvesse uma patente específica dada pelo Grande Oriente da França (e não há) para a prática do Rito Moderno no âmbito do GOB, esta seria completamente nula desde 1877, quando aquele Grande Oriente Europeu rompeu com as demais potências regulares, dentre elas, obviamente, o GOB;
6) Na França, a idéia de que o Grande Oriente da França seria o detentor de uma suposta prerrogativa de legitimar a prática do Rito Moderno foi mera imitação, macaquice do padrão do REAA. Aliás, por um longo período, desde 1804, a França fez uma enorme mistureba entre o Rito Moderno e o REAA;
7) Explicando tudo mais bem explicadinho, em 1955 simplesmente separaram a administração do Rito Moderno em outro grupo, administrado por maçons portadores do Grau 7. O GOB só administraria o 1,2 e 3. Do Grau 4 ao 7, esse grupo de maçons praticantes do Rito Moderno iria passar a administrar efetivamente. Ou seja, o Grande Capítulo não era mais um departamento do GOB. Não tinha patente, não tinha carta misteriosa, não tinha administração galáctica ou interplanetária. Só separação da administração que antes era um departamento do GOB; 
8) Depois da separação, EXTINGUIU-SE COMPLETAMENTE A POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO POR PARTE DA POTÊNCIA SIMBÓLICA AOS GRAUS SUPERIORES. Cada um no seu quadrado.
9) As cisões, brigas, gritarias etc., ocorridas dentro dessa nova instituição SEPARADA, não tinham nada a ver com GOB, com patente, com França ou com "regularidade de origem", uma vez que saiu todo mundo do mesmíssimo lugar;
10) Se houver 20 cisões oriundas desse primeiro grupo, a origem da regularidade é a mesma, ou seja, o antigo Grande Capítulo dos Ritos Azuis que era um departamento do GOB;
11) Quando alguém falar em patente ou em reconhecimento universal, ou em uma "regularidade" vinda da França ou do Reino de Etérnia (onde vivia o He-Man) através de uma Carta que nunca ninguém viu, peça pra ver. Se não puderem mostrar, você já sabe a razão...

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